terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

KRISHNAMURTI EM CARMEL - parte 4

VII

Que efeito tinha a mensagem de Krishnamurti sobre as pessoas que para ela não haviam sido preparadas adequadamente, ou que não haviam tido a sorte de poder conversar diariamente com ele? Eu ficava a imaginar se eles não achariam grande dificuldade para compreender a sua mensagem, se não considerariam a tarefa além de suas forças. Havia chegado o momento de conhecer algo sobre as reações de outras pessoas.

Carmel parecia particularmente propício a isso. Já não havia apenas esses americanos médios que reagiriam diante da mensagem de Krishnamurti de maneira comum, isto é, emotiva e não criticamente, mas também pessoas bem capazes de compreendê-la e criticá-la. Carmel não era o que se poderia chamar de "colônia". Não era a ilha de Capri dos romancistas ingleses - e dos "maníacos" religiosos russos; não era a Positano indefesa sobre a qual se abateram logo depois da guerra bordas de pintores alemães e norte-americanos; não era a Ascona suíça, na qual os sonhadores alemães adoravam muitos e diferentes deuses; nem era mesmo uma daquelas aldeias de pescadores ao longo da costa do Mediterrâneo que, descobertas por algum moderno romancista anglo-americano, da noite para o dia se transformaram num centro internacional de frivolidade. Carmel era uma dessas fracas sobrevivências barrocas, espalhadas aqui e ali, sob os pinheiros e cedros ao longo da costa do passado espanhol da Califórnia. Uma antiga igreja se encontrava fora da pequenina cidade, com sua principal rua chamada Avenida Oceano, onde existia uma farmácia, na qual se podia comprar tudo, desde sanduíches quentes ate romances policiais e goma de mascar; havia também lojas em casas de um só andar que lembravam vagamente a arquitetura colonial. Havia até uma galeria de arte, dirigida por algumas senhoras, destemidamente, que se dedicavam tanto à música como à arte pictórica. Uma vez por mês a grande sala branca da galeria se transformava em sala de concertos, com um palco minúsculo e muitas filas de pequeninas cadeiras. Músicos de todo mundo, que necessitavam dum rápido descanso, durante sua tourne na América do Norte, ali paravam por alguns dias na viagem que os levava de São Francisco a Los Angeles. Realizavam recitais na sala branca, cheia de quadros modernos, onde se aglomerava uma multidão de ouvintes ansiosos. As casas residenciais estavam localizadas em ruas menores, transversais, no meio de pequenos jardins, adornadas de hibiscos e fúcsias de tamanho desusado. Tanto os campos como as planícies que circundavam a cidade haviam até então escapado à suburbanização. Uma ou duas casas haviam sido construídas em algum promontório romântico, dominando o mar e uma vista ilimitada do céu e da costa.

Embora Carmel se tivesse tornado o lar de muitas personalidades criativas, sua vida não fora sufocada por uma unidade de objetivo intelectual ou artístico. Entretanto, a presença de Krishnamurti parecia estar produzindo uma ligação comum, ainda pouco visível, que afetava toda a comunidade. Carmel não se tornou uma colônia de Krishnamurti. Não obstante, sua presença parecia haver centralizado a atenção de seus habitantes e das cidades vizinhas. Del Monte, Monterey e Peble Béach. Asseguraram-me que até nas lojas da Avenida Oceano se falava muito menos em Roosevelt ou nos últimos escândalos de Hollywood do que em Krishnamurti.

Muitos de seus habitantes se haviam aproximado de Krishnamurti diretamente; alguns, sem dúvida, para satisfazer uma curiosidade despertada pela antiga notoriedade do homem, poucos por necessidades religiosas e a maioria talvez por se sentirem pessoalmente, atraídos por ele. Este grupo parecia ser realmente o maior e era formado pelas personalidades mais representativas que compunham a vida social e intelectual da cidade.

VIII

Entre esses encontrei Robinson Jeffers, um dos maiores poetas vivos da América do Norte. Como não se interessava por "movimentos espirituais" ou mestres religiosos, o nome de Krishnamurti nada significava para ele antes de se haverem encontrado, mas, ao se conhecerem, a personalidade deste atraiu de tal maneira Robinson Jeffers que em pouco os dois homens se tornaram amigos. Estava ansioso por encontrar-me com Jeffers, e com prazer aceitei um convite para visitá-lo e à sua encantadora esposa.

Viviam à beira-mar, numa casa feita pelas mãos do poeta, com os calhaus que se encontravam na praia. Trouxera-os, um por um, até construir toda a casa - longo trabalho de cinco ou seis anos, sem qualquer auxílio. Levou ainda dois anos construindo uma torre medieval que dava para o jardim, edificada também com as pedras e contraias na praia. Um caminho íngreme e com degraus em espiral levava à torre, entrando-se numa pequenina e inesperada sala, com paredes almofadadas, um sofá confortável e uma vista maravilhosa da praia e do mar. O barulho das ondas, o contorno negro dos rochedos - de cujas pedras cinzentas a torre e a casa haviam sido construídas - o vento e o ar fresco e salgado da atmosfera lembravam Cornwall.
Passei toda uma tarde na pequenina sala da torre, conversando com o dono da casa sobre Krishnamurti. Algumas achas de madeira queimavam na pequena lareira, e a Califórnia parecia muito distante. Robinson Jeffers era reservado e tímido e podia-se dizer que seu persistente silêncio denotava temor interior de que uma palavra falada destruísse imagens que amadureciam em sua mente de poeta. Usava culatras e polainas caquis e, se não fossem os olhos sonhadores e a grande expressão de ternura da boca, poder-se-ia tomá-lo por um inglês. Sua esposa e amigos me haviam avisado de que eu teria de fazer as honras da conversa, mas uma ou duas vezes consegui fazê-lo falar. Disse-me ele no seu modo lento e hesitante: "Concordo integralmente com a mensagem de Krishnamurti - nada há nela que eu possa contradizer."

"Julga o senhor que algum dia sua mensagem se tornará popular?"

"Agora não. Muita gente não a achará bastante inteligível."

"Que o impressionou mais, quando o viu pela primeira vez?"

"Sua personalidade. Minha senhora diz muitas vezes que uma luz parece entrar na sala quando Krishnamurti chega; concordo com ela, pois ele é a ilustração mais convincente de sua sincera mensagem. A mim não interessa que ele fale bem ou não. Sinto sua influência mesmo sem palavras. Há poucos dias demos juntos um passeio pelas montanhas. Andamos cerca de dez milhas; como sou um péssimo conversador, mal pronunciamos algumas palavras - e mesmo assim senti-me mais feliz depois do passeio. É sua própria personalidade que parece difundir a verdade e a felicidade sobre as quais fala constantemente." Robinson Jeffers acendeu o cachimbo que se havia apagado e depois sentou-se novamente, contemplando as chamas da lareira.

"Em sua opinião, a mensagem de Krishnamurti já chegou à maturidade, já encontrou a sua formulação final?"

"Talvez seja final, mas penso que não está inteiramente amadurecida. Só estará quando suas palavras se tornarem inteligíveis a todos. Atualmente ainda há certa sutileza nelas. Não concorda?

"Inteiramente. Confesso que às vezes não sei de todo como escrever sobre ele. Tudo o que ponho no papel me parece muito pouco convincente e torna Krishnamurti a antítese do que realmente é: fá-lo parecer convencido, um sujeito presumido e condescendente. Interpretando-o, seus argumentos tornam-se irritantes e nada persuasórios. E, no entanto, são tão verdadeiros quando ele os usa em conversa. É quase impossível descrevê-lo, pois tudo depende de sua personalidade e bem pouco, do que diz."

"É isso mesmo; é quase impossível descrever certas personalidades.

"Creio que isso se deve principalmente ao fato de as faculdades intelectuais de Krishnamurti não se haverem desenvolvido tão completamente quanto o seu lado espiritual. Afinal, intelectualmente, ele ainda é muito jovem. A maior parte de sua vida se passou no seminário teosófico. Muitas de suas idéias foram abafadas naqueles dias. Vários mestres impressionam por seu saber; Krishnamurti fá-lo por sua própria personalidade, que inspira os seus ouvintes, e não pela qualidade especial de sua sabedoria."

"Julgo ser isto mesmo", replicou Jeffers no seu jeito calmo e moroso. "Outros terão que descobrir uma linguagem clara e convincente para expressar sua mensagem. Afinal, não seria a primeira vez que os seguidores de um mestre teriam de construir uma ponte através da qual uma nova mensagem pudesse chegar às massas."

Encontrei várias pessoas em Carmel e também noutras partes da América do Norte, que externaram opiniões semelhantes. Vários habitantes de Carmel me disseram não conseguir compreender a mensagem de Krishnamurti nem ver o seu lado prático - mas todos me confessaram que ele lhes dava uma sensação de felicidade e calma que jamais haviam conhecido antes.

Nos domingos à tarde, quem quisesse podia ir ao hotel em que estava hospedado Krishnamurti e tomar parte na conversa geral na grande sala de estar. Essas discussões me distraíam mais do que interessavam, pois nelas surgiam perguntas puramente pessoais, muitas vezes sem importância ou provocadas por simples curiosidade intelectual. Eu disse a Krishnamurti o que pensava, mas em sua opinião ele podia ajudar os outros a encontrar a verdade para si, quando, juntos, estudassem as respostas. Às vezes eram vinte, outras duzentas pessoas que compareciam a essas discussões domingueiras, que criavam um núcleo para mensagem de Krishnamurti na Califórnia.

Era sempre a individualidade de Krishnamurti que mais impressionava as pessoas. Todos sentiam que esse era um homem que vivia seus ensinamentos mais convincentemente do que os pregava. Disseram-me que ao chegar aos Estados Unidos deram-lhe um tempo ilimitado para residir ali. Sugeriram-lhe, no entanto, que se fizesse constar de seu passaporte que entrava no país como professor conseguiria condições mais favoráveis. Vários amigos insistiram para que ele, por conveniência própria, se intitulasse professor; mas Krishnamurti recusou-se a fazê-lo. Um conhecimento oficial de seu estado de professor provocaria muitas daquelas interpretações erradas que ele repudiara quando dissolvera todas as suas sociedades. A decisão de Krishnamurti pode parecer pedante, mas era a única condizente com sua atitude em relação à verdade.

Após uma semana passada quase constantemente na companhia de Krishnamurti senti que já podia formular minha própria opinião sobre seus ensinamentos. Quais eram os principais pontos de sua mensagem? A verdade só pode provir de uma iluminação interior, e esta só será possuída por quem reconhecer plenamente todas as facetas da vida. Encontramos a verdade através de urna percepção interior permanente de nossos pensamentos, sentimentos e ações. Somente essa percepção é capaz de libertar-nos automaticamente de nossos defeitos ou de resolver nossos problemas, sem que procuremos forçar a sua solução. A vida só se torna uma realidade mediante uma afável e individual identificação com cada um de seus momentos, e nunca através de nossas tentativas habituais e mecânicas. Não há necessidade de sacrifícios ascéticos ou semelhantes, visto nossas limitações primitivas serem eliminadas automaticamente por uma vida plena.

Facilmente podia verificar-se que a mensagem de Krishnamurti era mais ou menos a mesma de Cristo, Buda ou, ainda, algum verdadeiro mestre religioso. Tudo o que ele pedia era que todos vivessem uma vida pessoal de percepção interior. Isto, somente possível por meio de amor e reflexão, abre-nos as portas da verdade. Numa vida tal, nenhum de nossos defeitos, criados por nós mesmos - inveja, ciúme, ódio, sentimento de posse - existirá.

O problema de até onde seria compreendida a linguagem de Krishnamurti parecia-me da máxima importância, e decidi falar-lhe mais uma vez sobre isto. Era um dos meus últimos dias em Carmel e eu estava passeando com ele. "Tenho conversado com toda espécie de pessoas que já o ouviram", disse-lhe, "e procurei verificar se seus ensinamentos são tão convincentes para eles como o são para mim. Muitos julgam seus ensinos extremamente difíceis, e entristece-me ver como acham tão penoso entender algo que para mim é a própria simplicidade. Por que será que Deus o fez parecer tão complicado?" Suspirei, mas Krishnamurti apenas sorriu: "Não foi Deus, mas nós mesmos. Parece complicado por causa de nosso poder de livre escolha."

"Por causa da livre escolha?", interrompi espantado.

"Justamente; é apenas o livre arbítrio que cria conflito em nossa vida; e os conflitos são responsáveis pela deterioração. Pela livre escolha começamos a inventar dificuldades e complicações, das quais somos forçados a libertar-nos, uma por uma, para abrir o caminho para a verdade."

"Devemos, então, desesperar-nos, segundo você, justamente porque nos foi dada a faculdade da livre escolha? Teria sido melhor se fôssemos como os animais, que seguem sua sorte negra e desconhecem o que significa o livre arbítrio?"

"Nada disso. Somente os espíritos sem inteligência exercem escolha na vida. Quando falo de inteligência, refiro-me a ela no seu mais vasto sentido; refiro-me àquela profunda inteligência interior da mente, da emoção e da vontade. Um homem verdadeiramente inteligente não pode ter escolha, porque sua mente só percebe o que é verdadeiro, só podendo, assim, escolher o caminho da verdade. A mente inteligente age e reage naturalmente, dando o máximo da sua capacidade. Identifica-se espontaneamente com a coisa certa. Ela não pode absolutamente ter qualquer escolha. Apenas o homem não inteligente é que exerce o livre arbítrio."

Esta era uma interpretação bastante inesperada do livre arbítrio. "Nunca encontrei antes tal concepção", disse eu: "mas ela me parece convincente."

"Não pode ser nada mais; é apenas isto."

Em várias e anteriores ocasiões já notara que ele nunca parecia consciente da novidade de algum de seus pronunciamentos ou do resultado inesperado de uma conversa. Nunca discutia pelo simples prazer da discussão, nem por minha causa, mas sempre para esclarecer-nos a ambos sobre o problema em discussão. O motivo por que tinha de se expor à acusação de ambigüidade tornou-se claro para mim. Somente a verdade encontrada através de colaboração acrescida de esforço pessoal pode ter qualquer significação.

Subitamente Krishnamurti parou: "Muitas coisas se tornaram mais claras para mim depois que começamos nossas palestras diárias. Eu quis dizer-lhe no outro dia que depois de uma de nossas primeiras conversas experimentei uma sensação particularmente viva de percepção interior da vida. Ia a pé para casa, pela praia, quando me tornei tão profundamente consciente da beleza do céu, do mar e das árvores ao redor de mim que era quase uma sensação física de alegria. Toda separação entre mim e as coisas que me rodeavam deixou de existir, e eu segui plenamente consciente daquela espantosa unidade. Quando cheguei a casa e me reuni aos outros, ao jantar, era como se eu tivesse de ocultar meu estado interior atrás de um biombo; mas, embora eu estivesse sentado entre várias pessoas, falando sobre diferentes assuntos, aquela percepção interior de unidade com tudo não me deixou por um só segundo."

"Como chegou a esse estado de unidade com todas as coisas?"

"Muitas pessoas já me fizeram esta pergunta, e sinto sempre que esperam ouvir o relato dramático de algum milagre repentino que me tivesse tornado subitamente um só com o universo. Na verdade, nada disso aconteceu. Minha percepção interior sempre existiu, se bem que demorei a senti-la cada vez mais claramente, tendo também custado a encontrar palavras que a descrevessem. Não foi um repentino relâmpago, mas um esclarecimento constante, embora lento, de algo que sempre existiu. Não cresceu, como muita gente pensa. Nada que encerre alguma importância espiritual pode crescer dentro de nós. Já tem que se encontrar presente com toda a pujança e a única coisa que acontece é tornarmo-nos cada vez mais conscientes disso. É nossa reação intelectual e nada mais que necessita de tempo para tornar-se mais articulada, mais definida".

Na véspera de minha partida, quando chegamos ao nosso local favorito, sob os pinheiros do outeiro, senti que aquela era nossa última conversa. Comumente as despedidas trazem a meus lábios palavras que me sentiria acanhado de pronunciar em circunstâncias menos excepcionais. A presença de Krishnamurti, entretanto, excitou minhas faculdades emotivas sem fazer-me sentir como um tolo. "Krishnaji", disse pegando-lhe as mãos entre as minhas, "minha visita chega ao fim. Sou-lhe muito grato por estes maravilhosos dias. Entretanto, quero ainda falar-lhe sobre um assunto que já discutimos várias vezes."

"Que é? Não se sinta acanhado diga."

"Compreendo seu ponto de vista de que sua missão não é agir como um médico, não lhe sendo possível prescrever pílulas espirituais para as criaturas. Mas, ainda assim, diga-me: Como pretende você ajudá-las? Sei que deseja que todos vivam tão integralmente que se tornem verdadeiros e tão verdadeiramente que sejam capazes de se libertarem do espírito de posse, da inveja, da cobiça. Mas uma tal revolução interior exige força que só bem poucos possuem. Você o conseguiu, e encontra-se no topo de uma montanha na qual vive em estado de unidade com o mundo, o que significa em êxtase constante. Entretanto, você se esquece de que nós todos, milhões e milhões de seres, vivemos nas vastas planícies, ao pé da montanha. Poucos suportariam uma vida de êxtase contínuo. Ela os abrasaria; viver em permanente estado de percepção, coisa essencial, os destruiria. Compreendo que seja esse o alvo; compreendo que seja a única vida que valha ser vivida; mas não julgo que estejamos tão amadurecidos que possamos fazê-lo"

Krishnamurti chegou-se para bem perto de mim - como já fizera várias vezes antes - olhou profundamente em meus olhos e disse com sua voz melodiosa: "Você tem razão. Eles vivem nas planícies e eu vivo, como você disse, no alto da montanha; mas eu espero que aumente sempre o número de seres humanos capazes, de suportar o ar fresco do tope da montanha. Um homem infinitamente maior que qualquer um de nós teve que seguir seu caminho até chegar ao Gólgota, não importava se seus discípulos o podiam seguir ou não; não importava que sua mensagem fosse imediata ou tivesse de esperar por séculos. Como pode você esperar que eu tenha algo que ver com o que deve ser feito e como ser feito? Se alguém esteve no tope da montanha, já não pode voltar à planície. Pode apenas tentar fazer com que outros sintam a pureza do ar e gozem a vista infinita e se tornem uno com a beleza da vida ali".

Desta vez não havia tristeza na voz de Krishnamurti e, em seu olhos, percebia-se uma luz que era amor, compaixão, simpatia, que antes já me comovera várias vezes. Quando nos levantamos e subimos vagarosamente a colina que levava à sua casa, não havia nele o menor sinal de desânimo. O sol se deitava, e faixas de nuvens verdes e rosas se espalhavam por todo o céu. A noite desce rapidamente nessas regiões, e dentro de poucos minutos a luz desaparece.

X

Apertamo-nos as mãos e desci em direção à praia, como fizera diariamente desde que chegara a Carmel. Era natural que nesse último dia em que o visitava, toda a vida de Krishnamurti se desdobrasse diante de mim. Haverá outra vida nos tempos modernos que se compare à dele? Tem havido muitos Mestres e Instrutores, Ioguis e Lamas adorados por seus seguidores. Mas nenhum deles foi arrebatado de sua existência comum para ser ungido como o prometido Instrutor do Mundo. Nenhum deles foi aceito pelo Oriente e pelo Ocidente, pelo mais antigo continente e pelo mais novo, pelos cristãos, hindus, judeus e muçulmanos, por crentes e agnósticos.

Nem Ramakrishna, nem Vivekananda foram educados e criados para sua futura missão de Messias; nem Gandhi, Mrs. Baker Eddy, Steiner ou Mme. Blavatsky conheceram tão estranho destino. Nem nos registros dos místicos do Ocidente, nem nos livros dos ioguis e santos do Oriente encontramos a história de um "santo" que depois de vinte e cinco anos de preparação para um destino divino resolve tornar-se num ser humano comum, renunciando não apenas aos bens materiais, mas também a todas as suas pretensões religiosas. Estava quase escuro e as primeiras estrelas começavam a aparecer. A atenção não era dispersada por luz, cores e aspectos do dia. O misterioso exemplo do notável fado de Krishnamurti tornava-se mais claro, e comecei a compreender o que queria ele dizer quando me contara que até pouco antes a vida fora um sonho para ele, mal tendo consciência da existência externa em seu derredor. Não teriam sido os anos de preparação? Não teriam sido os anos durante os quais o homem Krishnamurti procurava encontrar-se a si mesmo, para substituir aquele primitivo ego através do qual a Sra. Besant e Charles Leadbeater, a teosofia e uma estranha credulidade agiram durante mais de vinte anos?

Efetivamente, não era única a história de Krishnamurti? O mestre que renuncia ao trono no momento do seu despertar, no instante em que dentro dele o Deus tem de ceder o lugar ao homem, e o homem pode começar a achar Deus dentro de si? Mesmo durante os anos em que seu espírito penava em sonhos, não estivera ele cheio de uma verdade que ainda hoje é tão misteriosa que não chegamos a compreendê-la?

(Do livro de Rom Landau “God is my Adventure”.
Tradução de Marina Brandão Machado).

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