II
Esta tarde estive passeando, no, jardim onde as flores estavam em plena expansão. Havia uma fileira de flores variadas e cada flor tinha atingido a culminância, a fruição de seu ser, tinha tomado a sua função e desabrochado para o mundo, dando prazer aos homens. Tinha esperado o verão inteiro para desabrochar e emitir o seu aroma e proporcionar este aroma ao homem que se deleita na beleza.
Do mesmo modo o homem que busca por toda a parte o preenchimento de si mesmo em todos os climas, em todos os lugares, sob todos os céus. Por meio da atividade política, social e econômica, ele busca a posição, o desenvolvimento de si mesmo através a Felicidade. Toda a gente no mundo quer esteja no Oriente quer no Ocidente, quer a sua pele seja amarela, parda, preta, ou branca, todos buscam a Felicidade. A Felicidade é a herança de todos, a Felicidade é a meta para todos, a Felicidade é o fim para todos, a Felicidade que resiste a todo contato da tristeza, que é eterna, que é permanente, que é fruição do acumulo de toda a experiência. Uma tal Felicidade permanente, durável, indestrutível, existe, porém, o homem tem que buscá-la através dos passageiros estágios da infelicidade. Para onde quer que fordes, encontrareis o homem buscando a Felicidade nas coisas perecíveis. Seja no Oriente seja no Ocidente, todos sofrem do mesmo modo, todos têm, as mesmas tristezas, as mesmas aflições, os mesmos desejos, as mesmas agonias; e todos buscam essa Felicidade que mora sempre no interior, que é eterna. O homem busca nas coisas triviais essa Felicidade que é eterna, essa Felicidade que é Libertação. Se estiver faminto busca satisfazer o seu estomago; se estiver tomado de tristeza, sua Felicidade está no esquecimento de si mesmo. O Sannyasi, o homem que renunciou o mundo e se recolheu a um vale recluso, busca esta Felicidade; o criador, o artista, o gênio buscam esta Felicidade que perdura, que resiste à prova do tempo, que lhes dará força, que lhes dará vitalidade para resistir aos assaltos da tristeza, da angustia, da aflição. Porém na busca dessa Felicidade que é duradoura eles próprios se perdem no impermanente. De que serve a felicidade que pode ser destruída? Que utilidade tem sertir-se momentaneamente deliciado se esse deleite desaparece? De que serve a criação que dá prazer momentâneo quando aquilo que haveis criado é destruído?
Para onde quer que fordes, por onde quer que andeis, existe o anseio de descobrir uma morada onde possais habitar pacificamente e em tranqüilidade, onde vos pensais tornar uno com o Reino da Felicidade. Há muitos modos de buscar e atingir essa Felicidade, porém, o fim, a meta, é a mesma para todos, pertença o homem a que temperamento ou tipo pertencer. Seja qual for o seu meio de atividade no mundo, a meta para ele é a conquista da Felicidade e Libertação. Pois uma vez que tenhais percebido este fim, para atingi-lo deixareis de lado todas as coisas transitórias, todas as causas que passam com o contato da tristeza.
Vereis que o homem - seja sob que clima for - que busca este Reino, que ele sabe morar no seu interior, é semelhante à borboleta que voa de flor em flor, colhendo o mel.
Olhando sempre para o exterior, sempre se esforçando por buscar essa Felicidade, essa beleza, esse conforto, essa Libertação na manifestação externa. E enquanto vagueia no exterior, no mundo das sombras, é colhido em uma rede, no mundo do irreal e daí começa a criar karma. O que semear colherá; sejam quais forem às ações elas produzirão seu fruto apropriado. Não pôde escapar e, assim, é continuamente colhido nesse mundo das coisas transitórias: vai de tristeza em tristeza, de grandes tristezas a tristezas maiores, de pequenos prazeres a maiores prazeres. Enquanto a tristeza e o prazer mutável o engaiolam e seguram, não pode entrar nesse Reino onde existe eterna Felicidade.
Esse Reino de Felicidade não reside no mundo da manifestação onde existem sombras e decadência, porém dentro de cada um de vós e é lá que vos deveis movimentar e buscá-lo. Assim como a flor contém o aroma, como a flor esconde a divindade em si mesma, assim dentro de cada qual de vós está o Reino da Felicidade, seja qual for o estagio de vossa evolução, sejam quais forem nossas angustias e aflições. Quando, uma vez o houverdes descoberto dentro de vós, então podereis vaguear indo do real para o irreal.
Quero, de momento, proporcionar-vos uma imagem de modo a tornar-vos claro que a meta de todos os seres humanos é a Libertação e a Felicidade. Imaginemos, por um momento, o cimo de uma montanha onde incidem os últimos raios do sol poente, onde a beleza do dia que finda está concentrada. Nessa montanha há vários estágios, varias choupanas de abrigo, e cada choupana vos convida a vos deterdes e adorar o deus particular que ela encerra. E assim o homem, posto que saiba que existe uma meta ultima, demora-se nessa choupana, divertindo-se e desperdiçando o seu tempo, dali criando karma desnecessário que o liga à roda da vida e da morte. Assim, ele deve passar através desses estágios, repousar em todos os abrigos, se for fraco e não tiver força suficiente e suficiente vontade para subir até o topo da montanha. Para adquirir essa vontade, essa força de propósito, tem que penetrar no interior e despertar a si mesmo para a Realidade que ali está.
A maioria dentre vós adoram um quadro e, quando, este quadro se torna vivo, desejam que o não esteja porque este quadro vos diz que entreis no interior de vós próprios em vez de adorardes aquilo que é destrutível, uma simples tela que pôde ser rasgada. Quando este quadro, vos diz que penetreis no interior para lá descobrirdes o Reino da Realidade, o Reino da Verdade, o Reina da Felicidade e da Libertação, achais isso difícil, porque exige pensamento, exige adestramento, exige auto-exame, critica de si próprio, pelas quais muito poucos de vós querem passar. Desejais algum grande milagre que vos transporte ao cimo da montanha. Esperais que qualquer Manifestação Divina se exiba miraculosamente, por entre trovões e relâmpagos e vos dê algum medicamento que vos transforme, que vos purifique e vos dê força para pulardes ao cimo da montanha.
Porém, amigo, a Verdade está dentro de vos e por ter eu achado esta Verdade, por me ter identificado a mim mesmo com essa Verdade e por meu Bem Amado e eu sermos um em meu coração, eu vos desejaria explicar como haveis de abrir esses portais que vos deixarão entrar em vossos próprios corações, em vossas próprias mentes, onde encontrareis paz e tranqüilidade. Necessitais, porém, saber o que é tristeza, o que é o sofrimento, o que é aflição, o que são os prazeres perecíveis e o, que são os prazeres duradouros. A sabedoria nasce da experiência e da compreensão, de um coração puro; e se não existir experiência, se o coração não quiser compreender, permanecereis longamente nos abrigos que há no caminho da montanha. E, para terdes o Bem Amado, convosco, podereis abandonar todos esses abrigos e vos tornar o Bem Amado.
Ai reside a grandeza do momento, pois haverá mui poucos dias de verão, dias em que possais recolher vossa colheita, em que possais preparar vossa casa e por todas as coisas em ordem para receber o Hospede; pois verificarei que o Bem Amado é vós próprio - enobrecido, glorificado, tornado perfeito. E quando O houverdes encontrado dentro de vosso coração, O houverdes bem firmado em vossa mente, então tereis entrado no Reino da Felicidade que é eterno, nessa Libertação que não têm limites.
Assim, aqueles que quiserem buscar Felicidade e Libertação, devem vaguear pelo próprio interior, devem procurar e encontrar ai o seu próprio Reino. E quando houverem encontrado essa morada, descobrirão quê é o Reino que existe para todos - pois todos estão buscando, todos estão sofrendo e sobrecarregados de tristeza. E os que houverem bebido nessa fonte, os que houverem desenvolvido essa sabedoria que é resultante da experiência, podem ir e dar aos aflitos dessa Felicidade perdurável que é Libertação.
Do livro: A Fonte da Sabedoria
Palestras realizadas no Acampamento de Ommen, Holanda, de 1926 à 1928
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