Descobriremos o significado da morte, compreendendo a infelicidade e a angústia por ela causada. Quando alguém falece, manifesta-se um choque intenso a que chamamos sofrimento. Exemplo: vocês perdem alguém a quem grandemente amavam, em quem haviam confiado e que suas vidas enriquecia. Quando há sofrimento, sinal da pobreza do ser, buscamos para ele um remédio, o remédio que a religião nos oferece, a unidade final de todos os seres humanos, com muitas teorias que lhe diz respeito. Depois, há o narcótico espírita e o remédio confortável da idéia da reencarnação. Buscamos inúmeras fugas para a angústia causada pela morte de alguém a quem grandemente amamos. Estas fugas são apenas vias sutis para que possamos esquecer-nos de nós mesmos. Nossa preocupação não diz respeito a morte, mas sim, ao nosso próprio sofrimento. Só que o que acontece é que lhe chamamos de amor pelos mortos.
Ora, se vocês não buscam conforto, por mais sutil que ele seja, esse mesmo sofrimento despertará a verdadeira inteligência de vocês, a única que pode revelar o fluxo da realidade. Não estou arquitetando teorias, estou me referindo ao que realmente tem lugar. Preocupados com a morte, vocês se tornam conscientes da sua própria vacuidade, do seu vazio, da sua solidão, e isto ocasiona a dor; e para se libertarem dessa angústia, vocês buscam remédios, consolações. Vocês apenas procuram drogas de escolhas para narcotizar as suas mentes. Assim, a mente torna-se escrava dos ideais, das crenças, e a pesquisa sobre a idéia da reencarnação, no mundo espírita, apenas conduz a maior escravidão. Tudo isto indica a pobreza do ser. Para disfarçar a pobreza do ser, vocês procuram por guias, moldes de conduta, sistemas de pensamento. Porém, jamais, poderão disfarçá-la. Por mais que a mente se esforce para evitá-la, para escapar a essa superficialidade, ela continuará a se expressar por muitas maneiras. É importante que a mente não fuja por meio de qualquer remédio e que defronte integralmente a sua própria vacuidade. Dado o fato de que a maioria de vocês não a ter enfrentado completamente, vocês não podem afirmar que haverá o nada, outra vacuidade. Vocês só verificarão o que tem lugar, após a experiência, quando viverem desta maneira. Quando vocês se tornarem plenamente conscientes, observarão como a mente sempre está procurando evitar o profundo entendimento da causa da tristeza; no entanto, é nesse pleno percebimento que verdadeiramente, vocês dissiparão a causa.
Disfarçando cuidadosamente a causa da vacuidade, que é o egoísmo profundo e sutil, vocês pensam terem resolvido o problema da morte. O sofrimento é apenas a indicação de uma mente estagnada e apegada, mas, em lugar de vocês verificarem isso, apenas procuram outra forma de narcótico para novamente adormecerem. Assim, a vida de vocês é um continuo despertar, chamado tristeza, e novamente uma volta ao sono.
Quando há sofrimento, vocês se previnem em não serem levados ao sono pelos consoladores com seus remédios. Quando a mente perde a sua limitação egoísta, dá-se então, aquele movimento da vida, o perpetuo vir a ser, em que não existe a sombra da morte.
Krishnamurti – Do livro: Krishnamurti no Chile e no México em 1935
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