sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Sobre a insatisfação

Por que nunca estão satisfeitos os entes humanos? Não é porque estão em busca da felicidade e porque pensam que, pela constante variação, serão felizes? Passam de um emprego para outro, de um estado de relação para outro, de uma religião ou ideologia para outra, pensando que, com esse constante movimento de mudança, encontrarão a felicidade; ou ainda, procuram um canto isolado da vida, e aí se deixam estagnar. Ora, por certo, o contentamento é coisa muito diferente. Só se torna existente quando vêdes a vós mesmo, tal como sois, sem nenhum desejo de mudança, nenhuma condenação ou comparação - que não significa aceitar simplesmente o que se vê e deitar-se a dormir. Mas, quando a mente já não está comparando, julgando, avaliando e é, portanto, capaz de ver o que é, de instante em instante, sem desejar alterá-lo - nesse próprio percebimento se encontra o Eterno.

Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

sábado, 24 de dezembro de 2011

A superficialidade do cérebro

O cérebro vive na sombra de seu próprio sofrimento, incapaz de transcender sua futilidade. Ativo ou inerte, nobre ou ignóbil, é infinita sua superficialidade. Incapaz de escapar de si mesmo, vive na sordidez de sua virtude e moralidade. Só lhe resta permanecer imóvel, o que não deve ser confundido com inércia ou indolência. Esta imobilidade é a única maneira de se preservar a sensibilidade do cérebro. 

(...) A imensidão do Indescritível somente aflora na completa imobilidade do cérebro.

J. Krishnamurti (Diário de Krishnamurti)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Sobre o condicionamento cristão

Como cristãos vocês foram criados no seio de uma igreja erigida pelo homem há cerca de dois mil anos, com seus padres, seus dogmas e rituais. Na infância foram batizados e quando cresceram lhes foi dito em que acreditar; vocês passaram por todo esse processo de condicionamento, de lavagem cerebral. A pressão dessa religião propagandista é, obviamente, muito forte, sobretudo porque ela é bem organizada e apta a exercer influência psicológica através da educação, de adoração de imagens, do medo, e capaz de condicionar a mente de incontáveis maneiras.

Krishnamurti - Sobre Deus - Ed. Cultrix

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Educar para que?

  • É evidente que deve haver alguma espécie de disciplina nas escolas, mas como exercê-la?
É fato que fizeram experiências na Inglaterra e noutros países onde as escolas não tinham disciplina de espécie alguma; permitia-se às crianças fazer o que bem entendiam, sem serem nunca estorvadas. Essas escolas não ignoram, naturalmente, que as crianças necessitam de alguma espécie de disciplina, no sentido de orientação: não com rigorosos deveres e proibições, mas disciplina consistente em alguma espécie de advertência, sugestão ou alusão, a fim de mostrar as dificuldades. Essa espécie de disciplina, que de fato é uma orientação, é necessária.

A dificuldade surge quando a disciplina consiste apenas em submeter a criança a um determinado padrão de ação, pela compulsão, pela intimidação. O caráter dessa criança, naturalmente, se deforma, sua mente se perverte, por causa da disciplina, por causa dos muitos tabus e restrições que tem de observar; cresce, assim, a criança, como aconteceu com a maioria de nós, medrosa e com um sentimento de inferioridade.

Quando a disciplina põe a criança à força num determinado molde, ela não pode, naturalmente, tornar-se inteligente mas, sim, um mero produto da disciplina; e como pode essa criança ser viva, criadora, e por conseguinte tornar-se um homem "integrado", inteligente? É mera máquina de funcionamento uniforme e eficiente, uma máquina sem inteligência humana.

Assim, a questão da disciplina constitui um problema muito complexo, porquanto pensamos que sem disciplina na vida, cometeremos excessos e nos tornaremos excessivamente sensuais. É este o único problema com que de fato nos preocupamos: como não nos tornarmos excessivamente sensuais. Você pode ser  desregrado em todos os outros sentidos — ambicionar posição, ser ganancioso, violento, enfim, fazer qualquer coisa, contanto que vos mantenhais dentro de certos limites, com relação ao sexo. É muito estranho, vocês não acham?

É muito estranho que nenhuma religião se oponha verdadeiramente à exploração, à ganância, à inveja, e todas se interessam pelo ato sexual, todas manifestam um zelo terrível com relação à moral sexual. É muito singular a grande preocupação das religiões organizadas com relação a essa moral, enquanto as outras coisas podem ter livre expansão .

É fácil perceber por que as religiões organizadas põem seu principal interesse na moralidade sexual. Elas não cuidam do problema da exploração, porque as religiões organizadas dependem da sociedade e dela vivem, e não ousam por isso atacar a raiz e a base dessa sociedade; por essa razão, preferem manobrar com a moral sexual. 

Embora costumemos a falar de disciplina, o que entendemos por essa palavra? Quando vocês tem uma classe de cem alunos, necessitaram de disciplina, do contrário será um caos completo. Mas, se vocês tivessem cinco ou seis alunos em cada classe, com uma instrutora inteligente e de coração afetuoso, capaz de compreensão, estou certo de que não haveria necessidade de disciplina; ela haveria de compreender cada criança e ajudá-la pela maneira desejada.

A disciplina se torna necessária nas escolas, quando há um mestre para cem alunos e alunas — aí, não há dúvida nenhuma que é necessário ser mais rigoroso. Mas essa disciplina nunca produzirá um ser humano inteligente. E a maioria de nós é simpatizante dos movimentos em massa, das grandes escolas com milhares de alunos e alunas; não nos interessa a inteligência criadora, e por isso construímos escolas colossais, com frequencias descomunais. Numa das universidades há, se não me engano, 45.000 estudantes. O que fazer quando se tem de educar todo o mundo, numa escola tão vasta? Em tais circunstâncias, naturalmente, é imprescindível a disciplina.

Não sou contrário à educação geral; seria estupidez minha dizer que sou. Sou pela educação adequada, correta, a que traz inteligência; e isso se realiza, não pela educação em massa, mas somente pelo dispensar a cada criança a necessária atenção, estudando-lhes as dificuldades, as idiossincrasias, tendências, capacidades, velando por ela com afeição, com inteligência. Só então há possibilidade de se criar uma nova sociedade.

Conta-se um caso curioso — um bispo que lia a Bíblia para os analfabetos dos mares do Sul, que ficavam encantados com as narrativas. Maravilhado com o fato, julgou ele que seria interessante voltar à América, angariar dinheiro e fundar escolas em todas as ilhas dos Mares do Sul. Assim o fez: angariou muito dinheiro na América, voltou às ilhas e ensinou o povo a ler. E o resultado foi que deram para ler publicaçõesc ômicas, o Saturday Evening Post, Look, e outras revistas excitantes e sugestivas! É exatamente o que estamos fazendo!

Outro fato extraordinário é que, quanto mais o povo lê, tanto menos rebeldia há. Vocês já refletiram sobre quanto veneramos a palavra impressa? Se o governo emite uma ordem ou dá uma comunicação, em letra de forma, nós a aceitamos tal e qual, nunca a colocamos em dúvida. A palavra impressa tornou-se sagrada. Quanto mais se ensina o povo, tanto menor a possibilidade de revolução, — o que não significa que eu seja contrário a que se ensine o povo a ler. Mas cumpre perceber os perigos que isso implica.

Os governos controlam o povo, dominam-lhe a mente e o coração por meio de astuta propaganda. Isso está acontecendo não apenas nos países totalitários, mas no mundo inteiro. O jornal tomou o lugar do pensamento, os cabeçalhos tomaram o lugar da verdadeira cultura e compreensão. 

A dificuldade, por conseguinte, é que na atual estrutura da sociedade, a disciplina se tornou um fator importante, porque desejamos educar um grande número de crianças ao mesmo tempo e o mais rapidamente possível. Educá-las para que? Para serem funcionários de banco ou eficientes super-vendedores, capitalistas ou comissários. Quando uma pessoa é um super-homem de alguma espécie, um super-governador, ou um parlamentar muito sutil no debate, qual o seu mérito? É provavelmente uma pessoa muito inteligente, recheada de fatos.

Ora, qualquer um pode acumular fatos; mas nós somos entes humanos e não máquinas de ajuntar fatos, autômatos objetos da rotina. Mas, vocês não tem interesse; e não fazem coisa alguma no sentido de modificar radicalmente o sistema educativo; e, nessas condições, ele continuará a arrastar a sua existência até que venha a revolução monstruosa, que será apenas outro substituto, com controle muito mais rigoroso, uma vez que os totalitários sabem muito bem moldar as mentes e os corações do povo, — aprenderam o jeito de o fazer. 

Essa é a desgraça, essa é a nossa lamentável fraqueza: desejamos que outros façam as alterações, as reformas, desejamos que outros edifiquem por nós. Ouvimos e permanecemos inativos; e quando a revolução obtém sucesso e outros indivíduos edificaram uma nova estrutura, e há todas as garantias, então nos solidarizamos. Por certo, essa não é uma mentalidade inteligente, criadora: a nossa mente, em tal caso, só está em busca de segurança, sob forma diferente. A busca de segurança é um processo estúpido. Para vocês se sentirem seguros, psicologicamente, vocês precisam de disciplina, e a disciplina garante o resultado — por ela os entes humanos são convertidos em rotineiros ocupantes de cargos: funcionários de bancos, comissários, reis ou primeiros-ministros. Sem dúvida, esta é a mais alta expressão da estupidez, porque então os seres humanos são simples máquinas. 

Vejam o perigo da disciplina: o perigo é que a disciplina se torna mais importante do que o ente humano; o padrão de pensamento, o padrão de ação torna-se muito mais importante do que os indivíduos que a eles são ajustados. Continuará a existir a disciplina, inevitavelmente, enquanto o coração estiver vazio, porque ela é, então, um substituto da afeição. Como somos em geral áridos, vazios, queremos disciplina. Um coração afetuoso, um ente humano rico, "integrado", é livre, não tem disciplina. 

A liberdade não vem por meio da disciplina, não precisamos nos submeter a disciplina alguma, para sermos livres. A liberdade e a inteligência começam muito perto e não longe de nós; e esta é a razão por que, para chegarmos longe, precisamos começar inteligentemente, partindo de nós mesmos. 

Krishnamurti - Paz no Coração

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sobre o despertar da inteligência criadora

Certamente, para se criar uma criança sadia, torná-la inteligente, ajudá-la a compreender, de modo que possa discernir todas essas tolices, vocês tem que compreender e expor-lhe  todos os males do tradicionalismo e da aceitação da autoridade. Isso significa que vocês precisam incentivar o descontentamento; enquanto, em geral, o que nos interessa é diminuir, é banir o descontentamento. É só no descontentamento que podemos ver a falsidade de todas essas coisas; mas, envelhecendo, começamos a cristalizar. 

A maioria dos jovens é descontente, mas por desgraça o seu descontentamento é canalizado, padronizado: tornam-se mentores de classes, clérigos, bancários, gerentes de fábricas, e aí param. Obtêm um emprego e em pouco tempo seu descontentamento definha e morre. É muito difícil manter esse descontentamento desperto, vigilante; mas é o descontentamento, essa constante indagação, essa insatisfação com as coisas como estão — com o governo, com a influência dos pais, da esposa ou do marido, com tudo o que nos rodeia — que faz vir a inteligência criadora.

Mas não desejamos que nosso filho seja assim, porque é muito incômodo viver com alguém que está sempre duvidando dos valores tradicionais, sempre examinando-os. Achamos melhor cercar-nos de pessoas obesas, satisfeitas, preguiçosas.

São vocês, os adultos, os responsáveis pelo futuro... Mas o futuro não lhes interessa. Só Deus sabe o que lhes interessa, ou porque geram tantos filhos — pois não sabem educá-los. Se vocês os amassem de verdade, em vez de apenas destiná-los, a conservar a sua propriedade e o seu nome, haveriam, sem dúvida, de tratar esse problema de maneira nova. Vocês provavelmente teriam de fundar novas escolas; provavelmente teriam de ser vocês mesmos o instrutor.  

Mas, infelizmente, vocês não sentem muito interesse por qualquer coisa nova na vida, a não ser ganhar dinheiro, comer e satisfazer o sexo. Nessas coisas vocês são muito "integrados", mas não desejam fazer frente ou se aplicar às restantes complexidades e dificuldades da vida; e por isso, quando geram filhos e eles crescem, são tão imaturos, tão "desintegrados", tão pouco inteligentes como vocês mesmos, que vivem em constante batalha consigo mesmo e com o mundo.

Assim, são os mais velhos os responsáveis por esse espírito comunalista. Afinal, por que deve haver divisões entre um homem e outro? Vocês são muito semelhantes a qualquer outro. Podem ter um corpo diferente, o semblante de vocês pode ser diferente do meu, mas, interiormente, somos muito parecidos: orgulhosos, ambiciosos, coléricos, violentos, lascivos, ávidos de poder, de posição, de autoridade, etc. Se nos tirarem os rótulos, ficamos nus. 

Mas, não queremos olhar de frente a nossa nudez ou nos transformar, e é por isso que adoramos os rótulos — o que indica extrema falta de maturidade, extrema infantilidade. 

Com o mundo desabando estrondosamente bem perto de nossos ouvidos, estamos discutindo sobre se um indivíduo deve pertencer a esta ou àquela camada social hereditária, ou se pode colocar as vestes sagradas, ou que espécie de cerimônia deve executar — denotando tudo isso uma absoluta falta de pensamento, vocês não acham?

A vida exige ação extraordinária, criadora, revolucionária. Só no despertar dessa inteligência criadora há possibilidade de se viver num mundo pacífico e feliz.

Krishnamurti - Paz no Coração  

Suprema felicidade

Para mim, a verdade, essa integridade de que falo, acha-se em todas as coisas. Portanto, a idéia de que necessitais progredir em direção a realidade, é uma idéia falsa. Não se pôde progredir na direção de uma coisa que sempre está presente. Não se trata de avançar para o exterior ou de voltar-se para o interior, mas sim de se libertar dessa consciência que se percebe a si mesma como separada. Quando houverdes realizado tal integridade, vereis que tal realidade não têm ela futuro nem passado; e todos os problemas relacionados com tais coisas desaparecem inteiramente. Uma vez que o homem realize isso, vem-lhe a tranqüilidade, não a da estagnação, porém a da criação, a do ser eterno. Para mim a realização desta verdade é a finalidade do homem.

KRISHNAMURTI - Senhor do Dia de Amanhã

sábado, 17 de dezembro de 2011

Vocês não são indivíduos

Atualmente, vocês não são indivíduos, e sim meras máquinas de imitar, produto de um certo meio cultural, um certo sistema educativo. Vocês são o corpo coletivo, não são indivíduos, sendo isto muito óbvio. Todos são hinduístas ou cristãos, isto ou aquilo, com certos dogmas, crenças, o que significa que são produto da massa. Por conseguinte, não são indivíduos. Vocês precisam estar totalmente descontentes, para poderem descobrir. Mas a sociedade não deseja vê-los descontentes, porque vocês teriam então vitalidade, começariam a inquirir, a investigar, a descobrir e, conseqüentemente, vocês se tornariam perigosos para ela.

Krishnamurti - Da solidão à Plenitude Humana - ICK

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A ânsia de segurança produz o conformismo

Ansiamos a segurança e esse anseio é um obstáculo à nossa libertação pelo conhecimento da Verdade. Cada um de nós deseja submeter-se a algum padrão; porque a submissão é mais fácil do que a vigilância. A submissão a padrões representa a base de nossa existência social, pois temos medo de estar sós. O temor e a renúncia a pensar acarretam a aceitação e a submissão, a aceitação de autoridade. Tal como acontece com o indivíduo assim também acontece com o grupo, com a nação.

Krishnamurti - O Egoísmo e o problema da paz - ICK

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Há alguma verdade nas teorias, nos ideais, nas crenças?

A pergunta é: Será que existe verdade nas religiões, nas teorias, nos ideais, nas crenças? Vamos examinar. O que queremos dizer com religião? Certamente não, a religião organizada, e não o hinduísmo, o budismo, ou o cristianismo, que são todas  crenças organizadas com sua propaganda, de conversão, o proselitismo, compulsão e assim por diante. Existe alguma verdade na religião organizada? Pode ser difícil de engolir, mas a religião organizada em si não é verdade. Portanto, a religião organizada é falsa, ela separa o homem do homem. Você é um muçulmano, eu sou um hindu, um outro é um cristão ou um budista e estamos discutindo, massacrando uns aos outros. Existe alguma verdade nisso? Nós não estamos discutindo religião como a busca da verdade, mas estamos considerando se há alguma verdade na religião organizada. Estamos tão condicionados pela religião organizada a pensar que há verdade nela que temos acreditado que chamando-se de hindu, somos alguém, ou que vamos encontrar a Deus. Que absurdo, senhor, para encontrar Deus, para encontrar a realidade, deve haver virtude. Virtude é a liberdade e só através da liberdade a verdade pode ser descoberta, não quando você é pego nas mãos da religião organizada, com suas crenças. E há alguma verdade nas teorias, nos ideais, nas crenças? Por que você tem crenças? Obviamente, porque as crenças lhe dão segurança, conforto, um guia. Em si mesmo você está com medo, você quer ser protegido, pretende se apoiar em alguém e, portanto, cria o ideal, que o impede de compreender o que é. Portanto, um ideal se torna um obstáculo para a ação. 

J. Krishnamurti, O Livro da Vida

A ilusão da ideologia especulativa

Teorias e crenças não alteram a nossa vida; o homem sempre as teve, através de milhares de anos, e não mudou; deram-lhe elas, talvez, um polimento superficial; tornaram-no talvez menos selvagem, mas o homem continua brutal, violento, caprichoso, incapaz e manter seriedade. Vivemos uma vida em que há muito sofrimento, do nascimento à morte. Eis um fato; não há quantidade de teorias e especulações que possam alterá-lo. O que realmente altera "o que é" é a capacidade, a energia, a intensidade, a paixão com que o olhamos. E não poderemos ter essa paixão e intensidade se nossa mente está a correr atrás de alguma ilusão, de alguma ideologia especulativa.

Krishnamurti - Fora da Violência - Ed. Cultrix

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Nada novo sobre a insatisfação nas teorizações

Teorias e crenças não alteram a nossa vida; o homem sempre as teve, através de milhares de anos, e não mudou; deram-lhe elas, talvez, um polimento superficial; tornaram-no talvez menos selvagem, mas o homem continua brutal, violento, caprichoso, incapaz e manter seriedade. Vivemos uma vida em que há muito sofrimento, do nascimento à morte. Eis um fato; não há quantidade de teorias e especulações que possam alterá-lo. O que realmente altera "o que é" é a capacidade, a energia, a intensidade, a paixão com que o olhamos. E não poderemos ter essa paixão e intensidade se nossa mente está a correr atrás de alguma ilusão, de alguma ideologia especulativa.
Krishnamurti - Fora da Violência - Ed. Cultrix

As teorias são isentas de valor para um homem que vive, embora sejam excelentes para um homem morto.

Para a elaboração de teorias, não há fim.

Teorias são moldes nos quais a mente humana tem de conformar-se, e, onde houver conformidade, não haverá inteligência.
Krishnamurti - Coletânea de Palestras, 1931

Nada novo em conhecimentos, ideias sobre ideias, sobre ideias


Certamente, um homem que está compreendendo a vida não possui crenças. Um homem que ama, não possui crenças - ele ama. O homem que está consumido pelo intelecto é que possui crenças, porque o intelecto está sempre buscando segurança, proteção; está sempre evitando o perigo, e portanto constrói idéias, crenças, ideais, atrás dos quais ele pode obter abrigo. O que aconteceria se você lidasse com a violência diretamente, agora? Você seria um perigo para a sociedade; e em razão da mente prever o perigo, ela diz "Eu alcançarei o ideal da não-violência daqui há dez anos" - o que é uma tamanha ficção, um processo falso... Compreender "o que é", é mais importante do que criar e seguir ideais porque eles são falsos, e "o que é" é real. Compreender "o que é" requer uma enorme capacidade, uma mente ativa e sem pré-conceitos. Por não querermos encarar e compreender "o que é" é que inventamos as várias formas de fugas e damos à elas nomes atraentes como ideal, crença, Deus. Certamente, é somente quando vemos o falso como falso que a mente é capaz de perceber o que é real. Uma mente que se encontra emaranhada no falso, nunca pode encontrar a verdade. Portanto, devo compreender aquilo que é falso nas minhas relações, nas minha idéias, nas coisas sobre mim, porque perceber a verdade exige a compreensão disso. Sem remover as causas da ignorância, não pode haver esclarecimento; e buscar o esclarecimento quando a mente não está esclarecida, absolutamente vazia é sem sentido. Conseqüentemente, devo começar a descobrir aquilo que é falso nas minhas relações com as idéias, com as pessoas, com as coisas. Quando a mente percebe o que é falso, então aquilo que é real se manifesta e então há o êxtase, há felicidade.
Krishnamurti

Vendo-se o que está se passando no mundo, e principalmente neste país, parece-me que o que se faz necessário é uma revolução total de consciência. E não será possível tal revolução, se permanecermos insensatamente apegados a crenças, idéias e conceitos. Não encontraremos saída de nossa confusão, angústia, conflito, pela constante repetição do Gita, do Upanishads e demais livros sagrados; isso poderá levar à hipocrisia, a uma vida de insinceridade, de interminável pregação moral, porém nunca a enfrentar realidades. O que nos cumpre fazer é, segundo me parece, tornar-nos cônscios das condições de nossa existência diária, de nossos infortúnios, nossas angústias, nossa confusão e conflito, e tratar de compreendê-los tão profundamente que possamos lançar uma base adequada, para começar. Não há outra solução. Temos de enfrentar-nos assim como somos e não como deveríamos ser, segundo um certo padrão ou ideal. Temos de ver realmente o que somos e, daí, iniciar a transformação radical.
Krishnamurti - O Despertar da Sensibilidade - ICK


Não citeis ninguém. Viver das idéias de outros é uma das coisas mais terríveis que se podem fazer. Idéias não são a verdade
Krishnamurti - Fora da Violência - Ed. Cultrix


Procuramos felicidade através das coisas, pelas relações, por meio de pensamentos e idéias. Assim as coisas, as relações e idéias tornam-se todas importantes, e não a Felicidade. Quando se procura felicidade através de alguma coisa, então, a coisa torna-se de valor superior a própria felicidade. Quando apresentado desta forma o problema parece simples e é simples. Procuramos felicidade na propriedade, na família, no nome e então, a propriedade, a família, a idéia torna-se todas importantíssimas, mas sendo a felicidade procurada por um algum meio, o meio destrói o fim. A felicidade pode ser achada por algum meio qualquer, através de qualquer coisa feita pela mão ou pela mente? As coisas, as relações e idéias são claramente não-permanentes, estamos sempre insatisfeitos com elas. As coisas são impermanentes, se acabam e são perdidas; o relacionamento é um constante atrito e a morte é o fim; idéias e convicções não têm nenhuma estabilidade, não são permanentes. Procuramos felicidade nisso e ainda não percebemos sua impermanencia. Portanto, o sofrimento se torna nossa constante companheira superando nosso problema. Para descobrir o verdadeiro sentido da felicidade, temos de explorar o rioa do autoconhecimento. Autoconhecimento não é um fim em si mesmo. Existe a fonte deste rio? Cada gota de água do seu início até o fim é que faz o rio. Imaginar que acharemos felicidade na fonte é um equivoco. Ela se encontra onde você está no rio do autoconhecimento.
Krishnamurti - O Livro da Vida

Não sei se vocês têm observado que uma grande parte do intelecto interfere em nossa vida. Os jornais, as revistas, tudo atua sobre nós nos cultivando a razão. Não que eu seja contra a razão. Pelo contrário, é preciso ter a capacidade de raciocinar precisamente de forma muito clara. Mas, se você observar você verá que o intelecto está perpetuamente analisando, por que é que uma pessoa deve ou não pertencer a algo, por que é preciso ser o desconhecido* para achar realidade, e outras coisas mais. Temos aprendido o processo de análise de nós mesmos. Portanto, existe o intelecto com a sua capacidade para investigar, de analisar, de raciocinar e chegar a conclusões, e há a percepção, percepção pura, que está sempre sendo interrompida, colorida pelo intelecto. E quando o intelecto interfere na percepção pura, esta interferência faz com que se desenvolva uma mente medíocre. De um lado, temos intelecto, com a sua capacidade de raciocinar com base em seu gostar e não gostar, de acordo com o seu condicionamento, em função de sua experiência e conhecimentos, e do por outro lado, temos a percepção, que é corrompida pela sociedade, pelo medo. E estes dois revelarão o que é a verdade? Ou existe apenas o discernimento, e nada mais?
Krishnamurti – O Livro da Vida


Não sei se você tem considerado a natureza do intelecto. O intelecto e as suas atividades estão sempre no mesmo nível, não? Mas, quando o intelecto interfere na percepção pura, acontece a mediocridade. Conhecer a função do intelecto, e ser consciente desta percepção pura, sem deixar os dois misturados se destruírem um ao outro, requer uma consciência muito clara e nítida . Assim, a função do intelecto é sempre, não é, investigar, analisar, procurar exteriormente, mas, por querermos estar seguros interiormente, psicologicamente, por estamos receosos, ansiosos na vida, chegamos a algum tipo de conclusão com que já estávamos comprometidos. De um compromisso avançamos para outro, e eu digo que essa mente, tal intelecto sendo escravizada a uma conclusão, cessou de pensar, de investigar.
Krishnamurti – O Livro da Vida


Em nossa busca por conhecimento, em nossos desejos de conquista, nós perdemos o amor, ficamos cegos à percepção da beleza, a sensibilidade para a crueldade, nos tornado cada vez mais especializado, e cada vez menos integrado. A sabedoria não pode ser substituída pelo conhecimento, e nenhuma quantidade de explicações, nenhuma acumulação de fatos, libertará homem do sofrimento. O conhecimento é necessário, ciência tem seu lugar, mas se a mente e coração são sufocados pelo conhecimento, e se a causa de sofrimento é justificada, a vida torna-se vã e sem sentido, a informação, o conhecimento dos fatos, embora sempre crescente, é por sua natureza muito limitada. A sabedoria é infinita, inclui conhecimento e a forma de ação, mas tomamos, seguramos um ramo e pensamos que é a árvore inteira. Pelo conhecimento da parte, nós nunca podemos compreender a alegria do todo. O intelecto nunca pode levar a totalidade, para é apenas um segmento, uma parte. Nós separamos intelecto da percepção, e temos desenvolvido o intelecto à custa da percepção. Somos como um objeto de três pernas com uma perna muito mais longa que as outras, e nós não temos nenhum equilíbrio. Somos treinados para ser intelectuais, a nossa educação cultiva o intelecto para ser afiado, astuto, cheio de cobiça, e assim ele desempenha o papel mais importante em nossas vida. A inteligência é muito maior que o intelecto, porque é a integração da razão e do amor, mas só pode haver inteligência quando existe autoconhecimento, o entendimento profundo do processo total de si mesmo.
Krishnamurti – O Livro da Vida

Procuramos felicidade através das coisas, pelas relações, por meio de pensamentos e idéias. Assim as coisas, as relações e idéias tornam-se todas importantes, e não a Felicidade. Quando se procura felicidade através de alguma coisa, então, a coisa torna-se de valor superior a própria felicidade. Quando apresentado desta forma o problema parece simples e é simples. Procuramos felicidade na propriedade, na família, no nome e então, a propriedade, a família, a idéia torna-se todas importantíssimas, mas sendo a felicidade procurada por um algum meio, o meio destrói o fim. A felicidade pode ser achada por algum meio qualquer, através de qualquer coisa feita pela mão ou pela mente? As coisas, as relações e idéias são claramente não-permanentes, estamos sempre insatisfeitos com elas. As coisas são impermanentes, se acabam e são perdidas; o relacionamento é um constante atrito e a morte é o fim; idéias e convicções não têm nenhuma estabilidade, não são permanentes. Procuramos felicidade nisso e ainda não percebemos sua impermanencia. Portanto, o sofrimento se torna nossa constante companheira superando nosso problema. Para descobrir o verdadeiro sentido da felicidade, temos de explorar o rioa do autoconhecimento. Autoconhecimento não é um fim em si mesmo. Existe a fonte deste rio? Cada gota de água do seu início até o fim é que faz o rio. Imaginar que acharemos felicidade na fonte é um equivoco. Ela se encontra onde você está no rio do autoconhecimento.
Krishnamurti - O Livro da Vida

Nada novo no front da insatisfação com as teorizações - III


Não existe nenhum movimento de aprender quando existe aquisição de conhecimento, os dois são incompatíveis, eles são contraditórios. O movimento do aprender implica um estado em que a mente não tem nenhuma experiência prévia acumulada como conhecimento. O conhecimento é adquirido, ao passo que o aprender é um movimento constante, não é um processo aditivo, nem aquisitivo, portanto, o movimento do aprender implica um estado em que a mente não tem nenhuma autoridade. Todo conhecimento indica autoridade, e uma mente que é entrincheirada na autoridade do conhecimento não tem possibilidade de aprender. A mente só pode aprender quando o processo aditivo cessou completamente. É bastante difícil a maioria de nós diferenciarmos entre aprender e adquirir conhecimento. Com a experiência, pela leitura, pelo escutar, a mente acumula conhecimentos, é um processo aquisitivo, um processo de adicionar algo ao que já se sabe, e deste fundo acumulado de conhecimento nós funcionamos. Atualmente, o que geralmente chamamos aprender é esse processo de adquirir novas informações e adicioná-las ao acumulado de conhecimentos que já temos. Mas falo sobre algo inteiramente diferente! Por aprender que eu não quero dizer adicionar algo ao que você já conhece. Só se pode aprender quando não existe nenhum apego ao passado como conhecimento, isso é, quando se vê algo novo e não o traduz em termos do conhecido. A mente que aprende é uma mente inocente, ao passo que a mente que meramente adquire conhecimento é velha, estagnada, corrompida pelo passado. Uma mente inocente percebe instantaneamente, aprende todo o tempo sem nada acumular, e só tal mente é madura.
(...)
Para a acontecer a completa mutação na consciência você deve negar a análise e a busca, e não ficar sob qualquer influência – que é extremamente difícil. A mente, vendo o que é falso, afasta completamente o falso, não sabendo o que é a verdade. Se você já sabe “o que é verdade”, então você está apenas trocando o que é falso para aceitar o que você imagina ser a verdade. Não existe nenhuma renúncia, se você conhece para onde você está indo, e o que vai receber em troca. Existe a renúncia apenas, quando você deixa de lado alguma coisa, não sabendo o que vai acontecer. Esse estado de negação é totalmente necessário. Por favor, siga isto cuidadosamente, porque se você tem ido tão longe você vai ver que, em estado de negação você descobre o que é a verdade, pois, a negação é o esvaziamento da consciência do conhecido. Afinal, a consciência é baseada no conhecido, na experiência, na herança racial, na memória, nas coisas que a pessoa experimentou. As experiências são sempre do passado, operam no presente, sendo modificada no presente e continuam no futuro. Tudo isso é a consciência, todo o acumulado dos séculos. Só tem a sua utilidade na vida mecânica. Seria absurdo negar a todos os conhecimentos científicos adquiridos através dos tempos passados. Mas, para acontecer uma mutação na consciência, a uma revolução em toda esta estrutura, deve haver um completo vazio. E esta vacuidade só é possível quando existe a descoberta, vendo a realidade do que é falso. Então, você vai ver, se você tem ido tão longe, que o vazio traz em si uma completa revolução na consciência: ela aconteceu.
(...)
A maioria de nós nunca está só. Você pode se retirar nas montanhas e viver como um monge, mas enquanto fisicamente independente, você terá consigo todas as suas idéias, suas experiências, suas tradições, seu conhecimento do que foi. O monge cristão em uma cela do mosteiro não está só, ele está com o seu conceito de Jesus, com a sua teologia, com as crenças e os dogmas do seu condicionamento pessoal. Do mesmo modo, o sannyasi na Índia, que se retira do mundo e vive em isolamento, não está só, porque também ele vive com as suas memórias. Eu estou falando de uma solidão na qual a mente é totalmente livre do passado, e só tal mente é virtuosa, pois apenas na solidão existe inocência. Talvez você diga, "Isso é pedir muito, uma pessoa não pode viver assim neste mundo caótico, onde tem de ir ao escritório todo dia, ganhar o sustento, suportar as crianças, agüentar as impertinências da esposa ou do marido, e tudo o mais". Mas eu penso que o que está sendo dito está diretamente relacionado à vida diária e ação, caso contrário, não tem nenhum valor. Você vê, desta solidão surge uma virtude que é vigorosa e que traz um senso extraordinário de pureza e bondade. Não importa se a pessoa comete erros, isso é de muito pouca importância. O que importa é ter esta percepção de estar completamente só, incontaminado, pois é tão somente uma mente assim pode conhecer ou pode estar atenta ao que está além da palavra, além do nome, além de todas as projeções da imaginação.

Uma mente quieta não está buscando qualquer tipo de experiência. E se não está buscando, portanto está completamente silenciosa, sem qualquer movimento do passado e livre do conhecido, em seguida você encontrará se for profundamente que existe um movimento do desconhecido que não é reconhecido, que não é traduzível, que não pode ser colocado em palavras – então você descobrirá um movimento que é imenso. Esse movimento é atemporal porque nele não existe tempo, nem espaço, nem algo para experimentar, nem algo para ganhar, alcançar. Desta forma a mente conhece o que é criação¹ – não a criação do pintor, do poeta, do orador; mas aquela criação que não tem nenhum motivo, que não tem nenhuma expressão. Aquela criação é amor e morte². Tudo isso do começo ao o fim é meditação. O homem que quer meditar precisa se conhecer! Sem autoconhecimento não se pode ir longe. Embora você tente ir longe, só pode ir tão distante quanto a sua própria projeção³, e sua própria projeção está muito perto, muito próxima, não o conduz a nenhum lugar. Meditação é aquele processo de derrubar as bases imediatamente, instantaneamente, e criar – naturalmente, sem qualquer esforço – aquele estado de quietude. E só então existe uma mente que está além do tempo, além de experiência, e além do conhecido
Krishnamurti – O Livro da Vida

Nada novo no front da insatisfação com as teorizações - II


Suponhamos que você nunca tinha lido um livro, religioso ou psicológico, e você teria que encontrar o sentido, o significado da vida. Como você conseguiria isso? Suponha que não existam instrutores, organizações religiosas, nem Buddha, nem Christo, e que você teria que começar do início. Como você encararia isso? Primeiro você teria que compreender o seu processo de pensamento, não seria isso? - e não as projeções dos seus pensamentos para o futuro, que criaram um Deus do seu agrado, isso seria demasiado infantil. Então, primeiro você teria que entender o processo de seu pensamento. Essa é a única maneira de descobrir alguma coisa nova, não é? Quando dizemos que a aprendizagem ou o conhecimento é um empecilho, um obstáculo, nós não estamos incluindo nisso o conhecimento técnico – como dirigir um automóvel, como operar máquinas – ou a eficiência desses conhecimentos. Temos em mente coisa muito diferente: um sentido de felicidade criadora que nenhuma quantidade de conhecimento nem aprendizado trará. Ser criador no mais verdadeiro sentido dessa palavra é ser livre do passado momento a momento, porque é o passado que está sombreando continuamente o presente. Apenas um agarrar-se a informação, e experiências alheias, ao que alguém disse, por “mais considerada que seja” esta pessoa, e tentar de aproximar sua ação de tudo isso – isso é conhecimento? É? Mas para descobrir algo novo você deve começar por conta própria, você deve começar uma viagem completamente desnudado de tudo, especialmente de conhecimentos, porque é muito fácil, pelo conhecimento e convicções ter experiências, mas estas experiências são apenas os produtos de auto-projeção e, portanto totalmente irreais, falsas. Mas, examinando profundamente, não apenas superficialmente, o que acontece realmente? Por que uma pessoa se irrita? Porque esta pessoa é ferida, alguém falou algo desagradável, mas quando alguém diz que uma coisa o que o lisonjeia, você fica satisfeito. Por que você é ferido? É o sentimento de auto-importância, não? E por que existe este sentimento de auto-importância? Porque cada pessoa tem uma idéia, um símbolo de si, uma imagem de si, do que a pessoa deveria ser, e do que a pessoa não deveria ser. Por que a pessoa cria uma imagem sobre si? Porque esta pessoa nunca estudou o que ela é, realmente. Pensamos que devemos ser isto ou aquilo, o ideal, o herói, o exemplo. O que desperta a raiva é aquele nosso ideal, a idéia que temos de nós mesmo está sendo atacada. E nossa idéia sobre nós é a nossa fuga do fato do que realmente somos. Mas quando você está observando a realidade daquilo que você é, ninguém pode machucar você. Então, se um é mentiroso e é chamado de mentiroso, não quer dizer que isso o machuca, isso é um fato. Mas quando você está enganado, você não é mentiroso e é chamado de mentiroso, então você fica zangado, violento. Então nós sempre vivemos num mundo de ideação, um mundo de fantasias e não no mundo de realidade. Para observar o que é, está realmente familiarizado com ele, não deve haver nenhuma avaliação, nenhuma opinião, nenhum medo.
Krishnamurti – O Livro da Vida

Nada novo no front da insatisfação com as teorizações - I


Se você não tem luz, não pode ajudar outra pessoa a tê-la. Você pode explicar muito claramente ou defini-la em palavras bem escolhidas, mas isso não terá a paixão da verdade.
Krishnamurti - A Arte de Aprender - Terra Sem Caminho - Página74

Só a Verdade pode libertar-nos. A compreensão apenas pode vir quando não estamos seguindo alguém, quando não existe a autoridade de espécie alguma - seja a autoridade da tradição, seja a autoridade dos livros, do guru, da nossa própria experiência. Nossa experiência é resultado de nosso condicionamento, e tal experiência não pode ajudar-nos a descobrir o que é a Verdade.
krishnamurti - Autoconhecimento - base da sabedoria

Deus pode ser conhecido? Deus pode ser achado? Deus é uma coisa que anda perdida e que temos que achar? Pode-se reconhecer aquela Realidade, aquele Deus? Se podeis reconhecê-la, então já tendes conhecimento dela; e se já tendes conhecimento dela, não é coisa nova. Se sois capaz de conhecer Deus, a Verdade, essa experiência gerada pelo passado, e por conseguinte já não é a verdade e, sim, meramente, uma "projeção" da memória. A mente é produto do passado, do conhecimento, da experiência, do tempo; a mente pode criar Deus; ela pode dizer: "sei que isto é Deus", "sei que tive a experiência de Deus", "sei que há Deus, a voz de Deus me fala". Mas isso é só memória, - a antiga reação do vosso condicionamento. A mente pode inventar Deus e pode experimentar Deus. A mente que é resultado do conhecido pode "projetar-se" e criar toda a sorte de imagens e visões; tudo isso, porém, se acha na esfera do conhecido. Deus não pode ser conhecido. Ele é totalmente desconhecido. Não pode ser experimentado. Se o experimentardes, já não é Deus, a Verdade. Só quando não há "experimentador" e não há "experiência", só então pode a Realidade aparecer. É só quando a mente se acha no "estado desconhecido" que pode surgir o desconhecido. Só depois de se apagar toda experiência, todo conhecimento, está a mente verdadeiramente tranqüila, silenciosa, e nessa tranqüilidade, que é imensurável, nessa tranqüilidade, nasce Aquilo que não tem nome.
Krishnamurti - As Ilusões da Mente

Temos de compreender muito claramente esta ideia de que através de um método, de um sistema, ou do ajustamento a certo padrão ou tradição, a mente é capaz de descobrir essa Realidade. Podemos ver como isso é absurdo, seja importado do Oriente ou inventado aqui no Ocidente. Método implica conformismo, repetição; sugere que alguém alcançou uma certa "iluminação", que manda: "Faz isto, não faças Aquilo". E nós, que estamos ansiosos por atingir essa Realidade, seguimos, conformamo-nos, obedecemos, praticamos aquilo que nos disseram, dia após dia, como se fôssemos máquinas. Uma mente embotada e insensível, que não é muito inteligente, é capaz de praticar um método tempo sem fim; vai-se tornando cada vez mais insensível, estupidificada. Terá a sua própria "experiência" dentro dos limites do seu próprio condicionamento.
Krishnamurti

Muitas vezes, no intuito de ensinar, alguns instrutores vendem ensinamentos de outros - sejam esses ensinamentos adquiridos através de livros, palestras, cursos etc.- como se fossem seus. Ou seja, reproduzem a experiência alheia, comportando-se como o autêntico experimentador. Abriu mão da própria experiência, apropriou-se de um conhecimento de segunda mão e passa a ensiná-lo. Nesse plágio, os ensinamentos passam de mente em mente, como se viessem do último instrutor. Isso não passa de viagens imaginárias. Só uma mente inocente e silenciosa é capaz de absorver e expressar o inimaginável. Como estudantes e inquiridores de nós mesmos, precisamos estar cônscios dessas manobras mentais na busca da auto-afirmação e da segurança psicológica. Pois, essas coisas impedem a reta percepção e o correto pensar.
Krishnamurti

Uma revolução em toda a psique do homem não é realizável por meio da vontade, que é desejo, determinação, por meio de um plano de vida conducente à paz. Ela só é possível quando o cérebro pode estar quieto e ao mesmo tempo ativo, para observar sem criar imagens de acordo com sua experiência, conhecimentos e prazer. A paz é essencial, porque só na paz pode o indivíduo florescer em bondade e beleza. Essa possibilidade só existe quando somos capazes de escutar o todo da existência, com todas as suas agitações, aflições, confusão e angústias - escutá-lo, simplesmente, sem nenhum desejo de alterá-lo. O próprio ato de escutar é a ação que operará a revolução.
Krishnamurti

O homem está excessivamente ávido e ansioso para experimentar algo que ainda não conhece... Queremos ver algo misterioso, mas não vemos o imensurável mistério do viver, do amor pela vida. Não vemos isso e esbanjamos tempo em coisas que não têm a menor importância.
Krishnamurti - Nossa Luz Interior - Ed. Agora


Assim, que buscamos nós? Que deseja o homem? Ele vê o que é sua vida - tédio, rotina, um campo de batalha, luta constante, nunca um momento de paz, a não ser, talvez, ocasionalmente, por meio do sexo ou de outra coisa. Daí conclui que a vida é transitória, a vida é mutável e, portanto deve haver uma coisa superior e permanente; essa permanência ele deseja, deseja algo diferente de mera rotina física, da mera experiência de cada dia. A essa coisa ele chama "Deus". Conseqüentemente, crê em Deus; e todas as imagens e ritos baseiam-se nessa crença. A crença é produto do medo. Se não há medo, podeis ver a folha, a árvore, o céu estrelado, a luz, os pássaros... Há, então, beleza, e, por conseguinte, bondade; e onde está a bondade, aí se encontra a Verdade.
Krishnamurti - O Novo Ente Humano - ICK

sábado, 3 de dezembro de 2011

Não confunda Krishnamurti com os "Augus"

Alsibar: Krishnamurti não é um autoproclamado guru ( augu)

Será que Krishnamurti e os “autoploclamados gurus” são a mesma coisa? Será que muita gente não está confundindo as coisas? O que diferencia K. dos gurus? O que K. realmente representou para a humanidade? Vamos fazer uma reflexão juntos e tentar descobrir as respostas? Você é meu convidado nessa viagem, vem comigo!

Nesses dias de “augus” (auto-proclamados gurus) percebe-se uma poluição informações “espirituais” e pseudo-sabedorias. Na minha adolescência, não havia muito deste fenômeno. Havia poucos gurus. Dava pra se contar nos dedos. Nessa época achávamos que todos eram iluminados. O da cabeleira black power, considerávamos um Avatar. O dos noventa rolls-royce, um iluminado. E o russo bigodudo- um verdadeiro mestre. E assim por diante. Mas o senhor Tempo e sua esposa História, trataram de mostrar-nos que não era bem assim. Vieram os escândalos e as quedas. E com elas caíram as máscaras e cada um mostrou sua verdadeira face. Hoje, muitos continuam acreditando que é tudo a mesma coisa. Mas o contexto é outro. Ou seja, na nossa época, acreditávamos nos “augus” porque não havia fatos que desabonassem suas pretensas “iluminação”. Hoje, é diferente. Tem a Internet. Tem informações com imagens e vídeos. Temos acesso a versões da história que contrariam as oficiais. Isso, deveria, no mínimo, nos levar a uma reflexão séria e imparcial. Mas não damos nenhuma chance ao contraditório. Muitos preferem continuar cegos. Aí, já é problema de cada um. Como diz o sábio provérbio popular: o pior cego é aquele que não quer ver.

Em meio a esta profusão caótica de sabedoria descartável estampada em blogs, sites, redes sociais, chats, livros etc. Sobressai-se uma voz. Ele não era um “augu”. Ele não se autoproclamou guru. Pelo contrário, teve toda chance para sê-lo mas rejeitou tudo: dinheiro, bajulação e poder. Durante sua conturbada infância, fora educado (ou teria sido condicionado?) a acreditar que seria o veículo de um grande Mestre. Talvez de Buda, Cristo, ou Maytréia — como costumavam chamar. Para isso — diziam — teria nascido e para esta nobre missão deveria ser preparado. Fôra criado uma poderosa organização em torno desse “movimento messiânico europeu”: a Ordem da Estrela do Oriente. Uma rica organização composta pela alta sociedade européia. A organização possuía propriedades caras, castelos, pessoas dispostas a dar a vida pela causa do novo messias. Os anos se passaram. E aquele rapaz mostrava-se cada vez mais incomodado com a aquela situação. Até que um dia, em que todos esperavam um discurso memorável e solene de afirmação e confirmação do seu “messianato”, algo aconteceu, quebrando todas expectativas e decepcionando a todos os discípulos. Aquele jovem indiano fizeram um discurso enérgico e contundente, rejeitando o título de messias e desfazendo a organização criada em torno de seu nome. Ele abriu mão de milhares de seguidores, terras e propriedades.

O exemplo de Jiddu Krishnamurti seria raro nos dias de hoje. Hoje em dia, muitos querem ser gurus, mestres e iluminados. Mas K. provou não ser mais um dentre os outros. Sua força e presença e sabedoria foram tantas que muitos “augus” o plagiaram. E por isso a razão das “semelhanças”. Mas elas param por aí. K. nunca se autoproclamou nada. Nunca se disse ser nada. Mas o pior é que muitos não percebem a diferença. Krishnamurti não tem nada ver com esta onda de gurus. Pelo contrário, lutou toda uma vida contra eles. Contra a autoridade todo tipo de autoridade espiritual, seja dos “mestres”, dos livros, das tradições ou das organizações. Mas, infelizmente, hoje muitos insistem em colocá-lo lado a lado com os “augus”. Seria intencional, ou por ingenuidade mesmo? Há, inclusive, vídeos em que um dos “augus” mais populares, superficiais e plagiadores está lado a lado de K. Como se fossem a “mesma coisa”. Não são. E para que não haja dúvidas. Traçaremos um quadro geral comparativo entre os Augus e o “ anti-augu”, Krishnamurti.

Colocar Krishnamurti no mesmo patamar dos “augus” me parece incoerente, insensato e, talvez, ingênuo. É como se comparassem uma miragem de um oásis, com um real e verdadeiro oásis no deserto. É como se comparasse um sonho com uma experiência real. Uma realidade virtual, com a verdadeira realidade. Um veneno, com o antídoto que cura os males do veneno. Os “augus” são uma espécie de veneno espiritual. Krishnamurti é uma espécie de remédio contra este mal. Como podem ser a mesma coisa? Inri Cristo e Jesus Cristo são “a mesma coisa”? A noite e o dia são “a mesma coisa”? Uma cobra é a mesma coisa que um “peixe”? Alguns peixes podem até parecer com cobras, mas cobras não são peixes. Nem tudo o que parece é a mesma coisa. Açúcar e sal parecem a mesma coisa. Mas são completamente diferentes. Temos que provar o gosto pra saber o quê é o quê. Assim também, acontece com Krishnamurti e os “augus”. Não são a mesma coisa. E vou provar porquê.

Começando pela própria história de vida. Enquanto os “augus” alcançaram sua sabedoria através de leituras ou porque conviveram com algum pretenso “iluminado” a sabedoria de Krishnamurti era inata. Nunca leu os livros sagrados ou filosofia. É sabido, segundo suas próprias palavras que ele gostava de ler livros de detetive e a Bíblia, para “aprimorar a linguagem”. De onde vinha sua sabedoria? Tinha nascido com ele? Fluía através dele? Ou ele a captava como um “insight”? Ninguém sabe ao certo. O fato é que pouquíssimos falaram como ele. E muitos dos que aí estão usam suas palavras conforme a conveniência e utilidade das mesmas. Mas só usam o que possa lhes trazer alguma vantagem ou lucro. O que não lhe é conveniente, ou pode ser “embaraçoso”, é descartado.

Um dos pontos que mais diferem Krishnamurti dos “augus” é que os autoproclamados gurus adoram seguidores. Estão sempre tentando fazer uma organização, um movimento, algo em que eles possam ser o centro, o líder, o chefe. K. teve tudo isso sem precisar fazer nenhum esforço. Mas teve coragem de abrir mão de tudo isso, em prol da Verdade. E a verdade é que todos devem ser livres. Absolutamente livres. E como ser livres se seguimos? Como ser livres se bajulamos aquele “que diz que sabe”? Como ser livre se nos comprometemos com um ideal, uma organização, um movimento, uma crença, uma causa? Não há liberdade se realmente não rejeitarmos todas essas coisas.

As palavras dos “augus” são sempre de conforto, de paz e alegria. Em geral nos dizem que “não precisamos fazer nada pois já somos deuses, budas, iluminados”. Será mesmo que somos? Então porque tanto caos? Então porque tanta miséria? Então porque tanta ilusão dor e sofrimento? As palavras de K. não eram confortadoras. Eram duras e difíceis de aceitar. Por isso muitos o rejeitaram e rejeitam ainda hoje. Preferem dizer “ Ah, K. é complicado demais! Gosto de coisas mais simples. É muita filosofia, muito rodeio, muita teoria!” E é exatamente o contrário. K. é simples, extremamente simples. Tão simples que nossa complexa mente, não conseguindo entendê-lo ou aceitá-lo, prefere descartá-lo sob o pretexto da complexidade.

Talvez o “problema”, esteja no conteúdo de seus ensinamentos. K. não fala como os “augus”. Ele não lhe conforta, não lhe mima, não lhe seduz ou ilude com palavras como: “ você é deus!”. Não. Ele diz: “conhece-te a ti mesmo”. Ele não diz: somos o “Eterno EU SOU”. Ele diz: “somos conflitos, desejos, memórias, esperanças e pensamentos”. Ou seja, somos o EGO, o “eu-inferior” e não o “EU, o Átman, o EU Superior”- como muitos gostam de afirmar por aí. Ora, a lógica é simples: quando o EGO se autoproclama o “EU SOU” a desordem e a ilusão se instalam no espírito do sujeito. K. não floria ou enfeitava seu discurso para impressionar. Ele era o que era. Falava o que era necessário, importante e verdadeiro, sem nenhuma outra intenção por trás. Ora, K. nunca quis o poder. Isso ele tinha e rejeitou. Um poder que é buscado e desejado por muitos “augus”. Como acreditar em alguém cujas palavras e ações visam o poder e a expansão de seus “negócios espirituais”? Além disso, K. não era complicado. Nós é que somos. K. não nos trouxe um novo dogma, ou algo mais para se crer ou defender. Ele nos deu a liberdade, a reflexão, a investigação, o descobrimento, a autonomia e a independência. Mostrou-nos e provou, que não precisamos seguir ninguém para alcançar o Eterno. O que contraria uma tradição muito presente na cultura hindú, a crença no “parampará”: que é a sucessão “autorizada” dos gurus. K. reviveu, nos tempos modernos, o espírito de Buda. O espírito da rebeldia. Não uma rebeldia irresponsável e inconsequente. Mas a rebeldia de todos aqueles que tiveram a coragem de desafiar o stablishment. Assim como Jesus e Buda, o fizeram na sua época, Krishnamurti abalou as crenças dominantes e denunciou suas falsidades, hipocrisia e perigos.

Krishnamurti não é apenas mais um em meio ao “guruísmo” que reina na sociedade atual. Ele é a negação de tudo isso que está aí. Ele é a libertação de todas nossa amarras psicológicas, mentais e espirituais. Ele não veio trazer novas amarras, novas crenças, novos deuses , organizações e livros sagrados. Ele não veio para acalentar nosso sono — que já é profundo e pesado. Ele veio para nos libertar de tudo isso. É como libertar alguém das drogas. É como acordar quem está em sono profundo. É como ressuscitar quem está quase morrendo. Ele é um tratamento de choque. É disso que a humanidade precisa. K. nos dá um choque, cutuca-nos para que acordemos de nosso confortável sono e sonhos. Enquanto os “augus” querem que você durma para tirar-lhe o dinheiro, a liberdade e a vida. Krishnamurti grita do outro lado para que você acorde e não se deixe levar pelo “canto da sereia”. Toda sua vida fora um esforço para acordá-lo, para alertá-lo contra as ilusões ao longo do caminho e contra os perigos que estão à espreita dos desavisados. K. não pode ser confundido com os “augus”. Do contrário, levaremos “gato por lebre”. E estaremos bebendo veneno como se fosse suco. E correremos um sério risco de rejeitar o único remédio que poderia nos acordar, nos libertar e curar-nos de todos os nossos males: o autoconhecimento e a meditação.

Que esta mensagem sirva como alerta a todos que estão “ao longo do caminho” procurando pela Luz Verdadeira e Eterna. Não creia em nada, não siga nada, não aceite nada , sem antes investigar, experimentar e descobrir. Não ache que a sensação de paz e conforto, ou palavras bonitas e supostamente profundas, signifiquem muita coisa. Não venda seu espírito. Não venda sua alma. Mantenha-se sempre sóbrio, lúcido e livre. Desenvolva sua sabedoria. Busque autoconhecer-se em primeiro lugar. Ao encontrardes a Luz em ti mesmo, poderás ver a Luz do outro. Do contrário não poderás descobrir a Verdadeira Luz e Sabedoria. Até lá mantenha-se como um arqueólogo “explorador de tesouros”. Alguém que nada sabe, mas quer descobrir, e para isso, tem que se manter esperto, alerta, imparcial e aberto a tudo. Sem nunca fechar-se em nada. Sem nunca dizer “eu achei, eu descobri!”. Não há limites para as descobertas e o aprendizado. Siga seu caminho só! Seja livre de tudo o que o prende psicológica e espiritualmente falando. Não queira ser nada além do que é. Não busque mais “experiências prazerosas e confortadoras” — principalmente as espirituais que embotam e insensibilizam a mente. O que nos fará dormir mais ainda. Não desejes a expansão da consciência. Não busques o êxtase e a bem-aventurança como um resultado de esforços, técnicas, buscas e desejos.

Apenas na paz, na liberdade, na tranquilidade, no autoconhecimento e na meditação, alguém poderá perceber algo além do caos e da confusão em que se vive. O que vem depois não pode ser nomeado. Não pode ser dito. Não pode ser dado, transferido, nem muito menos vendido. Este é o espírito de Krishnamurti. Ele é o antídoto para o veneno da ilusão. Ele é o choque que nos leva ao verdadeiro despertar. Os “augus” são as drogas, o sonífero, a ilusão, o dormir. Mas, ninguém precisa acreditar ou aceitar nada do que eu digo. Busque sempre. Procure sempre. Duvide sempre. Reflita sempre. Mas se depois disso tudo você achar que estou errado. Fique à vontade. Siga o seu caminho. O livre arbítrio é direito divino inviolável. Escolha o “caminho” que quiser seguir. Só não diga depois que não sabia, ou que ninguém o avisou.

Muita Paz, Luz e Sabedoria a todos!
Obrigado!
Alsibar ( inspirado)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Nós realmente desejamos a ordem?

E existe um momento em que a morte deixa de causar medo e a vida já não seja uma batalha? E pode haver um tal momento de parada de tempo e total suspensão do pensamento? Esse momento existe: é o amor.
Sem o amor, não importa o que se faça - podeis construir maravilhosos edifícios, ir à Lua, extinguir a pobreza, acabar com as guerras porque não são lucrativas - não importa  o que se faça, sem o amor não pode haver a ordem. Mas nós não desejamos a ordem. Já vivemos tantos séculos nesta desordem que tememos a ordem. Se desejamos a ordem, que é a paz, temos de viver pacificamente. Isso significa não ter nacionalidade, nem crença, nem dogma, nem competição, nem divisões entre os seres humanos.
Mas nós não desejamos nada disso, porque já estamos acostumados a viver batalhando. E dizemos que, sem luta, não podemos progredir, não podemos manter-nos ativos. Preferimos ficar agarrados ao "conhecido", ainda que gerador de desordem, de caos, de aflição, a promover a ordem e a paz.

Krishnamurti - A Essência da Maturidade

É natural o amor pelos Mestres?

 É natural o amor pelos Mestres?
Interrogante: Não é natural amar os Mestres, sabendo instintivamente, sem analisar, que sua resposta vivifica nosso amor, por que somos um? Isto não é um esforço para expandir, pois o amor é a própria vida?
Krishnamurti: Há dois tipos de gurus, mestres ou instrutores: aqueles com quem o aluno está diretamente em contato neste plano da existência e aqueles com quem o aluno supõe estar em contato indiretamente. O instrutor com o qual o aluno está em contato diretamente, fisicamente, observa o aluno enquanto o ajuda e guia. Isto é bastante exaustivo e difícil para o aluno. Ora, os “Mestres” não estão em contato direto, físico, com o aluno, exceto, aparentemente, com aqueles que proclamam ser seus intermediários. Nestas relações mutuas, que tem suas próprias recompensas e ansiedades, a mente pode enganar-se ilimitadamente.
Ora, o interrogante quer saber se o nosso amor por um Mestre não vivifica o nosso amor? Por que você procura um Mestre para amar, quando você não sabe como amar seres humanos? Por que você reclama unidade com os Mestres, e não com os seres humanos? Amar um ideal, um Mestre, um Deus, um Estado, é mais fácil, não é verdade? Pois eles podem ser criados como nós imaginamos, de acordo com as nossas esperanças, temores e ilusões. É mais conveniente, se bem que talvez exigente, de outro modo, ter um ideal, uma longínqua imagem para amar, pois entre ela e nós não pode haver nenhuma reação pessoal desagradável, que causa tanto sofrimento nas relações mutuas humanas. Tal amor não é amor, mas uma criação intelectual chamada amor. Não estando diretamente em contato com um Mestre precisamos depender de um intermediário, ou de nossa chamada intuição. A dependência de um intermediário destrói a compreensão e o amor e, além disso, condiciona a mente; e a chamada intuição tem seus graves perigos, pois ela pode ser somente um desejo auto-enganador.
Mas, por que desejais depender de um mediador ou de uma intuição? Para aprender a não ser ganancioso, para não ter má vontade, para ser compassivo? Por que precisamos olhar para um ideal distante quando a compreensão e o amor podem ser despertados somente através das relações humanas? Quando amamos a outrem, nossa paixão, nosso amor possessivo e os ciúmes despertados; encontramos tristeza e conflito nestas relações mutuas, e porque não podemos resolver este mal aqui, tentamos fugir dele.
Porque não sabemos como amar seres humanos, amamos Mestres, ideais, Deuses. Todavia, vocês poderiam dizer que amar um Mestre é também amar a humanidade, amar o mais alto é também amar o inferior. Mas isto em geral também não acontece. Isto não é esquisito, complicado e artificial? Se não podemos amar outrem sem possessividade, sem constante conflito e dor, com o que estamos familiarizados, se não compreendemos isto, como podemos esperar compreender e amar alguma coisa mais, especialmente quando nesse algo há uma grande  possibilidade de auto-decepção? Onde deve começar o amor, com Deuses, Mestres e ideais, ou com seres humanos? Como pode haver amor quando nos orgulhamos dos nossos preconceitos individuais, antagonismos raciais, ódios nacionais, e conflitos econômicos? Como podemos amar outrem quando estamos interessados principalmente na nossa própria segurança, no nosso próprio crescimento, com o nosso próprio bem-estar? Este chamado amor a ideais, Mestres, Deuses, é romântico e falso; penso que vocês não vêem a brutalidade disso. A adoração de Mestres, ideais, é idolatria e destrói a compreensão e o amor.
Amar e compreender não são produtos do intelecto. O amor não é para ser dividido artificialmente em amor a Deus e amor ao homem. O amor assim dividido, não é mais amor. Ame completamente, inteiramente, sem pensar no eu, e, por esse meio, liberte-se verdadeiramente do temor que necessita de várias formas de fuga e de esquecimento.   

A importância da Crise

A importância da Crise


A maioria de nós se acha numa crise - por causa da guerra, por causa de um emprego, por causa da fuga de nossa esposa com outro homem... Temos crises ao redor de nós e dentro em nós, a todos os momentos, quer o admitamos, quer não; e não é este o momento de investigar, em vez de ficarmos à espera do momento derradeiro, em que seja lançada a bomba? Porque, embora o neguemos, estamos sempre em crise, momento por momento, politicamente, psicologicamente, economicamente. Há intensa pressão a todas as horas; e não será este o momento de investigar? Não estaremos num momento desses? Se dizeis "Não estou em crise, estou apenas observando a vida tranqüilamente" isso é simples maneira de evitar o problema, não achais? Haverá alguém de nós nesta situação? Ninguém, por certo. Temos crises sucessivas, mas estamos insensíveis, em segurança, indiferentes; e o nosso obstáculo consiste em que não sabemos enfrentar as crises, não é verdade? Devemos enfrentá-las cheios de angústia, ou devemos investigar e descobrir a verdade contida no problemas? A maioria de nós enfrenta uma crise com angústia; cansamo-nos e dizemos: "Quereis ter a bondade de resolver este problema?" Quando falamos, procuramos uma solução e não a compreensão do problema. De modo idêntico quando tratamos da questão da reencarnação, do problema se há ou não há continuidade, do que entendemos por continuidade, do que entendemos por morte: para compreendermos tal problema, o problema da continuidade ou não continuidade, não devemos buscar uma solução fora do problema. Precisamos compreender o próprio problema - e trataremos disso noutra reunião, porque a nossa hora está quase esgotada.
Minha tese é que há necessidade de confiança em nós mesmos - e já expliquei suficientemente o que entendo por confiança em nós mesmos. Não é a confiança decorrente da capacidade técnica do conhecimento técnico, do preparo técnico. A confiança que nasce do autoconhecimento é inteiramente diferente da confiança da agressividade e da capacidade técnica; e aquela confiança nascida do autoconhecimento é essencial para dissiparmos a confusão em que vivemos. É bem óbvio que não podeis obter esse autoconhecimento por intermédio de outra pessoa, porque o que vos é dado por outro é mera técnica. Aquela confiança criadora em que há a alegria de descobrir, o êxtase de compreender, só pode nascer quando eu compreendo a mim mesmo, o processo total de mim mesmo; e o compreender a nós mesmos não constitui empresa tão complexa, podemos começar em qualquer nível da consciência. Mas, como eu disse no último domingo, para termos essa confiança é necessária a intenção de conhecermos a nós mesmos. Nesse caso, não me deixo facilmente persuadir: desejo conhecer tudo o que há em mim e, assim, estou aberto para toda informação relativa a mim mesmo, quer provenha de outra pessoa, quer provenha do meu próprio interior. Estou aberto para o consciente e para o inconsciente, no meu interior, aberto para todo pensamento e todo sentimento, em constante movimento dentro em mim, urgindo, surgindo e desaparecendo. Certamente, essa é a maneira de possuirmos aquela confiança: conhecer a nós mesmos, exatamente como somos, e não visarmos a um ideal daquilo que deveríamos ser, ou presumir que somos isso ou aquilo, o que é de fato absurdo. É absurdo porque, em tal caso, estamos apenas aceitando uma idéia preconcebida, quer nossa, quer de outrem, do que somos ou do que gostaríamos de ser. Para compreenderdes a vós mesmos, assim como sois, precisais estar voluntariamente abertos, espontaneamente acessíveis a todas as suas próprias solicitações, a todos os impulsos do vosso ego. E começando a compreender o fluxo, o movimento, a rapidez da vossa própria mente, vereis como dessa compreensão nasce a confiança. Não é a confiança agressiva, brutal, assertiva, mas a confiança do saber o que se passa em nós mesmos. Sem essa confiança, por certo, não podemos dissipar a confusão; e sem dissiparmos a confusão que existe em nós e ao redor de nós, como poderemos achar a verdade concernente a qualquer relação?
Nessas condições, para descobrir o que é verdadeiro, ou qual é a finalidade da vida, ou para achar a verdade relativa à reencarnação ou a qualquer problema humano, aquele que investiga, que busca a verdade, que deseja conhecer a verdade, precisa estar absolutamente certo de suas intenções. Se estas consistem em procurar a segurança, o conforto, então e bem evidente que ele não deseja a verdade; porque a verdade pode ser uma das coisas mais devastadoras e desconfortáveis. O homem que busca o conforto, não deseja a verdade: deseja apenas segurança, proteção, um refúgio onde não seja perturbado. Já o homem que busca a verdade, tem de, abrir a porta às perturbações, às tribulações; porque só nos momentos de crise há o estado de alerta, há vigilância, ação. Só então aquilo que é pode ser descoberto e compreendido.

Krishnamurti – Bangalore – Índia - 18 de julho de 1948.

Todo o seguir é um mal

Todo o seguir é um mal


PERGUNTA. Com certeza, senhor, apesar de tudo o que tendes falado a respeito do seguir, estais bem cônscio de que sois continuamente seguido. Como agis a esse respeito, já que isso segundo vós mesmo — é um mal?

KRISHNAMURTI: Senhores, nós sabemos que seguimos: seguimos o guia político, seguimos o guru, seguimos um padrão ou uma experiência. Toda nossa cultura e educação está baseada na imitação, na autoridade, no seguir.
            Afirmo que todo o seguir é um mal, inclusive o seguir a mim próprio. O seguir é uma coisa maligna, destrutiva; e, entretanto, a mente segue, não é verdade? Ela segue Budha, segue Cristo, segue uma idéia, uma Utopia perfeita — porque a mente se acha num estado de incerteza, e quer a certeza. O seguir é uma exigência de certeza. Visto que exige a certeza, a mente está criando a autoridade — política, religiosa, ou a autoridade própria e está sempre a copiar; por conseguinte está lutando incessantemente. O seguidor jamais conhece a liberdade que há em não seguir. Só se pode estar livre, havendo incerteza e, não, quando a mente está a perseguir a certeza.
            A mente que está seguindo, está imitando, está criando a autoridade e, portanto, com medo. Este é que é realmente o problema. Todos nós sabemos que seguimos, todos aceitamos certas teorias, certas idéias, alguma utopia ou outra coisa qualquer, porque, muito profundamente, no consciente e bem assim no inconsciente, lá está o temor. A mente que não teme não cria o oposto e não tem o problema do seguir; não tem guru, não tem padrão; ela está viva.
            A mente se acha num estado de temor — medo da morte, medo de alguma coisa; e para ser livre entrega-se ela a várias atividades que conduzem à frustração; e surge, então, o problema: “pode a mente ficar livre do temor?” (não “como” ficar livre?). “Como ficar livre?” é uma pergunta de colegial. Desta pergunta resultam todos os problemas a luta, a consecução ele um fim e, por conseguinte, o conflito dos opostos, Pode a mente ficar livre do temor?
            Que é o temor? O temor só existe em relação com alguma coisa Tenho medo da opinião pública, tenho medo de meu patrão, de minha mulher, de meu marido; tenho medo da morte; tenho medo da solidão; medo de não alcançar, de não conhecer a felicidade nesta vida, de não conhecer Deus, a verdade, etc,. O medo, pois, está sempre em relação com alguma coisa.
            Que é esse medo? Se pudermos compreender a questão do desejo, o problema do desejo, poderemos, suponho, compreender o temor e ficar livres dele.
            “Eu desejo ser alguma coisa” — eis a raiz de todos os temores. Quando desejo ser alguma coisa, meu desejo de ser essa coisa e o fato de que não sou essa coisa criam o temor, não só num sentido restrito, mas também no mais amplo sentido. Nessas condições, enquanto existir o desejo de ser algo, tem de haver temor.
            Estar livre do desejo não é a projeção mental de um estado que o meu desejo me diz ser o estado em que devo achar-me. Temos de ver, com toda a simplicidade, o fato do desejo, temos de estar simplesmente cônscios dele — como vemos num espelho, sem deformação, a nossa imagem, o nosso rosto, tal como é e não como desejamos que seja. O reflexo da vossa imagem no espelho é muito exato; se puderdes estar cônscio do desejo em igual sentido, sem condenação; se simplesmente o observardes vendo-lhe todas as facetas, todas as atividades, vereis, então, que o desejo tem um significado inteiramente diverso.
            O desejo da mente é de todo diferente do desejo em que não há escolha. O que combatemos é o desejo da mente — o desejo de “vir a ser alguma coisa”. É por causa dele que seguimos e que temos gurus. Todos os livros sagrados vos levam à confusão, porque vós os interpretais de acordo com o vosso desejo e, por conseguinte, só enxergais o reflexo dos vossos próprios temores e ansiedades, nunca a Verdade. Assim, pois, só a mente que se acha num estado sem desejo algum, só essa mente é que não segue e não tem guru. Ela está totalmente cônscia de qualquer movimento; só então pode manifestar-se a bem-aventurança do real.

Krishnamurti – As Ilusões da Mente

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Sobre tédio, descontentamento e insatisfação

Por que nunca estão satisfeitos os entes humanos? Não é porque estão em busca da felicidade e porque pensam que, pela constante variação, serão felizes? Passam de um emprego para outro, de um estado de relação para outro, de uma religião ou ideologia para outra, pensando que, com esse constante movimento de mudança, encontrarão a felicidade; ou ainda, procuram um canto isolado da vida, e aí se deixam estagnar. Ora, por certo, o contentamento é coisa muito diferente. Só se torna existente quando vêdes a vós mesmo, tal como sois, sem nenhum desejo de mudança, nenhuma condenação ou comparação - que não significa aceitar simplesmente o que se vê e deitar-se a dormir. Mas, quando a mente já não está comparando, julgando, avaliando e é, portanto, capaz de ver o que é, de instante em instante, sem desejar alterá-lo - nesse próprio percebimento se encontra o Eterno.
Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano
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A coisa real é o descontentamento do homem, o descontentamento inevitável. Ele é algo precioso, uma jóia de grande valor. Mas o homem tem medo do descontentamento, ele o dissipa, o usa ou o deixa ser usado para produzir certos resultados. O homem está amedrontado com seu descontentamento, mas este é uma jóia preciosa, de valor inestimável. Viva com ele, observe-o dia após dia, sem interferir com os seus movimentos, então é como uma chama consumindo toda a impureza, deixando o que não tem morada nem medida. Leia tudo isso com sabedoria.
Krishnamurti – Cartas a uma jovem amiga – Editora Terra Sem Caminho
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A mente individual é uma mente revoltada e, por conseguinte, não busca segurança. Mente revolucionária não é o mesmo que mente revoltada. A mente revolucionária visa alterar as coisas de acordo com um certo padrão, e essa mente não é uma mente revoltada, não é uma mente que esteja insatisfeita consigo mesma.

Não sei se vocês já observaram que coisa extraordinária é a insatisfação. Vocês conhecem muitos jovens insatisfeitos. Eles não sabem o que fazer; sentem-se miseráveis, infelizes, revoltados, buscando isto, tentando aquilo, fazendo perguntas intermináveis. Mas quando crescem, arrumam um emprego, casam e esse é o fim de tudo. Sua insatisfação fundamental é canalizada e, depois, a infelicidade assume o comando. Quando jovens, seus pais, seus mestres, a sociedade, todos lhe dizem que não se sintam insatisfeitos, que descubram o que querem fazer e o façam — tudo, porém, dentro dos padrões. Esse tipo de mente não é revoltada e você precisa de uma mente realmente revoltada para encontrar a verdade — não de uma mente conformada. Revolta significa paixão.
Krishnamurti - Sobre Deus - Cultrix
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O descontentamento é a chama que consome a escória da satisfação, mas a maioria de nós procura dissipá-la de vários modos... Quando entendemos a natureza do verdadeiro descontentamento, vemos que a atenção faz parte dessa chama ardente que consome a mesquinhez e deixa a mente livre das limitações das buscas e satisfações egoístas.
Krishnamurti - O Verdadeiro Objetivo da Vida - Cultrix
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Por que nunca estão satisfeitos os entes humanos? Não é porque estão em busca da felicidade e porque pensam que, pela constante variação, serão felizes? Passam de um emprego para outro, de um estado de relação para outro, de uma religião ou ideologia para outra, pensando que, com esse constante movimento de mudança, encontrarão a felicidade; ou ainda, procuram um canto isolado da vida, e aí se deixam estagnar. Ora, por certo, o contentamento é coisa muito diferente. Só se torna existente quando vêdes a vós mesmo, tal como sois, sem nenhum desejo de mudança, nenhuma condenação ou comparação - que não significa aceitar simplesmente o que se vê e deitar-se a dormir. Mas, quando a mente já não está comparando, julgando, avaliando e é, portanto, capaz de ver o que é, de instante em instante, sem desejar alterá-lo - nesse próprio percebimento se encontra o Eterno.
Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano
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Ficaremos satisfeitos com as coisas necessárias, no seu sentido exato - que é estar livre do desejo de poder - quando tivermos encontrado o imperecível tesouro interior a que chamamos Deus, a verdade, ou como quiserdes. Se puderdes encontrar essas riquezas imperecíveis dentro de vós, vos sentireis satisfeitos com poucas coisas, e essas poucas coisas podem ser fornecidas.
Krishnamurti - Novo acesso à Vida
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É a indagação constante, a autêntica insatisfação que faz nascer a inteligência criadora; mas é extremamente difícil manter acesos a investigação e o descontentamento; a maioria dos pais não quer que os filhos tenham essa espécie de inteligência, porque é muito desagradável morar com alguém que está sempre pondo em dúvida os valores convencionais.
Krishnamurti - A Educação e o Significado da Vida
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Em primeiro lugar, para descobrir qualquer coisa, tem que haver um grande descontentamento, um grande questionamento, infelicidade; e muito poucas pessoas no mundo, quando estão descontentes, desejam acentuar esse descontentamento, desejam passar por ele para descobrir. Geralmente as pessoas querem o oposto. Se estão descontentes, querem felicidade, ao passo que, por mim – se me permitem ser pessoal – eu não queria o oposto, eu queria descobrir; e assim gradualmente através de vários questionamentos e através de um atrito contínuo, cheguei a compreender isso a que se chama a verdade ou Deus. Espero ter respondido à pergunta.
Krishnamurti - Auckland, Nova Zelândia 6 de abril, 1934
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Quando se sentem incompletos, sentem-se vazios, e desse sentimento de vazio surge o sofrimento; devido a essa incompletude vocês criam padrões, ideias, para sustentá-los no vosso vazio, e estabelecem esses padrões e ideais como sendo a vossa autoridade externa. Qual é a causa interior da autoridade externa que criam para si mesmos? Primeiro, sentem-se incompletos e sofrem por causa dessa incompletude. Enquanto não compreenderem a causa da autoridade, não passarão de uma máquina imitativa, e onde existe imitação não pode existir a preciosa realização da vida. Para compreender a causa da autoridade deverão acompanhar o processo mental e emocional que a cria. Em primeiro lugar sentem-se vazios e para se livrarem desse sentimento fazem um esforço; ao fazer esse esforço estão somente a criar opostos; criam uma dualidade que apenas aumenta a incompletude e o vazio. Vocês são responsáveis por autoridades externas tais como religião, política, moralidade, por autoridades tais como padrões económicos e sociais. Devido ao vosso vazio, à vossa incompletude, criaram estes padrões externos dos quais tentam agora libertar-se. Evolucionando, desenvolvendo, crescendo longe deles, querem criar uma lei interna para vocês próprios. À medida que vão compreendendo os padrões externos, querem libertar-se deles e desenvolver o vosso próprio padrão interno. Este padrão interno, a que vocês chamam de “realidade espiritual”, vocês identificam-no como uma lei cósmica, o que significa que não criaram senão outra divisão, outra dualidade.
Krishnamurti -Alpino, Itália - 1ª palestra 1 de julho, 1933
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Acho que é importante compreender-se o problema do descontentamento. Talvez encontremos a solução correta de nossos enormes problemas se pudermos investigar o significado profundo do descontentamento. Quase todos nós estamos insatisfeitos com nós mesmos, nosso ambiente, nossas idéias, nossas relações. Desejamos efetuar uma modificação. Há descontentamento geral, do simples aldeão ao homem mais letrado — se não está subordinado ao seu poder, se não é escravo da sua ciência. Alastra-se por toda a parte uma insatisfação que nos leva a executar toda sorte de ações, e queremos encontrar um caminho que nos conduza à satisfação. Se estais insatisfeito, desejais encontrar um caminho para a felicidade. Se estais batalhando dentro em vós mesmo, aspirais a encontrar o caminho da paz. Estando insatisfeito, descontente, desejais uma solução que seja satisfatória. Por conseguinte, a mente está sempre a tatear, sempre a sondar, em busca da Verdade — em busca da solução verdadeira para o seu descontentamento. Uns encontram a solução na satisfação própria, num alvo, num objetivo na vida, por eles estabelecido; e tendo descoberto um meio por onde encaminhar o seu desejo, pensam ter encontrado o contentamento." Krishnamurti - 25 de fevereiro de 1953
Krishnamurti -Autoconhecimento - Base da Sabedoria
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Procuramos felicidade através das coisas, pelas relações, por meio de pensamentos e idéias. Assim as coisas, as relações e idéias tornam-se todas importantes, e não a Felicidade. Quando se procura felicidade através de alguma coisa, então, a coisa torna-se de valor superior a própria felicidade. Quando apresentado desta forma o problema parece simples e é simples. Procuramos felicidade na propriedade, na família, no nome e então, a propriedade, a família, a idéia torna-se todas importantíssimas, mas sendo a felicidade procurada por um algum meio, o meio destrói o fim. A felicidade pode ser achada por algum meio qualquer, através de qualquer coisa feita pela mão ou pela mente? As coisas, as relações e idéias são claramente não-permanentes, estamos sempre insatisfeitos com elas. As coisas são impermanentes, se acabam e são perdidas; o relacionamento é um constante atrito e a morte é o fim; idéias e convicções não têm nenhuma estabilidade, não são permanentes. Procuramos felicidade nisso e ainda não percebemos sua impermanencia. Portanto, o sofrimento se torna nossa constante companheira superando nosso problema. Para descobrir o verdadeiro sentido da felicidade, temos de explorar o rioa do autoconhecimento. Autoconhecimento não é um fim em si mesmo. Existe a fonte deste rio? Cada gota de água do seu início até o fim é que faz o rio. Imaginar que acharemos felicidade na fonte é um equivoco. Ela se encontra onde você está no rio do autoconhecimento.
Krishnamurti - O Livro da Vida
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Viver é amar e morrer

Morrer faz parte do viver. Não se pode amar sem morrer; morrer para tudo o que não é amor, para todos os ideais, que são projeções de nossos próprios desejos; morrer para todo o passado, para a experiência - afim de podermos saber o que significa o amor e, por conseguinte, o que significa o viver.
Assim, viver, amar e morrer são a mesma coisa, a qual consiste em viver integralmente, completamente, agora. Há então ação que não é contraditória, produtiva de dor e sofrimento; há viver, amar e morrer - ação. Essa ação é ordem. E se vivermos dessa maneira - como devemos, não em ocasiões fortuitas, mas todos os dias, todos os minutos, teremos a ordem social, haverá a unidade humana, e os governos serão exercidos na base dos computadores e não pelos críticos, com suas ambições e condicionamentos pessoais. Assim, viver é amar e morrer.

Krishnamurti - O vôo da águia

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Conhecimento e Conflito nas Relações Humanas


Q: Que lugar tem o conhecimento no relacionamento?

Deve-se estar livre do conhecido caso contrário o conhecido é meramente a repetição do passado, a tradição, a imagem. O observador é tradição, o passado, a mente condicionada que olha as coisas em si mesma, no mundo. Quando o observador observa ele o faz, portanto, com memórias, experiência, mágoas, desesperos, esperanças com todo o fundo do conhecimento. Sempre que ele opera com esse conhecimento nas relações humanas há divisão e, portanto, conflito.

É possível libertar-se do eu?

A medida que se vive, observa-se que esse centro, esse "EU" , é a essência de todos os problemas. Observa-se, também, que ele é a essência de todo prazer, medo, e tristeza.

"Como escapar desse centro para ser realmente livre - de forma absoluta e não relativa?"

"É possível livrar-se totalmente desse centro?"

Tentando impor algo a si mesmo, o "EU" , que se identifica com esse esforço, é capturado por ele e diz: "Eu consegui" , mas esse "EU" ainda é o centro.

"Se você não deve se esforçar porque acredita que, quanto maior o esforço feito, maior será a resistência do centro, então, o que fazer?"

"Há um verdadeiro "EU" , separado do "EU" criado pelo pensamento através de suas imagens?"

"É possível libertar-se do "EU" ?"

"Sem tornar-se distraído, de certo modo louco?"

Em outras palavras: é possível ser totalmente livre de apegos?, o que é um dos atributos, uma das qualidades do "EU". As pessoas são apegadas à própria reputação, ao próprio nome, às próprias experiências. São apegadas ao que dizem. Se você quer realmente libertar-se do "EU", isso significa ausência de laços; o que não que dizer que você se torne desinteressado, indiferente, insensível, que se feche em si próprio, pois tudo isso é uma outra atividade do eu. Antes, ele estava apegado; agora, ele diz: "Eu não me apegarei". Esse é ainda um movimento do "EU". Quando você está realmente desapegado, mas sem esforço, de uma forma profunda, básica, então, desse profundo senso de desapego nasce a responsabilidade, o profundo senso de responsabilidade.

Você está disposto a isso? Esta é a questão. Podemos discutir eternamente, usar palavras diferentes, mas quando chega a hora de pôr isso em prática, de agir, parece que não queremos fazê-lo; preferimos continuar como somos, com o status quo ligeiramente modificado, mas levando adiante nossos conflitos.

Libertar-se da própria experiência, do próprio conhecimento, da própria percepção acumulada - isso é possível se você se empenhar energicamente. E não toma tempo. Essa é uma de nossas desculpas: precisamos ter tempo para sermos livres. Quando você percebe que um dos maiores fatores do "EU" é o apego, e observa o que ele faz ao mundo e ao seu relacionamento com os outros - desavenças, separação, toda a fealdade de um relacionamento - se você percebe a verdade sobre o apego, então você estará livre dele. Sua própria percepção o libertará. Você está disposto a isso?

Krishnamurti - Perguntas e respostas - Ed. Cultrix
Autor - Jiddu Krishnamurti

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