quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Sobre a importância dos retiros

Pergunta: Tendes estado em retiro nestes últimos dezesseis meses, e isto pela primeira vez em vossa vida. Podemos saber se há nisto alguma significação?


Krishnamurti: Não desejais, também, às vezes, recolher-vos à quietude, para fazer um balanço das coisas, a fim de não vos tornardes simples máquina de repetição, um discursador, um explicador, um expositor? Não desejais fazer isso, alguma vez, não desejais estar em tranqüilidade, não desejais conhecer-vos melhor? Alguns de vós o desejam, mas não o podem fazer por motivos econômicos. Há de haver dentre vós alguns que desejam fazê-lo, mas as obrigações de família, etc., os impedem. De qualquer maneira, é benéfico recolher-nos à tranqüilidade, para proceder a um balanço de todas as coisas que praticamos. Ao fazer isso, uma pessoa adquire experiências que não são reconhecidas, que não são traduzidas, O meu recolhimento, portanto, não tem significação nenhuma para vós. Sinto muito. Mas o vosso recolhimento, se o observardes corretamente, há de ter significação para vós. Julgo essencial que entreis, de vez em quando, em recolhimento, deixando tudo o que estais fazendo, detendo por completo as vossas crenças e experiências, e olhando-as de maneira nova, em vez de ficardes a repetir, como máquinas, o que credes ou o que não credes. Deixaríeis, assim, entrar ar fresco em vossas mentes, não é verdade? Isso significa que tendes de estar inseguros, não é verdade? Se fordes capazes de tanto, estareis abertos aos mistérios da natureza e para as coisas que sussurra ao redor de nós, e que de outra maneira não poderíeis alcançar; encontrareis o Deus que aguarda o momento de vir, a verdade que não pode ser chamada, mas vem por si mesma. Não estamos abertos ao amor e a outros processos mais delicados que se verificam dentro em nós, porque vivemos fechados em nossas ambições, em nossas realizações, em nossos desejos. Não há dúvida de que é muito salutar nos retrairmos de todas essas coisas. Deixai de ser membro de alguma sociedade deixai de ser brâmane, hindu, cristão ou muçulmano. Abandonai o vosso culto, os vossos ritos, retirai-vos completamente de tudo isso, e vereis o que acontecerá. Nesse retiro, não mergulheis noutra coisa qualquer, não abrais livro algum, absorvendo-vos em novos conhecimentos e novas aquisições. Rompei completamente com o passado, e vereis o que acontece. Fazei-o, senhores, e conhecereis o deleite. Descortinareis as imensidões do amor, da compreensão, da liberdade. Quando vosso coração está aberto, então é possível a vinda da realidade. E não mais ouvireis os sussurros dos vossos próprios preconceitos, os ruídos que vós mesmos produzis. Eis porque é salutar entrarmos em retiro, recolher-nos e fazer parar a rotina — não só a rotina da existência exterior, mas também a rotina que a mente estabelece para sua própria segurança e conveniência.
Experimentai-o, senhores, se tendes oportunidade para tal. Então, talvez conheçais a verdade que não pode ser medida. Vereis, que Deus não é uma coisa que se experimente e se reconheça, mas, sim, que Deus é algo que vem a nós sem que o invoquemos. Isso só se dá quando a vossa mente e o vosso coração estão completamente tranqüilos, não estão buscando, esquadrinhando, e quando não tendes nenhum desejo de aquisição. Deus só pode ser encontrado quando a mente não mais busca vantagem para si. Se nos retrairmos de todas essas coisas, talvez não ouçamos mais os sussurros do desejo, e, então, aquilo que está à espera, virá diretamente, infalivelmente.
Krishnamurti - 5 de janeiro de 1952 
Do livro: Quando o Pensamento Cessa
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