terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Liberdade Religiosa

PERGUNTA: Estudei muitos sistemas de filosofia e as dou trinas dos grandes guias religiosos. Tendes algo melhor para oferecer, do que o que já sabemos?

KRISHNAMURTI: Pergunto-me a mim mesmo por que é que estudais, porque ledes filosofia, porque ledes os ditos dos guias religiosos. Pensais que o saber que tendes adquirido dos instrutores e dos livros, vos levará a alguma parte? Ele poderá ser útil, numa discussão — para “deitardes erudição”, mostrardes quanto sois perspicaz. Mas o saber acumulado — afora no mundo científico pode conduzir um homem, a vós ou a mim, ao descobrimento do que é real, do que é verdadeiro, Deus, o Eterno? — descobrimento sem o qual a nossa vida muito pouco significa? Sem dúvida, para se achar o Eterno, temos de largar todo o nosso saber, não é verdade? Tudo o que disse Buda, Cristo, ou outro qualquer — tudo isso não tem de ser posto de lado? Senão, estareis meramente a perseguir vossas próprias “projeções” ou a “projeção” da vossa igreja; estareis, na verdade, reagindo ao vosso próprio condicionamento.

Ora, vós tendes de deixar de ser cristãos, hinduístas, budistas ou praticantes da ioga — deveis deixar tudo isso completamente para que “o que está além” (caso exista) possa manifestar-se. Se dizemos, simplesmente, que além existe algo, e aceitamos este Algo, e esperamos alcançá-lo — com isso nos mostramos muito superficiais. Mas, podemos empreender uma jornada sem nada sabermos, sem apoio nenhum, sem sermos cristãos, budistas, hinduístas — que são simples rótulos e denotam uma mente condicionada? O pormos de parte tudo o que sabemos — eis o único problema, e pouco importa que eu tenha “algo melhor para oferecer”. Porque, sem dúvida, um homem deve estar só não isolado, não “sozinho” no saber, na experiência, porque todo saber e toda experiência são obstáculos ao descobrimento do real. A mente deve estar livre de todo condicionamento, tem de estar , para descobrir. Quanto mais uma pessoa observa uma certa prática, quanto mais acumula, quanto mais disciplina, molda, torce, luta, tanto menos compreenderá o que é.

Não estou falando de nenhuma filosofia indiana de negação, de “nada fazer”, quando tendes a mentalidade ocidental de “fazer algo”; não é disso que estou falando. Estamos tratando de coisa completamente diferente. A mente deve tornar-se pura, nova. Não pode ser nova e pura, se há acumulação de saber ou a mera repetição das palavras de um instrutor ou o resultado final de uma certa prática. Não pode a mente tornar-se cônscia de seu próprio condicionamento? — não só do condicionamento superficial, mas de todos os símbolos, ideologias, filosofias, imagens, todas as coisas, enfim, que jazem nas profundezas da mente e a estão condicionando. Tornar-se cônscio dessas coisas e delas libertar-se — eis o que é “liberdade religiosa”. Esta liberdade é que opera a revolução — a única revolução que pode transformar o mundo.

Krishnamurti - 17 de junho de 1955 – Londres
Do Livro: Transformação Fundamental - ICK

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