terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Sobre a neurose


Como é que as pessoas se tornam neuróticas?

Krishnamurti — Como é que sabemos que elas são neuróticas? Uma pergunta muito séria, por isso reparemos bem. Como é que sei que elas são neuróticas? Serei também neurótico por reconhecer que elas o são?

Interlocutor — Sim.

Krishnamurti — Não diga que sim tão rapidamente! Vamos olhar bem para isto, vamos escutá-lo, Que quer dizer neurótico? Ser um pouco estranho, confuso, sem lucidez, ligeiramente desequilibrado. E infelizmente quase todos somos ligeiramente desequilibrados. Não? Não tem bem a certeza... Não somos desequilibrados quando somos Cristãos, Hindus, Budistas, Comunistas, etc.? Não somos neuróticos quando nos fechamos nos nossos problemas, erguendo um muro à nossa volta porque pensamos que somos muito melhores do que outro qualquer? Não somos desequilibrados quando a nossa vida está cheia de resistência — o «eu» e «tu», o «nós» e «eles» e todas as outras divisões? Não somos neuróticos no emprego quando queremos passar à frente do outro?

Como é então que a pessoa se torna neurótica? Será a sociedade que a faz neurótica? Essa é a explicação mais simples — o meu pai, a minha mãe, o meu vizinho, o governo, o exército, toda a gente me faz neurótico. São todos responsáveis pelo meu desequilíbrio. E quando vou ao psiquiatra em busca de ajuda, pobre homem, ele também é neurótico, como eu... Não riam, por favor. É isto exatamente o que está a acontecer no mundo.

Ora por que é que me torno neurótico? Tudo no mundo, tal como existe agora, a sociedade, a família, os pais, os filhos — não têm amor. Pensam que haveria guerras se tivessem amor? Julgam que haveria governos que consideram perfeitamente certo que as pessoas sejam mortas? Uma sociedade assim nunca existiria se as mães e os pais amassem realmente os filhos, se quisessem o seu bem, se olhassem por eles e os ensinassem a ser bondosos, a viver e a amar.

Essas são as pressões e as exigências exteriores que dão origem a esta sociedade neurótica; há também impulsos e as pressões dentro de nós mesmos, a violência inata que herdamos do passado — tudo isso ajuda a criar esta neurose, este desequilíbrio. O fato é portanto este — somos quase todos ligeiramente desequilibrados, ou mais do que isso, e não adianta culpar seja quem for. O fato é que psiquicamente não se é equilibrado — mentalmente, sexualmente, de todas as maneiras, estamos desequilibrados. Mas o importante é a pessoa tomar consciência disso, saber que não é equilibrada, não «como» tornar-se equilibrada. Uma mente neurótica não pode fazer-se equilibrada, mas se não tiver chegado ao extremo da neurose, se ainda conservar algum equilíbrio, é capaz de se observar a si própria. A pessoa pode então estar atenta ao que faz, ao que diz, ao que pensa, à maneira como anda, como está sentada, como come, observando constantemente, mas sem corrigir.

Se se observar dessa maneira sem qualquer escolha, então, dessa observação profunda surgirá um ser humano são e equilibrado; então não mais se será neurótico. Uma mente equilibrada é sábia, e não moldada por juízo e opiniões.

Krishnamurti - Conferência na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz

– O Mundo Somos Nós – Ed. Horizonte Pedagógico

_______________________________________________________

Participe do nosso grupo no Facebook

Participe do nosso grupo no Facebook
Grupo Jiddu Krishnamurti
Related Posts with Thumbnails

Vídeos para nossa luz interior

This div will be replaced