quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ser um cidadão ou ser um homem bom?

Se queremos paz, temos de compreender a correta relação entre o homem o e cidadão. O Estado, naturalmente, prefere que sejamos só cidadãos; isso, entretanto, é a estupidez própria dos governos. Nós, de nossa parte, gostaríamos de entregar o homem ao cidadão; porque ser cidadão é muito mais fácil do que ser homem. Ser um bom cidadão é funcionar eficientemente dentro do padrão de uma sociedade. Eficiência e ajustamento são exigidos do cidadão, para torná-lo rijo e cruel - capaz de sacrificar o homem ao cidadão. Um bom cidadão não é necessariamente um homem bom; mas um homem bom não pode deixar de ser um bom cidadão - não de determinada sociedade ou nação.

Sendo, antes de tudo, um homem bom, suas ações não serão anti-sociais; ele não estará contra ninguém. Viverá em cooperação com os outros homens bons; não aspirará à autoridade porque desconhece a autoridade; será eficiente, sem ser cruel. O cidadão procura sacrificar o homem; mas o homem que busca a inteligência suprema, evitará naturalmente as ações estúpidas do cidadão. Por isso, o Estado estará contra o homem bom, o homem de inteligência; esse homem, entretanto, é independente de qualquer governo ou nação.
O homem inteligente criará uma sociedade boa; mas um bom cidadão não fará nascer uma sociedade em que o homem possa ser da mais alta inteligência. O conflito entre o cidadão e o homem é inevitável, quando o cidadão predomina; e qualquer sociedade, que deliberadamente despreza o homem, está condenada. Só haverá a reconciliação do homem e do cidadão quando o processo psicológico do homem for compreendido. Ao Estado, à sociedadepresente, não interessa o homem interior, mas este sempre suplantará o exterior, destruindo os planos sagazmente engendrados para o cidadão. O Estado sacrifica o presente ao futuro e está sempre a proteger-se para o futuro; considera da máxima importância o futuro, e não o presente. Para o homem inteligente, porém, o presente é da mais alta importância, o agora e não o amanhã. O que é só pode ser compreendido com o desaparecimento do amanhã. A compreensão do que é produz a transformação no presente imediato. Esta transformação é que é de suma importância, e não a maneira de reconciliar o cidadão e o homem. Realizada a transformação, cessará o conflito entre o homem e o cidadão.
Krishnamurti - Comentários sobre o viver - Cultrix
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