Comecemos com a “relação”. Que se entende por esta palavra? Estar em relação é estar em contato, em comunhão com outro que me entende e a quem eu entendo; é ter camaradagem, amizade com outro. Quer se trate da relação de marido e mulher, entre pai e filho, quer da relação do indivíduo com a sociedade, tal palavra tem para nós um sentido de comunhão, de contato, fraco ou forte, superficial ou profundo. Penso ser isso o que em geral entendemos por “relação”.
Ora, nós estamos em relação com alguém? Estais em relação com vossa mulher ou marido? Por favor, investigai esta questão, sem meramente presumirdes que estais. Para estardes em relação com alguém, deveis estar em contato com a pessoa, não apenas fisicamente, mas também emocional, intelectualmente — em todos os níveis. E estamos? Parece-me que não. Nossas atitudes, nossas atividades, nossas arrogâncias, nosso orgulho, nos isolam; e, nesse estado de isolamento, procuramos estabelecer uma relação com outro, com a sociedade. Isto é um fato, não é invenção minha. Nós gostaríamos de estar em relação, mas não estamos. Nesse “processo” que chamamos “relações” — as quais constituem a sociedade — julgamo-nos indivíduos, porque temos nome, família, conta no banco; nossos rostos diferem, trajamo-nos diferentemente, etc, etc. Tudo isso nos dá um peculiar sentimento de individualidade. Mas, somos indivíduos reais, ou mero produto condicionado de determinada sociedade, de determinadas influências ambientes?
Ser indivíduo é ser único, interiormente distinto, tranqüilo, só. A mente que está só encontra-se liberta de todo o seu condicionamento. E qual a sua relação com a mente que se acha condicionada? Qual a relação de uma mente que é livre, com outra que não o é? Pode haver relação entre elas? Se vós vêdes e eu não vejo, que relação há entre nós? Podeis ajudar-me, guiar-me, dizer-me isto, aquilo ou aquilo outro; mas só pode haver entre nós um estado de relação, no exato sentido da palavra, quando ambos vemos, isto é, quando podemos comungar imediatamente, no mesmo nível e ao mesmo tempo. Só então, por certo, há possibilidade de comunhão — que é amor, não achais?
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