sábado, 29 de janeiro de 2011

Os sonhos são desordem

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O bosque dormia; o serpenteante atalho que o atravessava estava escuro e não se percebia o mais leve movimento. O prolongado crepúsculo estava desaparecendo nesses instantes, e o silêncio da noite cobria a terra. A pequena correnteza, tão por um fio em seu gotejar durante o dia, ia cedendo à quietude da noite que se aproximava. Através das pequenas aberturas entre as folhas se divisavam as estrelas, brilhantes e muito próximas. A escuridão da noite é tão necessária como a luz do dia. As acolhedoras árvores, recolhidas agora em si mesmas, se mostravam distantes; se encontravam aí, rodeando a ele, porém afastadas e inacessíveis; dormiam e não havia que molestá-las. Nesta quieta escuridão, havia um crescer e um florescer que reunia forças para se enfrentar à vibrante vitalidade do dia.

À noite e o dia são essenciais, ambos dão vida e energia a todas as coisas vivas. Só o homem a dissipa. O dormir é muito importante; um dormir sem demasiado sono nem agitação. Enquanto dormimos ocorrem muitas coisas, tanto no organismo físico como no cérebro (a mente é o cérebro); ambos é uma só coisa, um movimento único. Para esta estrutura total, o dormir é absolutamente essencial. Durante o sono advém a ordem, o ajuste das funções e se originam percepções mais profundas; quanto mais quieto está o cérebro, tanto mais profundo é o discernimento. O cérebro necessita segurança e ordem para funcionar harmoniosamente, sem atrito algum. A noite se encarrega disso, e durante o dormir tranqüilo há movimentos, há estados que o pensamento jamais poderá alcançar. Os sonhos são desordem; deformam a percepção total. Enquanto dorme a mente se rejuvenesce a si mesma.

Porém, ao se dizer que os sonhos são necessários, que se não sonhar se pode enlouquecer, afirma-se que ajudam e são reveladores. Estão os sonhos superficiais, que não tem muito significado, estão os sonhos significativos e também existe o estado sem sonhos em absoluto. Os sonhos são em suas diferentes formas e símbolos a expressão de nossa vida cotidiana. Se não há harmonia, se não há ordem em nossa vida cotidiana de relação, então os sonhos são uma continuação dessa desordem. Enquanto dormimos, o cérebro trata de produzir essa ordem a partir desta confusa contradição. Nesta luta constante entre a ordem e a desordem, o cérebro se desgasta. Porém, ele deve ter segurança e ordem para poder funcionar, e assim é como chegam a serem necessárias as crenças, as ideologias e demais conceitos neuróticos. Converter a noite em dia é um desses hábitos neuróticos. A insensatez que se desenvolve no mundo moderno depois do anoitecer, é um escape da rotina e o tédio do dia.

A total percepção da desordem na relação tanto privada como pública, pessoal ou distante, o dar-se conta, sem opção alguma, do ‘que é’ durante as horas conscientes do dia, produz ordem onde imperava a desordem. Então o cérebro não necessita buscar por ordem enquanto dormimos. Os sonhos são só superficiais, sem significação. A ordem na totalidade da consciência, não só no nível ‘consciente’, se produz quando cessa completamente a divisão entre o observador e o observado. Transcende-se ‘o que é’ quando o observador que é o passado, que é tempo chega a seu fim. O presente ativo, ‘o que é’, não se acha escravo do tempo, como é o observador.

Só quando a mente o cérebro e o organismo tem esta ordem total durante o sono, que há uma percepção profunda desse estado inexpressável em palavras, desse movimento intemporal. Isto não é nenhum sonho fantástico, alguma válvula de escape. É a meditação em sua expressão máxima e completa. Tanto faz se o cérebro está ativo, desperto ou dormido, porém o constante conflito entre a ordem e a desordem, desgasta ao cérebro. A ordem é a mais alta forma de virtude, sensibilidade, inteligência. Quando existe esta grande beleza da ordem, da harmonia, o cérebro não está incessantemente ativo; certas partes se encarregam da memória, porém essa é uma parte muito pequena; o resto do cérebro se acha livre do ruído da experiência. Dessa liberdade é a ordem, a harmonia do silêncio. Esta liberdade e o ruído da memória se movem juntos; a ação deste movimento é inteligência. A meditação consiste em estar livre do conhecido e, não obstante, operar no campo do conhecido. Não há um ‘eu’ como operador. Esta meditação se desenvolve tanto no sonho como na vigília.

O atalho saía lentamente do bosque e, de horizonte a horizonte, o céu se encontrava repleto de estrelas. Nos campos nada se movia.

Krishnamurti - 10 de Outubro de 1973

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A busca por segurança

Corporação
Em todo o mundo, os seres humanos estão sempre buscando segurança, tanto física, quanto psicológica. A segurança física é negada quando a segurança psicológica – que realmente não existe – é solicitada em várias formas de ilusão e na divisão causada pelas crenças, dogmas, sanções religiosas e coisas assim. Enquanto houver essas divisões psicológicas, haverá, inevitavelmente, a divisão física com todos os seus conflitos, suas guerras, o sofrimento, a tragédia e a desumanidade entre os homens.

Krishnamurti, The Wholeness of Life, p150

Ilusões de segurança


O homem cego ao perigo é um tolo; há algo de errado com ele. Nós, entretanto, não vemos o perigo dessas ilusões nas quais buscamos segurança. O homem que age pela inteligência percebe o perigo. Nessa inteligência há segurança absoluta. O pensamento criou várias formas de ilusão - nacionalidades, classes, diferentes deuses, crenças, dogmas, rituais diferentes e as extraordinárias superstições religiosas que permeiam o mundo - e nelas ele tem procurado segurança. Não vemos o perigo dessa segurança, dessa ilusão. Quando percebemos esse perigo - não como uma idéia, mas como um fato real - esse ver é inteligência, a forma suprema de segurança absoluta. Portanto, existe uma segurança absoluta: é a de ver o verdadeiro no falso.

Krishnamurti - Perguntas e Respostas - Cultrix

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Enfrentando a violência em outra pessoa

Passeata
Pergunta: Como lidamos com a violência em outra pessoa?

Krishnamurti: Meu vizinho é violento: como lido com isso? Dou a outra face? Ele vai achar bom. Que devo fazer? Você faria essa pergunta se fosse realmente não violento, se não houvesse nenhuma violência em você? Escute bem essa pergunta. Se no seu coração, na sua mente, não houver violência alguma, ódio algum, nem amargura, nem sentimento de realização, nem desejo de ser livre, nenhuma violência, você faria essa pergunta sobre como lidar com o vizinho violento? Ou você saberia o que fazer com ele? Outras pessoas poderão chamar de violência o que você faz, mas você pode não ser violento; naquele momento em que o seu vizinho age violentamente, você saberá como lidar com a situação. Mas uma terceira pessoa, observando, poderá dizer: “Você também é violento”. Mas você sabe que não é violento. Portanto, o que importa é ser completamente livre de violência – e não o que outra pessoa diga de você.

Krishnamurti, Beyond Violence, pp 83-84

sábado, 22 de janeiro de 2011

Sobre o amor

amor, upload feito originalmente por NJRO.

Sem a compreensão do prazer você nunca poderá compreender o amor. O amor não é prazer. Amor é algo completamente diferente. E, como disse, para compreender o prazer, você tem que aprender sobre ele. Para a maioria de nós, para cada ser humano, o sexo é um problema. Por que? Ouça isto com muito cuidadosamente. Porque não podendo resolvê-lo, você foge disso. O sannyasi foge disto fazendo voto de celibato, via negação. Por favor veja o que acontece com uma mente assim. Ao negar algo que é uma parte de seu todo - as glândulas e tudo o mais - suprimindo isto, você se torna ácido, e existe uma batalha constante em andamento dentro de você. Como já falamos, até parece que só há dois modos de abordar qualquer questão: suprimindo isto ou fugindo disto. Suprimir isto realmente é a mesma coisa que fugir para longe disto. E nós temos nas atividades do dia-a-dia toda uma rede de fugas - muito complexa, intelectual, emocional. Há várias maneiras de fugir, nas quais nós não entraremos agora. Mas nós temos este problema. O sannyasi escapa disto de uma forma, mas ele não resolve nada, ele suprime fazendo um voto, e o problema inteiro fica efervescendo dentro dele. Ele pode vestir a túnica da simplicidade, mas isso também se tornou um assunto importantíssimo para ele, tal como o é para o homem que vive uma vida comum. Como você resolve este problema?

Autor: Krishnamurti - O Livro da Vida

Por que devo ter o oposto – a não violência?

O homem procura o tempo todo, tornar-se não violento. Então, há conflito entre “o que é” (a violência), e “o que deveria ser” (a não violência). Há conflito entre os dois. Essa é a própria essência do desperdício de energia. Enquanto houver dualidade entre “o que é” e “o que deveria ser” – o homem procurando tornar-se outra coisa, esforçando-se para alcançar “o que deveria ser” – esse conflito será desperdício de energia. Enquanto houver conflito entre os opostos, o homem não terá energia bastante para mudar. Por que devo ter o oposto – a não violência – como ideal?

Krishnamurti, The Flight of the Eagle, p56

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A violência de corpo inteiro

Há tantos tipos de violência. Vamos examinar cada tipo de violência ou vamos considerar toda a estrutura da violência? Podemos olhar para todo o espectro da violência, e não para uma parte dela?... A fonte da violência é o “eu”, o “ego”, que se expressa de muitos modos – em divisão, em tentar tornar-se alguém – o que se divide em “eu” e “não eu”, como inconsciente e consciente; o “eu” que se identifica ou não com a família, que se identifica ou não com a comunidade, e assim por diante. É como uma pedra lançada em um lago: as ondas espalham-se cada vez mais, estando no centro o “eu”. Enquanto o “eu” sobreviver sob qualquer forma, muito sutil ou grosseira, haverá necessariamente violência.

Krishnamurti, Beyond Violence, p 74

A ordem não é mensurável, só o é a desordem

vida pulsante
A ordem não é mensurável, só o é a desordem

Voávamos suavemente a trinta e sete mil pés de altura e o avião estava repleto. Havíamos passado o mar e nos aproximávamos da terra; ambos, o mar e a terra, estavam muito abaixo de nós, os passageiros nunca pareciam deixar de falar ou de beber ou de folhear as páginas duma revista; depois projetaram um filme. Constituíam um grupo muito barulhento que devia ser alimentado e entretido; dormiam, roncavam e estavam de mãos dadas. Massas de nuvens que se estendiam de horizonte a horizonte, prontamente cobriram completamente a terra, o espaço, a profundidade e também o ruído da fala. Entre a terra e o avião se viam intermináveis nuvens brancas e acima estava o delicado céu azul. No assento junto à janela ele se achava intensamente desperto observando a forma cambiante das nuvens e a branca luz que se refletia sobre elas.

Tem a consciência alguma profundidade, ou somente uma agitação superficial? O pensamento pode imaginar sua profundidade, pode afirmar que a consciência é profunda ou pode considerar só as ondas da superfície? O pensamento mesmo, tem alguma profundidade? A consciência está cheia de seu conteúdo, seu conteúdo é sua total limitação. O pensamento é a atividade do externo; em certos idiomas, ‘pensamento’ quer dizer ‘o de fora’. A importância que lhe é dada às camadas ocultas da consciência segue estando na superfície, não tem profundidade alguma. O pensamento pode dar-se a si mesmo um centro como o ‘ego’, o ‘eu’ e esse centro não tem em absoluto nenhuma profundidade; as palavras, por aguda e sutilmente que tem sido elaboradas, não são profundas. O ‘eu’ é uma fabri¬cação do pensamento – em palavra e em identificação. O ‘eu’ que busca profundidade na ação, na existência, não tem significado algum; todos seus intentos de estabelecer uma profundidade na relação, terminam nas multiplicações de suas próprias imagens; o ‘eu’ con¬sidera que as sombras dessas imagens são profundas. As atividades do pensamento carecem de profundidade; seus prazeres, seus temores, sua dor estão na superfície. A mesma palavra ‘superfície’ indica que há algo debaixo, ou um grande volume de água ou muito pouca profundidade. Mente superficial ou mente profunda, são palavras do pensamento, e o pensamento em si mesmo é superficial. O volume que existe detrás do pensamento é a experiência, o conhecimento, a memória, as coisas que se foram, as que só são para recordar-se, as coisas sobre as quais se pode ou não se pode atuar.

Muito abaixo de nós, distante sobre a terra, corria um rio, enroscando em amplas curvas entre granjas espaçadas aqui e lá, e nos sinuosos caminhos havia formigas que reptavam. As montanhas estavam cobertas de neve, e os vales luziam verdes e cheios de sombras profundas. O sol se achava diretamente frente a nós e descia penetrando no mar à medida que o avião aterrizava entre a fumaça e os ruídos de uma cidade em expansão.

Existe profundidade na vida, na existência? Existe em absoluto? É superficial toda relação? Pode alguma vez o pensamento descobrir isto? O pensamento é o único instrumento que o homem tem cultivado e aguçado, e quando este instrumento é negado como meio para compreender a profundidade da vida, então a mente busca outros meios. Levar uma vida superficial, prontamente se torna fatigante, aborrecida, sem significado algum, e disto emerge a constante perseguição do prazer, os temores, o conflito e a violência. Ver os fragmentos que o pensamento tem criado e suas atividades, ver isso como uma totalidade, é o cessar do pensamento. A percepção do total é possível somente quando o observador, que é um dos fragmentos do pensamento, não se acha ativo. Então a ação é relação e jamais conduz para o conflito e a dor.

Só o silêncio tem profundidade, como o amor. O silêncio não é o movimento do pensar, nem o é o amor. Só então as palavras, as profundas e as superficiais, perdem seu significado. Não há medida para o amor, nem o há para o silêncio. O que é mensurável, é pensamento e tempo o pensamento é tempo. A medida é necessária, porém quando o pensamento a leva para a ação e para as relações, começam então o mal e a desordem. A ordem não é mensurável, só o é a desordem.

O mar e a casa estavam tranqüilos, e atrás deles os morros, com as flores silvestres da primavera, permaneciam silenciosos.

13 de Outubro de 1973

Autor: Krishnamurti

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Sobre o homem culto

Um guru muito conhecido veio vê-lo mais uma vez. Estavam sentados num formoso jardim rodeado de muros; o verde gramado se achava muito bem cuidado; havia rosas, cheiro de ervilhas, brilhantes calendulas amarelas e outras flores do norte oriental. O muro e as árvores mantinham afastado o ruído dos poucos automóveis que passavam; o ar estava impregnado com o perfume de muitas flores. Ao anoitecer, uma família de chacais resolvia sair do oculto refúgio que tinha abaixo de uma árvore; haviam cavado um grande buraco onde a mãe tinha seus três filhotes. Formavam um grupo de saudável aspecto, e em seguida, depois do crepúsculo, a mãe saía com eles mantendo-se próxima das árvores. Detrás da casa havia lixo e mais tarde iriam recolhê-lo. Também vivia uma família de mangustos; todo entardecer, a mãe, com seu focinho rosado e sua larga e grossa cauda, saía do esconderijo seguida por seus dois filhotes, um atrás do outro; encostados ao muro, também se dirigiam à parte traseira da cozinha onde algumas vezes lhes deixavam coisas. Eles mantinham o jardim livre de cobras. Jamais parecia haverem-se cruzado com os chacais, porém se o fizessem, se deixariam mutuamente em paz.

O guru havia anunciado uns dias antes que desejava fazer uma visita. Chegou, e mais tarde vieram em seguida seus discípulos. Tocaram seus pés como um sinal de grande respeito. Queriam também tocar os pés do outro homem, porém ele não quis que o fizessem; explicou-lhes que isso era degradante, porém a tradição e a esperança do céu eram demasiado fortes neles. O guru não quis entrar na casa, já que havia feito votos de não entrar jamais num lugar de pessoas casadas. O céu estava intensamente azul nessa manhã e as sombras eram grandes.

“Você nega ser um guru, porém é um guru de gurus. Tenho lhe observado desde sua juventude, e o que você disse é uma verdade que muito poucos compreenderam. Para muitos, nós somos necessários, de outro modo estariam perdidos; nossa autoridade salva ao homem simples. Nós somos os intérpretes. Temos tido nossas experiências, sabemos. A tradição é um resguardo, e são somente uns poucos os que podem permanecer sós e ver a realidade desnuda. Você se encontra entre os bem-aventurados, porém nós devemos marchar com a multidão, cantar seus cantos, respeitar os nomes sagrados e borrifar água benta, o qual não quer dizer que sejamos inteiramente hipócritas. Eles necessitam ajuda e nós estamos aqui para lhes dar. Qual é, se me permite perguntar-lhe, a experiência dessa realidade absoluta?” Os discípulos estavam indo e vindo, sem interesse na conversa e indiferentes ao que lhes rodeava, à beleza da flor e da árvore. Alguns deles vieram sentar-se no pasto para escutar, esperando não serem demasiadamente perturbados. Um homem culto é um homem descontente com sua cultura.

A Realidade não é para ser experimentada. Não há atalho que conduza a ela e nenhuma palavra pode assinalá-la; não é algo que possa buscar-se e encontrar-se. O encontrar depois de buscar é a corrupção da mente. A mera palavra verdade não é a verdade; a descrição não é o descrito.

“Os antigos tem falado de suas experiências, de sua bem-aventurança na meditação, de sua superconsciência, de sua realidade sagrada. Se é lhe permitido perguntar: Devemos descartar tudo isto e o exaltado exemplo daqueles seres?” Qualquer autoridade na meditação é a negação completa desta. Todo o conhecimento, os conceitos, os exemplos não tem lugar na meditação. A completa eliminação do meditador, do experimentador, do pensador, é a essência mesma da meditação. Esta liberdade é o ato cotidiano da meditação. O observador é o passado, seu terreno é o tempo, seus pensamentos, suas imagens, suas projeções, estão presas ao tempo. O conhecimento é tempo, e a libertação a respeito do conhecimento é o florescer da meditação. Não existe sistema algum e, portanto, não há direção alguma para a verdade ou para a beleza da meditação. Seguir o outro, seguir seu exemplo, suas palavras, é expulsar a verdade. Só no espelho da relação você vê realmente o rosto do que é. O que vê é o visto. Sem a ordem que a virtude traz consigo a meditação e as intermináveis afirmações dos outros carece em absoluto de significado algum; são completamente improcedentes. A verdade não tem tradição, não pode ser transmitida.

Com o sol, o aroma das ervilhas era muito mais intenso. 

Autor: Krishnamurti, 12 de Outubro de 1973

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sou o resto do mundo

SAVE THE PLANET
Eis o terreno comum sobre o qual toda a humanidade se firma. E, aconteça o que acontecer no campo dessa consciência, somos responsáveis. Noutras palavras, se eu for violento, estou acrescentando violência a essa consciência que é comum a todos nós. Se eu não for violento, não estou fazendo esse acréscimo, estou introduzindo um fator completamente novo a essa consciência. Então, sou profundamente responsável, ou por contribuir para essa violência, para essa confusão, para a terrível divisão; ou, como reconheço profundamente no meu coração, no meu sangue, nas profundezas do meu ser, que sou o resto do mundo, sou a humanidade, sou o mundo, o mundo não está separado de mim, então, me torno totalmente responsável.

Krishnamurti - Social Responsibility, pp 19-20

A violência não está só no matar

Amigos
As chuvas chegaram e se foram, e as enormes pedras resplandeciam ao sol da manhã. Havia água nos leitos secos dos rios e o solo se regozijava novamente; a terra estava mais vermelha e cada arbusto, cada fibra do pasto estavam mais verdes, e nas árvores de raízes profundas apareciam folhas novas. O gado começava a engordar e os aldeões se viam menos magros. Estes morros são tão antigos como a terra, e os enormes pedregulhos parece haver sido colocados aí com esmerado equilíbrio. Para oeste há um morro que tem a configuração de uma grande plataforma, sobre a qual há construído um templo quadrado.

Os meninos da aldeia caminhavam várias milhas para aprender a ler e escrever; havia aqui uma menina pequena que se dirigia completamente só e com o rosto radiante, à escola da aldeia mais próxima, levando numa mão um livro e na outra um pouco de comida. Quando nos cruzamos se deteve, tímida e inquisitiva, si tivéssemos permanecido assim por mais tempo haveria chegado tarde na sua escola. Os arrozais se viam surpreendentemente verdes. Era uma longa e aprazível manhã.

Dois corvos estavam brigando no alto, grasnando e destroçando-se um ao outro. No ar não havia suficiente apoio, de maneira que pousaram na terra para continuar pelejando. Pelo solo começaram a voar plumas e a luta começou a ficar muito séria. Prontamente, próximo duma dezena de outros corvos desceu sobre eles e colocou fim à peleja. Depois de uma quantidade de grasnidos e rabugens, todos desapareceram entre as árvores.

A violência está em todas as partes, tanto entre os altamente educados como entre os mais primitivos, entre os intelectuais e entre os sentimentais. Nem a educação, nem as religiões organizadas tem sido capazes de amansar ao homem; pelo contrário, tem sido os responsáveis pelas guerras, as torturas, os campos de concentração e a matança de animais na terra e no mar. Quanto mais progresso, mais cruel parece tornar-se o homem. A política tem se convertido em gangsterismo, um grupo contra outro grupo; o nacionalismo nos tem conduzido à guerra, há guerras econômicas, há ódios pessoais, há violência. O homem não parece aprender nada da experiência e o conhecimento, e a violência prossegue em todas suas formas. Que lugar ocupa o conhecimento na transformação do homem e de sua sociedade?

A energia que se tem dedicado à acumulação de conhecimentos, não tem transformado ao homem, não tem colocado um fim à violência. A energia que se tem investido em milhares de explicações do por que o homem é tão agressivo, tão brutal e insensível, não tem colocado fim à sua crueldade. A energia que se tem gastado em analisar as causas de sua insana destruição, de seu prazer na violência, de seu sadismo, de sua atividade divergente, de modo algum tem feito com que o homem seja mais benévolo e considerado. Apesar de todas as palavras e os livros, das ameaças e os castigos, o homem continua com sua violência.
A violência não está só no matar, na bomba, nas mudanças revolucionárias que se produzem mediante derramamentos de sangue; é mais profunda e sutil. O conformismo e a imitação são indicações de violência; a imposição e aceitação da autoridade indicam violência; a ambição e a competição são uma expressão desta condição agressiva, desta crueldade, e a comparação produz inveja com sua animosidade e seu ódio. Onde há conflito, interno ou externo, aí está o terreno para a violência. A divisão em todas suas formas traz consigo luta e sofrimento.

Todos conhecemos isto; temos lido sobre as ações da violência, as temos visto em nós mesmos e ao redor de nós, temos escutado muito a respeito e não obstante, a violência não terminou. Por que? As explicações a respeito das causas de uma conduta semelhante não têm real significação. Se nos comprássemos nelas, estamos esbanjando a energia que necessitamos a fim de superar a violência. Necessitamos de toda nossa energia para nos enfrentar com a energia que dissipa a violência e ir mais além dela. Controlar a violência é outra forma de violência, porque o controlador é o controlado. Na atenção total, que é a soma total da energia, chega a seu fim a violência em todas as suas formas. A atenção não é uma palavra, não é uma fórmula abstrata do pensamento, senão uma ação na vida cotidiana. A ação não é uma ideologia porque se a ação é o resultado de uma ideologia, conduz à violência.

Depois das chuvas, o rio passa ao redor de cada pedra, de cada cidade e aldeia, e por contaminado que se encontre, se purifica a si mesmo correndo através de vales, desfiladeiros e pradarias.

Autor: Krishnamurti

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Você é o mundo


Você é o mundo

Você é o mundo, você não está separado do mundo. Você não é americano, russo, hindu ou muçulmano. Você está alheio a esses rótulos e palavras, você é o resto da humanidade porque sua consciência, suas relações, são semelhantes às dos outros. Você pode falar uma língua diferente, ter costumes diferentes, isso é cultura superficial – aparentemente todas as culturas são superficiais – mas a sua consciência, suas reações, sua fé, suas crenças, suas ideologias, seus medos, ansiedades, solidão, tristezas e prazeres, são semelhantes ao resto da humanidade. Se você mudar, isso afetará toda a humanidade.
Krishnamurti to Himself, p 61

domingo, 16 de janeiro de 2011

Através da parte nunca se encontra o todo

Só os indivíduos amadurecidos encontrarão a Verdade. Aquele que alcançou a madureza não segue caminho algum, seja o caminho dos Adeptos, seja o caminho do saber, da ciência, do devotamento ou da ação. O homem que foi posto num determinado caminho, não está amadurecido e não encontrará, jamais, o Eterno, o atemporal... Aqueles de nós que estão seguindo determinados caminhos, tem interesses adquiridos, interesses mentais, emocionais e físicos, e esta é a razão porque achamos tão difícil o amadurecer; como nos será possível abandonar aquilo que estamos apegados há cinqüenta ou sessenta anos?... Mas, vós vos entregastes a uma organização, da qual sois presidente, secretário ou simples membro... O homem que se entregou a um determinado caminho ou norma de ação, está preso a sistemas, e não encontrará a Verdade. Através da parte nunca se encontra o todo. Através de uma estreita fenda da janela, não podemos ver o céu, o céu maravilhoso e brilhante, e só pode ver com clareza o céu o homem que está de fora, longe de todos os caminhos, de todas as tradições, e nesse homem há esperanças...

Krishnamurti - Uma Nova Maneira de Viver

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

É possível ser livre?

Buscando as alturas
Uma pergunta: é possível ser livre? É possível para nós como somos, condicionados, moldados por cada influência, pela propaganda, pelos livros que lemos, os cinemas, rádios, revistas de todos os que perturbam a mente, moldando-a a viver neste mundo totalmente livre, não só conscientemente, mas as próprias raízes do nosso ser? Isso, parece-me, é o desafio, é a única questão. Porque se um não é livre, não há amor, não há ciúme, ansiedade, medo, dominação, a busca do prazer, sexual ou não. Se a pessoa não é livre, não se pode ver claramente, e não há sentido de beleza.

Krishnamurti - Palestras e diálogos Saanen 1968

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Informação Organizada

O pensamento de grupo organizado é puramente maquinal. A clareza não é resultado de ação verbal, mas de intenso autopercebimento e correto pensar. O pensamento correto não é produto ou mero cultivo do intelecto, nem é, tampouco, conforme a padrão algum, por mais digno e nobre que este seja. Ele vem com o autoconhecimento. Se não vos compreenderdes, não tereis base para pensar; sem autoconhecimento, o que pensais não é verdadeiro.

Autor: Krishnamurti

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Para fazer cessar o pensamento

O pensador, upload feito originalmente por NJRO.

Para fazer cessar o pensamento é indispensável entender inicialmente o mecanismo do pensar. Preciso, até o mais profundo do meu ser, compreender o pensamento como um todo. Preciso examinar cada pensamento; eu não posso deixar que algum deles escape sem ser plenamente compreendido; desse modo, o cérebro, a mente, todo o ser ficarão bastante atentos. E quando então eu perseguir todo e qualquer pensamento até o fim, até a extremidade de sua raiz, desse momento em diante, verei que o pensamento cessa por si mesmo. Não preciso fazer nada a respeito porque o pensamento é memória. A memória é a marca deixada pela experiência e, enquanto a memória não for compreendida de forma plena e total, continuará a deixar marcas. A partir do momento em que eu tiver vivenciado completamente a experiência, esta não deixará marcas. Desse modo, se examinarmos cada pensamento e descobrirmos onde se situa a marca, e se permanecermos com essa marca, aceitando-a como um fato, esse fato irá desnudar-se e fará cessar esse processo particular de pensar, de maneira que cada pensamento, cada sentimento será compreendido. Então o cérebro e a mente se libertarão de um acúmulo enorme de recordações. Isso requer tremenda atenção, atenção não apenas para as árvores e os pássaros, mas atenção interior, para cuidar que cada pensamento seja compreendido.

Krishnamurti - Krishnamurti e a Educação

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Que significa ser livre?

Liberdade, upload feito originalmente por NJRO.

Que significa ser livre? Será liberdade fazer o que lhe convém, ir onde lhe agrada, pensar o que lhe apetece? De qualquer modo, é isso o que você faz. Ter independência, simplesmente significará liberdade? Muitas pessoas no mundo são independentes, mas poucas são livres. Liberdade implica uma grande inteligência, não é? Assim, ser livre é ser inteligente, mas a inteligência não vem apenas pelo desejo de ser livre. Ela vem só quando você começa a compreender totalmente o meio que lhe rodeia, as influências sociais, religiosas, familiares e tradicionais que lhe estão constantemente pressionando. Mas para compreender as várias influências do meio cultural a que você pertence, das crenças e superstições, da tradição à qual você se conforma sem pensar - para as compreender todas, e se libertar delas, é preciso uma visão profunda. Mas geralmente você se submete a elas porque interiormente esta com medo. Você tem medo de não obter uma boa posição na vida; você tem medo do que os outros poderão dizer; tem medo de não seguir a tradição, de não fazer a coisa certa. Mas liberdade é, verdadeiramente, um estado de espírito em que não há medo ou compulsão, nem ansiedade de estar seguro.

Krishnamurti - in THIS MATTER OF CULTURE

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Filantropia

Queremos ser ricos, e quanto mais enriquecemos tanto mais cruéis nos tornamos, ainda que façamos grandes donativos a instituições de caridade e de educação. Depois de assaltar a vítima, devolvemos-lhe uma parte do roubo, - e a isso chamamos filantropia.

Krishnamurti - A Educação e o Significado da Vida

Filantropia

Queremos ser ricos, e quanto mais enriquecemos tanto mais cruéis nos tornamos, ainda que façamos grandes donativos a instituições de caridade e de educação. Depois de assaltar a vítima, devolvemos-lhe uma parte do roubo, - e a isso chamamos filantropia.

Krishnamurti - A Educação e o Significado da Vida

domingo, 9 de janeiro de 2011

Sendo magoado durante toda a vida

Tomemos por exemplo o mal que cada ser humano sofre desde a infância. É-se magoado pelos próprios pais, psicologicamente; depois magoado na escola, na universidade, através da comparação, através da competição, através de se dizer que tem que se ser excelente nesta matéria, etc. Durante toda a vida existe este processo constante de se ser magoado. Sabe-se isto, e que todos os seres humanos são magoados, profundamente, coisa de que podem não ter consciência, e que de tudo isto surgem todas as formas de ações neuróticas. Tudo isso faz parte da consciência da pessoa – uma consciência em parte oculta e em parte manifesta de que se é magoado. Agora, é possível não se ser de todo magoado? Porque as consequências de se ser magoado são a edificação de um muro em torno de si mesmo, afastando-se no relacionamento com os outros para não se ser mais magoado. Nisso há medo e um isolamento gradual. Agora, perguntamos: É possível não só ficar livre de males passados, mas também jamais ser magoado novamente?

Krishnamurti, The Flame of Attention, pp 87-88

Existência Mecanizada

Existência Mecanizada, upload feito originalmente por NJRO.

É absoluta e urgentemente necessário alterar todo o curso do pensamento humano, da existência humana que está ficando, cada vez mais, mecanizada. E não vejo como pode ocorrer essa revolução total a não ser no indivíduo. O coletivo não pode ser revolucionário; o coletivo só pode seguir, ajustar-se, imitar, submeter-se. Só o indivíduo, essa entidade, só ele pode ir adiante, destruir todos esses condicionamentos e ser criativo. É essa crise na consciência que exige essa mente, essa mente nova. E, aparentemente, do ponto de vista do qual observamos, nunca se pensa nessa direção; pensamos sempre que é o aperfeiçoamento técnico e mecânico que, de algum modo milagroso, dará origem à mente criativa, à mente livre do medo.

Autor: Krishnamurti - Sobre A Liberdade, Editora Cultrix

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Que se entende por "governo"?

Hipnose da Época, upload feito originalmente por NJRO.

Que se entende por "governo"? Pessoas investidas de autoridade, um pouco burocratas, membros de gabinete, o primeiro-ministro, etc. Isso é o governo? Quem o elege? Sois vós, não é verdade? Sois os responsáveis por ele, não é exato? Tendes o governo que desejais - então, porque reclamais?... Sois vós os responsáveis e não o governo, porque o governo é a projeção, o prolongamento de vós mesmos - os seus valores são os vossos valores... garanto que também quereis ser exploradores, na ocasião oportuna, e por isso sustentais este jogo... Senhores, deveria existir uma classe de pessoas independentes do governo, não pertencentes à sociedade, à margem da sociedade, — para atuarem como guias. Essas são os “açoitadores”, os profetas, que vos apontam vossos grandes erros. Mas não existe nenhum grupo desses, porque o governo, no mundo moderno, não pode apoiar um tal grupo, um grupo sem autoridade, que não pertence ao governo, que não pertence a nenhuma religião, casta ou nação. É só um grupo desses que pode atuar como um freio aos governos. Porque os governos se estão tornando cada vez mais prepotentes, pondo ao seu serviço uma maioria de seres humanos, e em conseqüência os cidadãos, em números cada vez maiores, se vão tornando incapazes de pensar por si mesmos. O governo os controla e lhes diz o que devem fazer. Assim, só quando existe um grupo daqueles, um grupo enérgico, inteligente, ativo, só então há esperança de salvação. De outro modo, todos nós vamos acabar como empregados do governo, e o governo mais e mais nos dirá o que devemos fazer, e nos ensinará o que pensar, e não a pensar.

Autor: Krishnamurti - A Arte da Libertação - página 94

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Relacionamento


Relacionamento, upload feito originalmente por NJRO.

O relacionamento dá-se entre duas imagens
Por que é que nós, seres humanos, não temos sido capazes de resolver este problema do relacionamento embora tenhamos vivido nesta Terra durante milhões de anos? É por que cada um tem sua própria imagem específica construída pelo pensamento, e o nosso relacionamento está baseado em duas imagens: a imagem que o homem cria sobre a mulher, e a imagem que a mulher cria sobre o homem? Portanto, neste relacionamento somos como duas imagens vivendo juntas. Isso é um fato. Se você se observar muito cuidadosamente, se me permite salientar, você verá que criou uma imagem dela e ela criou uma imagem, uma estrutura verbal, sua. Portanto o relacionamento dá-se entre estas duas imagens. Estas imagens foram construídas pelo pensamento. E pensamento não é amor.

Krishnamurti - The Network of Thought, p 87

Em busca de sanidade

sanidade, upload feito originalmente por NJRO.

Ao homem verdadeiramente sério, neste mundo caótico, insano, brutal, inexpressivo, cabe não só a missão de transformar a estrutura externa, mas também os estados interiores, psicológicos, de nossa mente e nossa consciência. Nós não estamos separados do mundo; somos o mundo. Nós criamos, as gerações passadas criaram este mundo louco e estúpido; e a geração mais jovem, se não toma cuidado, se não se mantém alertada e vigilante, seguirá as pegadas da geração mais velha e criará outra sociedade louca e insensata. Impende, pois, não só ao educador, mas também ao estudante, a tremenda obrigação de considerar a espécie de mundo em que deveremos viver - não um mundo utópico, um perfeito mundo tecnológico, mas um mundo de relações humanas tais, que nele possamos viver em paz uns com os outros. Este se me afigura um problema tremendo que se apresenta ao mundo na época atual.

 Autor: Krishnamurti - O Novo Ente Humano - ICK

Sistemas de Crença


Sistemas de Crença, upload feito originalmente por NJRO.

Religiões, credos, formas e dogmas são barreiras entre os homens, e quebrando estas barreiras estais libertando a vida.


Autor: Krishnamurti

Religiões


Crença, upload feito originalmente por NJRO.

Eu sustento que os grandes instrutores não vieram fundar religiões, mas libertar o mundo de todas elas.


Autor: Krishnamurti

Crença


Crença, upload feito originalmente por NJRO.

Há confusão, e um vasto plano de condicionamento da mente vai sendo levado a cabo pela chamada educação, pela inculcação de várias doutrinas religiosas e políticas. O comunismo, tal como o catolicismo, agrilhoa a mente pela maneira mais completa, e a mesma coisa estão fazendo as outras religiões, numa escala mais modesta.


Autor: Krishnamurti - Austrália e Holanda - 1955

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Rotina

Chove chuva, foto por NJRO.

A maioria dos homens, atualmente, aos quarenta e cinco ou cinqüenta anos, está estéril pela escravidão à rotina, liquidada pela contemporização, pelo medo, e pela submissão - ainda que continue a lutar numa sociedade, que muito pouco significa, exceto para os que a dominam e que estão em segurança.
Autor: Krishnamurti - A Educação e o Significado da Vida

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Somos aquilo que possuímos.


Somos aquilo que possuímos. O homem que possui dinheiro é o dinheiro. O homem que se identifica com a propriedade é a propriedade, ou a casa ou o mobiliário. Analogamente com ideias ou com pessoas, e quando há possessividade, não há relação. Mas a maioria de nós possui porque nada mais temos se não possuirmos. Somos conchas vazias se não possuirmos, se não preenchermos a nossa vida com mobiliário, com música, com conhecimento, com isto ou com aquilo. E essa concha faz muito barulho, e a esse barulho chamamos de viver, e com isso ficamos satisfeitos. E quando há uma interrupção, um separar-se disso, então há sofrimento porque nessa altura subitamente você se descobre a si mesmo tal como realmente é – uma concha vazia, sem muito significado.

Krishnamurti - The Collected Works vol V, p 297

Sobre o Vazio Existencial

Quando se sentem incompletos, sentem-se vazios, e desse sentimento de vazio surge o sofrimento; devido a essa incompletude vocês criam padrões, ideias, para sustentá-los no vosso vazio, e estabelecem esses padrões e ideais como sendo a vossa autoridade externa. Qual é a causa interior da autoridade externa que criam para si mesmos? Primeiro, sentem-se incompletos e sofrem por causa dessa incompletude. Enquanto não compreenderem a causa da autoridade, não passarão de uma máquina imitativa, e onde existe imitação não pode existir a preciosa realização da vida. Para compreender a causa da autoridade deverão acompanhar o processo mental e emocional que a cria. Em primeiro lugar sentem-se vazios e para se livrarem desse sentimento fazem um esforço; ao fazer esse esforço estão somente a criar opostos; criam uma dualidade que apenas aumenta a incompletude e o vazio. Vocês são responsáveis por autoridades externas tais como religião, política, moralidade, por autoridades tais como padrões económicos e sociais. Devido ao vosso vazio, à vossa incompletude, criaram estes padrões externos dos quais tentam agora libertar-se. Evolucionando, desenvolvendo, crescendo longe deles, querem criar uma lei interna para vocês próprios. À medida que vão compreendendo os padrões externos, querem libertar-se deles e desenvolver o vosso próprio padrão interno. Este padrão interno, a que vocês chamam de “realidade espiritual”, vocês identificam-no como uma lei cósmica, o que significa que não criaram senão outra divisão, outra dualidade. Alpino, Itália - 1ª palestra em 1 de julho, 1933

Krishnamurti

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A mente

O pensador
A mente é um impecílio para a descoberta da verdade. Mas ela é um fenomenal instrumento de criação depois que ela já foi colocada devidamente em seu lugar, depois que ela já foi transcendida e, portanto, é usada apenas como um instrumento com sua função própria, que é de criar, refletir, representar e relacionar no seu nível e em níveis inferiores A verdade, O Desconhecido que a transcende e que é eternamente novo; enquanto isto não acontece, o que ela faz é viajar, macaquear, imitar, submeter ou ser submetida por outras mentes mais ou menos poderosas, mas igualmente medíocres e limitadas como ela.

Autor: krishnamurti

Por que inventamos Deus?

domingo, 2 de janeiro de 2011

Escuta atenta

Escuta atenta, foto por NJRO.

Como você escuta? Você escuta com as suas projeções, por meio de sua projeção, através de suas ambições, desejos, medos, ansiedades, só ouvindo através do que você quer ouvir, somente o que for satisfatório, o que lhe agradará, o que dará o conforto, o que vai no momento aliviar seu sofrimento? Se você escuta pelos filtros dos seus desejos, então você escuta obviamente apenas sua própria voz, você está escutando só seus próprios interesses. Existe alguma outra forma de escutar? Não é importante descobrir como não escutar só ao que está sendo dito mas a tudo – ao barulho nas ruas, à trilar dos pássaros, ao barulho das ondas do mar agitado, à voz de seu marido, da sua esposa, de seus amigos, ao choro de um bebê? Escutar só tem importância quando a pessoa não projeta seus próprios desejos por qual escuta. Podemos por de lado todos estes filtros pelos quais nós escutamos, e realmente escutarmos?

Autor: Krishnamurti - O Livro da Vida

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