quinta-feira, 28 de abril de 2011

A mente trivial

Uma mente apaixonada que sonda, busca, que se abre, que jamais se afirma em si mesma, que não aceita tradição alguma, uma mente jovem, como pode surgir à existência? É indispensável que isso ocorra. (É óbvio que uma mente trivial não pode trabalhar nisso. Uma mente trivial que trata de tornar-se apaixonada, tão somente reduzirá tudo a sua própria trivialidade). Isso deve ocorrer, pois, e pode ocorrer somente quando a mente vê sua trivialidade e, sem dúvida, não tenta fazer nada a respeito. Me expresso com clareza? Provavelmente não. Porém, como disse antes, qualquer mente limitada, por veemente que seja, seguirá sendo trivial. Isso é evidente, por certo. Uma mente pequena, ainda que possa ir a Lua, ainda que possa adquirir uma técnica, ainda que possa argumentar e defender-se com habilidade, é uma mente pequena. Portanto, quando a mente pequena diz: “Devo ser apaixonada para fazer algo que valha a pena”, sua paixão será, sem dúvida, muito insignificante, não é assim? Como se encolerizar diante de uma pequena injustiça, ou pensar que todo mundo está mudando por obra de alguma trivialidade, de pequena reforma que, numa insignificante aldeia sem importância, tenha feito uma mente insignificante e sem importância. Se a mente pequena vê tudo isso, então a mesma percepção de que é pequena faz com que toda sua atividade experimente uma mudança. 

OCK - Vol. XI

Autor: Krishnamurti - O Livro da Vida

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Arte, Beleza e Criação

Quase todos nós estamos sempre procurando fugir de nós mesmos e, como a arte oferece um meio fácil e respeitável  de  o  fazermos, tem  ela  papel  importante na vida de muitas pessoas. No desejo de auto-esquecimento, alguns se voltam para a arte, outros dão para beber, e outros mais se põem a seguir misteriosas e fantásticas doutrinas religiosas.

Quando, consciente ou inconscientemente, utilizamos alguma coisa para fugirmos de nós  mesmos, tomamo-nos de paixão por ela. Dependermos de uma pessoa, de uma poesia ou do que quer que seja, como meio de alívio das nossas preocupações e ansiedades, embora possa momentaneamente enriquecer-nos,  só cria mais conflito e mais contradição em nossas vidas.

Não pode haver estado criador onde há conflito, e a educação correta deve, por conseguinte, ajudar o indivíduo a enfrentar seus problemas e a não glorificar os meios de fuga; deve ajudá-lo a compreender e a eliminar o conflito, porque só então pode manifestar-se o estado de criação.

Divorciada da vida, a arte não tem muito sentido. Quando a arte está separada do nosso viver de cada dia, quando existe um vazio entre nossa vida instintiva e nossas produções na tela, no mármore, ou em palavras, a arte se torna simples expressão do desejo superficial de fugir à realidade do que é. É dificílimo eliminar esse vazio, sobretudo para os que são talentosos e tecnicamente proficientes, mas só depois de eliminado nossa vida se torna integrada e a arte uma expressão integral de nós mesmos.

A mente tem o poder de criar  ilusões; procurar inspiração, sem  compreender suas  tendências é provocar ilusões. Vem-nos a inspiração quando a ela estamos abertos, e não quando a buscamos. Tentar conseguir a inspiração mediante qualquer espécie de estímulo, leva a ilusões de todo gênero.

A menos que estejamos perfeitamente cônscios do significado da existência, a capacidade e o talento dão realce e importância ao "eu" e às ânsias. Tendem a tornar o indivíduo egocêntrico e propenso à separação; a faze-lo sentir-se uma entidade distinta, um ente superior, o que gera muitos males e causa lutas e sofrimentos intermináveis. O "eu" é um feixe de muitas entidades, cada uma delas oposta a todas as outras. É um campo de batalha de desejos encontrados, um centro de luta constante entre o "meu" e o "não meu"; e, enquanto dermos importância ao "eu", a "mim", ao "meu", haverá crescente conflito dentro de nós e no mundo.

O verdadeiro artista está acima da vaidade e das ambições do "eu". Quando o indivíduo possui brilhante capacidade de expressão, e ao mesmo tempo está enredado nos interesses mundanos, isso tende a tornar-lhe a vida cheia de contradições e de lutas. O louvor e a adulação, quando lhes atribui muita importância, enchem de vento o "ego" e destroem a receptividade; e o culto do bom êxito, em qualquer terreno, é evidentemente prejudicial à inteligência.

Toda tendência ou talento que concorra para o isolamento, toda espécie de auto-identificação, por mais estimulante que seja, desfigura a expressão da sensibilidade e produz o embotamento. Embota-se a sensibilidade quando o talento se torna "pessoal", quando se atribui importância ao "eu" e ao "meu"  -  EU pinto, EU escrevo, EU invento. Só quando estamos cônscios de cada movimento de nossos pensamentos e sentimentos em nossas relações com pessoas, com coisas e com a natureza, só então a mente está aberta e flexível, não vinculada a desejos e interesses de auto-proteção, só então há sensibilidade para o feio e para o belo, não perturbada pelo "eu".

A sensibilidade ao belo e ao feio não é efeito de apego; surge com o amor, quando não há mais conflitos gerados pelo "eu". Quando somos interiormente pobres, deleitamo-nos com todas as formas de ostentação exterior, com a riqueza, com o poder, com os bens materiais. Quando estão vazios nossos corações, colecionamos coisas. Se temos recursos, rodeamo-nos de objetos que consideramos belos, e porque a eles ligamos desmedida importância, somos responsáveis por  muitos sofrimentos e destruições.
O espírito de aquisição não significa amor ao belo; resulta do desejo de segurança, e estar em segurança é ser insensível. O desejo de estar em segurança gera temor, põe em funcionamento um processo de isolamento que constrói muralhas de resistência em torno de nós, muralhas que impedem toda sensibilidade. Por mais belo que seja, um objeto depressa perde a sua atração sobre nós; acostumamos a ele, e o que era um deleite se torna uma coisa vazia e monótona. A beleza continua a existir nele, mas já não estamos abertos para ela, que foi absorvida na monotonia da nossa existência cotidiana.

Visto que nossos corações estão mirrados e já nos esquecemos de como ser bondosos, como contemplar as estrelas, as árvores, os reflexos na água, necessitamos do estímulo dos quadros e das jóias, dos livros e dos divertimentos constantes. Estamos sempre em busca de novas excitações, novas sensações; ansiamos por uma variedade cada vez maior de sensações; ansiamos por uma variedade cada vez maior de sensações. É essa ânsia e sua satisfação que tornam a mente e o coração cansados e insensíveis. Enquanto estamos em busca de sensação, as coisas que chamamos belas e feias só tem sentido muito superficial. Só há alegria perene quando somos capazes de apreciar todas as coisas sempre de maneira nova - o que não é possível enquanto estivermos agrilhoados pelos nossos desejos. A ânsia de sensação e satisfação impede que se experimente aquilo que é sempre novo. Podem comprar sensações, mas  não pode comprar o amor e a beleza.

Quando estivermos cônscios do vazio das nossas mentes e corações e não fugirmos desse vazio para qualquer gênero de estímulo ou sensação, quando estivermos completamente abertos, e muito sensíveis, só então haverá criação, só então encontraremos a alegria criadora. O cultivo do exterior, sem compreensão do interior, tem de formar, inevitavelmente, aqueles valores que levam os homens à destruição a ao sofrimento.

Aprender uma técnica poderá proporcionar-nos um emprego, mas não nos faz criadores, ao passo que, se há alegria, se há o fogo criador, isso encontrará uma forma de expressar-se e não temos necessidade de estudar nenhum método de expressão. Quando deveras desejamos escrever um poema, escrevemos, e se possuímos a respectiva técnica, tanto melhor; mas, por que dar importância aquilo que é apenas um meio de comunicação, se nada temos para dizer? Quando existe amor em nossos corações, não procuramos uma forma de alinhar palavras.

Os grandes artistas e os grandes escritores podem ser criadores, mas nós não somos; somos meros espectadores. Lemos enormes quantidades de livros, ouvimos música excelente, contemplamos obras de arte, mas nunca experimentamos diretamente o sublime; nossa experiência depende sempre de um poema, de um quadro de personalidade de um santo. Para podermos cantar, devemos ter uma canção em nossos corações; mas, como perdemos a canção, seguimos o cantor. Sem um intermediário, sentimo-nos perdidos; mas devemos estar perdidos para poder descobrir alguma coisa. Descobrir é começar a criar, e sem ação criadora, não importa o que façamos, nunca haverá paz e nem felicidade para  o homem.

Supomos que poderemos viver felizes, criadoramente, aprendendo um método, uma técnica, um estilo; mas a felicidade criadora só pode vir quando há riqueza interior, nunca pode ser alcançada por meio de sistema algum. O aperfeiçoamento pessoal, que é outra maneira de garantir a segurança do "eu" e do "meu", não é atividade criadora e nem significa amor à beleza. Só existe criação quando há vigilância constante das tendências da mente e dos obstáculos que ela criou para si própria.

A liberdade de criar surge com o auto-conhecimento, mas o auto-conhecimento não é um dom. Pode-se ser criador sem possuir nenhum talento especial. A criação é um "estado de ser" do qual estão ausentes os conflitos e as aflições do "eu", estado em que a mente não está toda ocupada com as exigência e lutas do desejo.

Ser criador não significa apenas produzir poemas, ou estátuas, ou filhos; é achar-se naquele estado em que a verdade pode manifestar-se. Surge a verdade quando o pensamento se imobilizou de todo e o pensamento só pode cessar quando o "eu" está ausente, quando a mente cessou de criar, isto é, quando já não está empenhada na perseguição dos seus próprios alvos. Quando a mente está de todo tranquila - sem ter sido forçada ou exercitada para a tranquilidade - quando está em silencio porque o "eu" se tornou inativo, então, há criação.

O amor à beleza pode expressar-se numa canção, num sorriso, ou  no silêncio, mas, em geral, não temos inclinação para o silêncio. Não temos tempo para observar os pássaros, as nuvens que passam, porque andamos muito ocupados com a perseguição dos nossos objetivo e com nossos prazeres. Se não existe beleza em nossos corações, como podemos ajudar os jovens a serem vigilantes e sensíveis? Procuramos ser sensíveis à beleza e evitar o feio; mas evitar o feio, produz insensibilidade. Se desejamos desenvolver a sensibilidade dos jovens, devemos nós mesmos ser sensíveis ao belo e ao feio, e aproveitar todas as oportunidades de despertar neles a alegria que e encontra no ver não apenas a beleza criada pelo homem, mas também a beleza da natureza.

Krishnamurti - A educação e o significado da vida

terça-feira, 26 de abril de 2011

O amor, lhes asseguro, é paixão

Vocês não podem ser sensíveis se não são apaixonados. Não tema essa palavra paixão. Quase todos os livros religiosos, quase todos os gurus suamis, lideres e demais tem dito: “Não sinta paixão”. Porém, se você carece de paixão, como pode ser sensível ao feio, ao belo, as folhas sussurrantes, ao por do sol, a um sorriso, a um canto? Como pode ser sensível sem um sentido de paixão que implica a entrega de si mesmo? Senhores, por favor, escutem-me, não perguntem como adquirir a paixão. Sei que todos são bastante apaixonados quando tratam de conseguir um emprego, ou quando odeiam a um pobre tipo, ou quando estão com ciúmes de alguém; porém, eu me refiro a algo completamente diferente: uma paixão que ama. O amor é um estado em que não existe “eu”; é um estado em que não existe condenação alguma, nem um julgar que o sexo é bom o mal, que isto é superior e aquilo outro é inferior. O amor não é nenhuma destas coisas contraditórias. A contradição não existe no amor. E como se pode amar se não é apaixonado? Sem paixão, como se pode ser sensível? Ser sensível é perceber ao vizinho que se senta junto a nós; é ver o desagradável da cidade com sua esqualidez, sua sociedade, sua pobreza, ver a beleza do rio, do mar, do céu. Se você não é apaixonado, como pode ser sensível a tudo isto? Como pode sentir um sorriso, uma lágrima? O amor, lhes asseguro, é paixão.

26 DE ABRIL OCK - Vol. XI
Krishnamurti - O Livro da Vida

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Paixão por tudo

flor-iris

A maioria de nós emprega a paixão somente em relação com uma coisa: o sexo; ou bem se sofre apaixonadamente, ou se trata de resolver esse sofrimento. Porém, eu uso a palavra paixão no sentido de um estado da mente, um estado de ser, um estado de nossa essência interior – se é que existe tal coisa – que sente com muita força, que é altamente sensível, tão sensível à sociedade, à esqualidez, à pobreza, como as enormes riquezas com sua corrupção, à beleza de uma árvore, de um pássaro, do fluir do rio, do charco que reflete sobre si o céu noturno. É indispensável sentir tudo isto intensamente, energicamente. Porque sem paixão a vida se torna vazia, superficial, e não tem muito sentido. Se você não pode ver a beleza de uma árvore e amar essa árvore se não pode sentir afeto por ela, você não está vivendo.

25 DE ABRIL OCK - Vol. XIV

Krishnamurti - O Livro da Vida

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Viver sem conflito

Diálogo realizado em Brockwood Park, em 20/06/1981 com Bernard Levin, legendas em portugues.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Inocência e Compreensão

Tentemos descobrir se há algum campo de inocência que não tenha sido abrangida pelo pensamento. Descubramos se será possível observar aquela arvore como que pela primeira vez, ou olhar o mundo com toda a sua confusão, tristeza, sofrimento, enganos, brutalidade, desonestidade, crueldade, guerra, olhar toda a concepção do mundo como que pela primeira vez –trata-se de uma questão importante. Nós deixamo-nos conduzir pelas circunstâncias e guiar tanto pelas tendências como pelas inclinações pessoais de modo que jamais chegamos realmente a olhar para "o que é". E olhar isso é inocência. Nesse caso a mente atravessará uma profunda revolução.

A menos que a mente descubra esse campo de inocência, o que quer que empreenda –quaisquer que sejam as reformas sociais, qualquer que seja a actividade, ela será sempre contaminada pelo pensamento, devido a ser um produto do pensamento, que é sempre velho...

Já expliquei o que significa olhar para uma arvore com inocência – é olhá-la sem a imagem que a própria palavra envolve.(...)

Então estaremos sempre diante dos factos, do que é, sem tentar interpretá-lo em termos de inclinação particular ou tendência nem se deixar guiar pelas circunstâncias.

Autor: Krishnamurti - 1967

segunda-feira, 18 de abril de 2011

o Homem religioso

O homem verdadeiramente religioso, se posso usar a palavra, não possui qualquer medo interiormente, psicologicamente. Por homem religioso refiro-me ao homem total, não aquele que é meramente sentimental ou o que se evade do mundo, estonteado com ideias, ilusões e visões. A mente do homem religioso é uma mente tranquila, sã, racional e lógica. E nós precisamos ter assim uma mente e não sentimental, emotiva, temerosa, presa da sua forma de condicionamento peculiar.(...)

Autor: Krishnamurti - Londres, 1962

sábado, 16 de abril de 2011

Rotina

A maioria dos homens, atualmente, aos quarenta e cinco ou cinqüenta anos, está estiolada pela escravidão à rotina, liquidada pela contemporização, pelo medo, e pela submissão - ainda que continue a lutar numa sociedade, que muito pouco significa, exceto para os que a dominam e que estão em segurança.

Autor: Krishnamurti - A Educação e o Significado da Vida

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