quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Não importa se você morrer


3º Diálogo com estudantes do vale de Rishi, Índia, em 20/12/1984 sobre concentração, meditação, talento, vocação, corrupção, imagens, verdade.

K: Sobre o que vocês gostaria de falar?
Menino: Orgulho.
K: Como?
Menino: Orgulho.
K: Do que você tem orgulho?
Menino: Em conseguir realizar alguma coisa.
K: Realização? O que você conseguiu realizar? Ou você está admirando gente que realizou, ou você quer realizar algo? É sobre isso que vocês querem conversar: orgulho, realização, sucesso, dinheiro, posição, poder... É isso que todos vocês querem? Provavelmente todos querem! Não enganem vocês mesmos; vocês todos querem ter essas coisas...
Menino: Não, senhor. Todos nós queremos isso porque nesse mundo não podemos viver sem essas coisas.
K: Como? Nesses tempos, o menino diz, não podemos viver sem essas coisas... Como você sabe?
Menino: Em qualquer lugar que você vê uma pessoa pobre...
K: Você, venha até aqui!
Menino: Em qualquer lugar que você vê uma pessoa pobre, senhor, eles irão argumentar se você não lhes der alguma coisa, ou se você tentar torná-los bons homens, eles não terão nenhum respeito por você.
K: Então, o que você quer ser?
Menino: Qualquer coisa com a qual possamos obter respeito suficiente para viver uma vida feliz, mas não muito respeito. (risos da platéia)
K: Você está inteiramente certo: não muito respeito, mas uma vida razoavelmente confortável, e uma vida feliz. É isso?
Menino: Sim.


K: É isso o que você quer?
Menino: Sim!
K: Então, vá atrás disso!
Menino: Senhor, mas não é tão fácil, a menos que você tente e consiga realizar isso.
K: alguma outra pergunta?
Educador: Qual a diferença entre meditação e concentração?
K: Eu entendi! Você realmente quer falar sobre isso, ou é um jogo?Ou é só um divertimento falar sobre algo que eu possa estar interessado, é isso? Você realmente quer saber o que é meditação e concentração? Tudo bem, senhor! Se você realmente quer falar sobre isso, você prestará atenção ao que vou dizer?
Meninos: Sim, senhor.
K: Não diga, sim, senhor, e fique agitado. (Risos de K)... Você realmente quer falar sobre isso? Se você quer, é um assunto muito, muito sério. O que você acha que é concentração?
Menino (2): Algo que você quer realmente pensar a respeito, senhor.
K: Sim.
Menino (2): Pensar nisso profundamente, examinar profundamente.
K: Como? Pensar nisso profundamente? O que você quer dizer com isso?
Menino (2): Algo que queremos manter na nossa mente.

K: Como? Venha até aqui!... Algo que você quer manter na sua mente, certo? Você já tentou isso?... Você quer examinar aquelas flores, ou o seu livro, ou o que o seu educador está dizendo... Você alguma vez já examinou isso muito cuidadosamente, aquelas flores, o que o professor está dizendo, escutou-o, e concentrou-se num livro, já?
Menino (2): Às vezes.
K: Às vezes? Quando isso acontece?... Quando você gosta disso – certo?
Menino (2): Sim!



K: Agora, quando você gosta de algo, você põe sua atenção, seu pensamento, sua energia para observá-lo, correto? E isso é geralmente chamado concentração. Isto é, você se concentra no livro que está lendo – certo? Ou em algo que está examinando muito cuidadosamente, aquelas flores, ou o que o seu amigo, ou seu professor está lhe dizendo – certo?
Menino (2): Sim!
K: Alguma vez já prestou atenção muito cuidadosamente, concentrou-se em algo por muito tempo? Não por um ou dois segundos, mas por um longo tempo... você já fez isso?
Menino (2): Eu não sei, senhor.
K: Tente agora. Tente escutar muito cuidadosamente o que alguém está lhe dizendo, ou olhar aquelas flores por muito tempo, sem permitir que qualquer outro pensamento venha. Isso é o que concentração significa, focar, dar toda a sua atenção a algo que você está escutando, ou lendo um livro, ou prestando atenção em algo, um lagarto andando pela parede... Você fará isso, você está fazendo isso agora?
Menino (2): Sim!
K: Você está bem? Bom!... Agora, quando isso ocorre, o que acontece?
Menino (2): Nós entendemos.
K: Não somente vocês entendem, mas o que está acontecendo? Eu lhe explicarei logo, você examina isso por si mesmo. De onde você é?
Menino (2): Bangalore.
K: Bangalore. Bom!... Eu tenho dois meninos – agora duas meninas?...
K: Agora ele quer saber qual a diferença entre concentração e meditação. Certo? Você não conhece a palavra meditação, conhece? O que ela significa? Não? Nem sabe o significado da palavra concentração?
Menino (2): Acho que agora sei.
K: Agora você sabe porque eu lhe mostrei!... Então, concentração significa focar seu pensamento, sua energia em algo.
Menina: Senhor...
K: Venha aqui!... Cheguem para lá um pouquinho para dar mais espaço, ela é uma garota crescida.
Menina: Mas não é difícil concentrar-se em algo sem nenhum pensamento em sua mente?
K: Certo! Não é difícil – ouça com atenção – não é difícil concentra-se em algo sem que pensamentos venham?
Menino (2): Eu acho que é.
K: É difícil, não é?... Então, o que vocês fazem?


Menino (2): tentamos manter os outros pensamentos afastados.
K: Afastados. Então, quem mantém... – não complicarei o assunto para vocês – Então, você se concentra num livro e outros pensamentos vêm. Certo?
Menino (2): Sim!
K: Então, o que você faz?
Menina: Você tenta mantê-los afastados.
K: Sim, você tenta por de lado os outros pensamentos. Agora, o que acontece nesse processo?... Estou me concentrando nisso, pensamentos vêm.Então, eu tento colocá-los de lado, e então pensamentos vêm, então mantenho isso, não é? Certo?
Menino: Sim!
K: Vocês estão escutando o que estou dizendo? Se vocês não estão interessados, não se incomodem.
Menino: Estou pensando numa resposta que você poderia dar corretamente.
K: Como? Não entendo?
Menino: Estou pensando numa resposta que você poderia dar corretamente para isso.
K: Veja, senhor, eu estava lhe dizendo que quando você se concentra em algo outros pensamentos vêm. Certo? Então, você tenta por de lado aqueles pensamentos, e então você tenta se concentrar... Assim, isso está acontecendo o tempo todo. Certo?
Menino: Mas por que esses pensamentos vêm?
K: Espere, espere, vou chegar nisso logo. Primeiro veja o que está acontecendo... Você quer concentrar-se em algo, então os pensamentos vêm e então você os põe de lado; de novo os pensamentos vêm e de novo você os põe de lado. Então, você não está realmente se concentrando, está? Porque os pensamentos vêm e o perturbam. Agora, ele perguntou, por que os pensamentos vêm? Certo?
Menino: Sim!
K: Você me diz porque os pensamento vêm. Eu lhe direi.
Menino (2): Eu penso que é porque nós pensamos sobre aquelas coisas. Porque quando estamos fazendo algo, outra coisa acontece e você pensa sobre ela.
K: Sim, é isso, você está pensando sobre isso, você está também pensando sobre outra coisa. É isso?
Menino (2): Sim.
K: Por que isso acontece?
Menino (3): Senhor, se você está pensando, concentrando-se...
K: Venha e sente-se aqui!... Desculpe, três meninos e uma menina.
Menino (3): Senhor, quando você tenta se concentrar, eu continuo pensando que eu não deveria permitir os pensamentos virem e então eles vêm.
K: Sim, por que eles vêm?
Menino (3): Porque você continua pensando sobre eles.
K: Mas você também está pensando sobre isso.
Menina (2): Porque você os está suprimindo.



K: Está certo! Você pegou! Você entendeu o que você disse? Não inteiramente?... Você está tentando se concentrar nisso, outros pensamentos vêm, então você tenta suprimir os pensamentos, somente os outros pensamentos, exceto esse. Certo? Então, o que está acontecendo quando você suprime?... Eu suprimo, estou desconfortável. Comi algo que me fez mal, estou cheio, e tento suprimir a minha dor. Por que você faz isso, por que você tem repressões, por que você suprime?
Menino (3): Porque nós pensamos que será mais agradável se você os suprime, eles não voltaram novamente, então você os suprime.
K: Está certo... Então ele diz, quando você os suprime, eles voltam novamente. Então, é inútil suprimir. Certo? Certo? Seria errado suprimir, inútil suprimir. Então, o que vocês farão?
Menino: Se você está realmente pensando sobre algo muito seriamente, senhor, não há outros pensamentos.
K: Mas outros pensamentos vêm, meu menino.
Menino: Mas, quando você está realmente pensando sem nenhuma outra coisa, por que eles deveriam vir?
K: Agora você não tentaria entender porque os pensamentos estão sempre indo e vindo? Certo? Você não faria essa pergunta?
Menino (4): Senhor, porque suprimimos, os pensamentos vêm e não podemos controlá-los e perdemos nossa concentração. Então, o que deveríamos fazer porque, senhor, é possível que se nós apenas o deixarmos, os outros pensamentos irão por eles mesmos?
K: Eu não entendi bem, vocês entenderam?
Educador: Se você não faz nada com os outros pensamentos, eles irão embora? É isso o que você está dizendo?
K: Você viria até aqui? Sente-se aqui, não fique nervoso... Esse é um assunto muito complexo, não é?
Menino (4): Sim.
K: A maioria das pessoas, adultos, jovens, desde a infância lhes dizem, - vocês estão ouvindo – ouçam com cuidado – desde a infância lhes dizem para concentrar-se. Certo? Você quer olhar pela janela e o professor diz, concentre-se em seu livro. Mas, você está realmente interessado em observar aquela lagartixa na parede. Certo? E o professor diz, não olhe, preste atenção ao livro. Então, desde a infância, você está interessado em observar a lagartixa, mas o professor diz, faça isso.



Menino (4): Sim.
K: Agora, seu eu fosse seu professor eu diria, vamos ambos olhar aquela lagartixa. Você entende? Não tentar forçá-lo a olha o livro. Você entende o que estou dizendo?
Menino (4): Sim, senhor.
K: Isto é, você está observando a lagartixa – não há lagartixa aqui! (risos) É seu interesse é naquela lagartixa, não no livro! Então eu, como professor, lhe diria, vamos ambos observar aquela lagartixa, muito cuidadosamente, ver como ela gruda na parede, quantas garras ela tem, ver a cabeça, ver os olhos. Certo? Eu o ajudaria a observar muito mais aquilo do que o livro.
Menino (4): Senhor, mas eu tenho uma pergunta.
K: Qual?
Menino (4): Se o professor, ou eu em uma classe, crianças se distraem em horas diferentes, como eu poderia ficar distraído numa certa hora e outra pessoa poderia ficar distraída numa outra hora e se o professor cuida de todas as nossas distrações, senhor, como ele cuidará de todos?
K: Eu vou lhes mostrar. (Risos)....
K: Vocês são todos muito inteligentes aqui, não são? (risos)
K: De onde você é?
Menino (4): Madras. Meus pais moram em Zâmbia.
K: Primeiramente, eu não tenho distrações; não chame isso de distrações... O que importa é que você observa, presta atenção, escuta, isso é importante. Mas não há distrações. Não use a palavra “distração”. Certo? Agora, espere um minuto, eu o ajudo a observar aquela lagartixa ou eu o ajudo a observar aquele menino sentado lá ficando irrequieto, mexendo com seus dedos. Certo? O que estou fazendo para ajudá-lo – não ajudar – o que estou lhe mostrando é que quando você presta atenção a algo, seja certo ou errado, então você pode prestar atenção ao livro. Você entendeu?
Menino (4): Sim, senhor!
K: Tem certeza?
Menino (4): Sim, senhor!
K: É isso! Quando você presta atenção àquela lagartixa, você terá aprendido a arte da atenção. E vou ajudar todos os meninos, os vinte ou quinze meninos comigo a prestar atenção. E quando há atenção, não há distração.
Menino (4): Então, por que os professores não fazem isso, senhor?
Menina (2): Suponha que a gente se distraia na aula.
K: Não há distração, não chame isso de distração.
Menina (2): Suponha que queiramos observar algo, então por que os professores não nos ajudam a observar aquela coisa?
K: Pergunte a eles... Eu estou lhe dizendo – venha aqui -... duas meninas. Certo. Venha aqui, assim está melhor. Tudo bem?
Menina (2): Sim, senhor.
K: Você não é tímida?
Menina (2): Não, senhor.
K: Muito bem!... Você está perguntando por que seus professores não lhe dizem tudo isso. Certo?
Menina (2): Sim, senhor.
K: Por que eles não lhe dizem isso?
Menina (2): Senhor, eu acho que eles querem concluir a particularidade, qualquer que seja, que eles querem nos ensinar.
K: Está correto! Eles querem concluir o assunto. Eles estão entediados, você está entediado. Certo? E eles querem terminar rapidamente o que eles têm a dizer. E passar ao próximo assunto, ou a próxima classe. Então, eles estão entediados com o ensino. Certo? Agora, pergunte a eles por que eles estão entediados, por que eles querem terminar rapidamente, por que eles não o ajudam a prestar atenção? Você entende? Se você presta atenção àquela lagartixa, então você terá aprendido a arte da atenção. Certo? Você entende? Então, você pode prestar atenção ao livro, então, não há distração.
Menino: Mas...
K: Espere, espere meu menino...Eu não terminei. Se eu fosse seu professor eu lhe mostraria muito cuidadosamente o que é atenção. Certo? Atenção é dedicar total energia, atenção, ao que você está observando. Certo? E, se você aprende isso, você pode aprender como prestar atenção ao seu livro.
Menino (4): Sim, senhor.
Menino: Você poderia estar interessado somente na lagartixa e você poderia não gostar de estudar, você não estaria interessado nos estudos.


K: Alguém poderia não gostar de estudar, então, não estude!
Menino: Senhor...
K: Descubra, senhor, descubra. Aprenda. Descubra por que você não quer ler livros...
K: Agora, vocês me escutem... Falamos sobre concentração, isto é, você está pensando, prestando atenção a algo, então outros pensamentos vêm, e você os afasta. E, então, há sempre conflito – querer prestar atenção a isso, pensamentos vêm, e então há esse constante tagarelar do cérebro, tagarelar, tagarelar, tagarelar. Certo? Entendeu? Agora, meditação, a palavra “meditação” – vocês sabem o que a palavra é, vocês já ouviram falar dela?
Menino (4): Sim, senhor!
K: Meditação em inglês significa também medir. Certo? Medir. Como em sânscrito, se você perguntar...
Menino (4): Radhikaji.
K: Obrigado por me ajudar. Se você perguntar Radhikaji, ele lhe dirá, “ma” é também medir em sânscrito. Então, meditação também significa medir. Agora, sem medida realmente não há avanço tecnológico. Concordam? Vêem isso? Vocês vêem tudo isso que estou dizendo?
Menino: Não entendi essa palavra que você disse.
K: Você não entendeu a palavra que estou usando?
Menino: Sim.
K: Estou usando medir. Você tem uma trena não tem?
Menino: Sim!
K: Meditação também significa medida.
Menino (4): Acho que ele não entende a palavra “tecnologia”, “tecnológico”.
K: Ah! Você não entende a palavra “tecnologia”?
Menino: Sim.
K: Técnica para fazer alguma coisa... digamos, por exemplo, que você quer construir um carro e você deve conhecer todas as peças, montá-las, elas devem todas trabalhar em conjunto. Eu desmontei um carro, peça por peça, e então, tornei a montá-las, esperando que iria funcionar. E realmente funcionou. Certo? Aprender sobre máquinas, como elas funcionam, quais são seus componentes, quais são suas medidas, sua resistência metálica e assim por diante, tudo isso, esse aprender sobre todo o mecanismo é chamado tecnologia, algo assim. Agora, meditação, concentração, para mim, são duas coisas totalmente diferentes.
Menino: Senhor, muito freqüentemente, você se concentra sem nem ao menos tentar se concentrar. Como quando você vai fazer algo, não há necessidade de se concentrar, você vai se concentrar.
K: Você pode fazer algo – se você ama algo, você não tem que se concentrar. Você entendeu isso?
Menino: Sim, senhor!
K: Se você ama alguma coisa, não há concentração. Você ama algo?
Menino: Algumas poucas coisas!
K: Você ama algumas poucas coisas... Quais são elas?
Menino: Senhor, eu gosto de ler livros.
K: Soltar pipas?
Menino: Sim, senhor.
K: Subir em montanhas, subir em árvores, correr atrás de macacos (Risos).
K: O que você realmente ama?
Menino (4): Colecionar selos.
K: Não, só um minuto. Esse assunto é muito complexo para meninos de sua idade... Meditação significa ser livre da medida. Isso é muito difícil para vocês todos!
Menino: Concentração é algo que você força e faz algo, e meditação deveria estar onde você não força nada.
K: Está certo... Meditação poder somente acontecer quando não há esforço, quando não há contradição. Você conhece contradição, dizer uma coisa e fazer outra. Certo?
Menino: Senhor, suponha que você goste de ler, então você está realmente se concentrando nisso, não é isso meditação, onde você não sabe que está se concentrando?
K: Não, não, não! Você estará, então, tentando entender o que o livro está dizendo.
Menino: Você não sabe que está se concentrando. Como ele disse, você não sabe que ele está se concentrando, mas você está se concentrando.
K: Isso é quando você gosta de algo, quando você gosta de ler uma boa história de detetive, você se diverte com isso, não é? Isso é muito difícil para vocês. Não se preocupem sobre meditação e concentração. É muito difícil. Certo?
Menino: Sim.
K: Um pouco!... Agora, eu gostaria de conversar sobre outra coisa. Posso?
Menino: Sim, senhor.
K: Eu lhes perguntei sobre o que vocês gostariam de conversar, e, então, após lhes fazer essas perguntas, eu gostaria de conversar sobre outra coisa. Posso?
Meninos: Sim, senhor.
K: Todos vocês?
Meninos: Sim, senhor!
K: Seres humanos, como vocês, têm capacidade, têm uma espécie de talento oculto. Talento, entendem, para pintar, tocar violino, tocar flauta, ou ser um ser humano muito bom. Vocês seres humanos têm talentos ocultos. Certo? E sua sociedade, seus pais, todos dizem, seja um homem de negócios, ou, seja um doutor, ou, seja, um engenheiro, ou, seja um funcionário administrativo, um servidor púbico. Assim, seu cérebro, o que está dentro do crânio, é condicionado pelos seus pais, ou pela sociedade na qual vocês vivem. Você entende?
Menino (4): Sim, senhor.
K: Assim, seu próprio talento é destruído por essa pressão. Você poderia ser um grande pintor. Certo? Ou um grande cantor, ou um maravilhoso botânico, horticultor, certo? Mas, seus pais, sua sociedade, dizem, não, isso não é bom o suficiente, você deve se tornar um bom homem de negócios, ou um bom doutor, ou funcionário público. Então, você destrói o seu próprio talento. E o que é importante é ter o seu próprio talento, então, você fica feliz com ele. Você entende o que estou dizendo?
Menino (4): Senhor...
K: Ouça o que estou dizendo... Eu estou falando agora. E você está me ouvindo. Uma coisa é isso: seres humanos tem essencialmente, oculto, um certo talento. Certo? Nem sempre para tornar-se um homem de negócios, ou um capitão do exército, ou um aviador. Então, você tem que descobrir o seu próprio talento, e aferrar-se a esse talento quer você se torne pobre, rico, bem-sucedido.
Menino: Senhor, mas se você quiser ser um homem de negócios e paralelamente você também pode cantar, ou pintar, ou o que quer que seja.
K: Meninos inteligentes – vocês treinaram esses meninos muito bem! Eles dizem que você pode se tornar um homem de negócios, ou um general, ou um capitão do exército, e também pintar... (risos). Vocês compreendem como o cérebro dele está funcionando? Você está certo!... Então, você não fará nenhuma das coisas apropriadamente, inteiramente, com felicidade.
Menino: Por que, senhor?
K: Por que você está dividido entre os dois.
Menino: Não.
K: Eu sei isso, eu sei isso. Você entende?
Menino: Sim, senhor.
Menino: Senhor...
K: Espere um minuto, estou falando agora. Então, também é muito difícil descobrir seu próprio talento. E ele pode não o levar ao sucesso. Isso não importa. Você entende? Então, você não se importa em não ter muito dinheiro, porque você tem algo em você mesmo. Certo?
Menino: Sim, senhor.
K: Então, descubram, todos vocês, descubram seu próprio talento. Algo de vocês mesmos, não imposto pela educação, por seus pais, pela sociedade, mas encontrem algo que vocês tenham para vocês mesmos.
Menino: Mas se nossos pais nos forçarem a fazer algo?
K: Eu sei que os seus pais os forçam a tornarem-se engenheiros, forçam-nos a tornarem-se uma coisa ou outra. Mas, enquanto vocês são jovens, façam o jogo e digam, sim, eu aceito isso e descubram por vocês mesmos.
Menino: Mas supondo que algo aconteça com você...
K: Não, não, não... Eu sei, só escute o que estou dizendo. Porque tenho algo mais a dizer. Certo?
Menino: Sim.
K: Vocês não se importam?
Menino: Não, senhor.
K: E também, você vai entrar num mundo, quando você deixar esse maravilhoso vale, com todas as rochas, e as sombras, e as árvores, e as flores, e o campus que tem uma verdadeira paz, vocês irão enfrentar um mundo que é terrível. Certo? Há violência, seqüestro, tiroteio, suborno. O mundo está ficando mais e mais perigoso. Certo? E o mundo está se tornando corrupto, no mundo inteiro, não somente na Índia onde é bem ostensivo. Vocês sabem o que a palavra “ostensivo” significa? Bem aberto. Eles dizem, dê-me algo antes de eu fazer outra coisa. Há corrupção, certo? No mundo inteiro, não somente aqui neste país, mas na América, na França, na Inglaterra – corrupção política, corrupção social, mercado negro, e assim por diante. Há uma tremenda corrupção no mundo inteiro. Nós dizemos que corrupção é suborno, passar dinheiro sob a mesa, pagar dinheiro sem recibo. Tudo isso é chamado corrupção. Certo? Mas isso é somente um sintoma. Vocês sabem o que significa sintoma?
Menino: Sim, senhor, sinais.
K: Vocês sabem o que é sintoma? Sintoma é quando eu como algo, comida muito pesada, e tenho dor de barriga. A dor de barriga é o sintoma. Mas a causa é eu ter comido a comida errada. Entenderam?
Menino: Sim, senhor.
K: Então, quero investigar a causa da corrupção. Nós dizemos corrupção – Eu espero que vocês todos estejam ouvindo porque vocês todos vão enfrentar o mundo quando saírem de Rishi Valley.
Menino: Senhor, supondo que você não aceite o dinheiro que ele está oferecendo, senhor, ele poderia fazer algo pior. Se você aceitar o dinheiro...
K: Se eu lhe dou dinheiro por baixo da mesa, você se torna corrupto. E então você também se torna corrupto, porque está aceitando o dinheiro. Certo?
Menino: Sim, senhor. Mas, se não aceito o dinheiro, ele poderia fazer algo.
K: Eu sei, eu sei. Se você não aceita o dinheiro ele o ofenderá. Ouça apenas, entenda qual é a causa da corrupção. Você entende? Corrupção não é meramente passar dinheiro sob a mesa, suborno, mercado negro, mas a causa é algo inteiramente diferente. Certo? Vou examinar isso com muito cuidado, se vocês estão interessados. Corrupção começa com o interesse em si mesmo. Vocês entendem isso?
Menino: Sim, senhor.
K: Se estou interessado em mim mesmo, em o que quero, o que devo ser, se sou ganancioso, invejoso, duro, brutal, cruel, há corrupção. Vocês entendem? A corrupção começa em seu coração, na sua mente, não somente dando dinheiro – que também é corrupção – mas a causa da corrupção está dentro de você. A menos que você descubra isso e mude isso, você será um ser humano corrupto. Você entende o que estou dizendo? Corrupção é quando você está zangado, quando é ciumento, quando odeia as pessoas, quando é preguiçoso, quando você diz, isso é certo, e eu sinto que isso é certo, e aferra-se a isso. Vocês entendem o que estou dizendo?
Menino: Senhor, parece que tudo tem a ver com o egoísmo.
K: Tudo tem a ver com o egoísmo. Você está inteiramente certo. A corrupção começa aí. Você entende, meu menino?
Menino: Sim.
K: Então, não seja corrupto. Não importa se morrer por isso.
Menino: Senhor...
K: Espere, ouça-me. Vocês entendem? Estamos todos tão amedrontados... Você diz, como viverei, o que farei se não sou corrupto quando todos ao meu redor são corruptos? Vocês entendem o que eu quero dizer com corrupção, não somente o sinal externo, mas o profundo senso interior da corrupção do viver dos seres humanos – egoísmo, pensando sobre eles mesmos, querendo seu sucesso, invejosos – vocês entendem? Então, a corrupção está dentro... Então, se você entende isso muito cuidadosamente e você é realmente sério, não é cínico, a maioria dos meninos mais velhos que vão deixar a escola tornaram-se cínicos, eles vêem o que o mundo é, eles dizem, bem, tenho que aceitar isso! Essa é uma forma de cinismo. Mas, se vocês entendem, muito cuidadosamente, a partir de agora, que a corrupção não é meramente passar dinheiro sob a mesa, subornar – o suborno, não importa se são duas rúpias ou dez milhões de dólares, é ainda suborno. E ser violento é parte do que é chamado corrupção, terror, tudo isso. Isso é o que está acontecendo no mundo. Vocês são seres humanos em crescimento, não sejam como eles. Não se tornem zangados, Não sejam invejosos, não busquem sempre o sucesso.
Menina: Senhor, como podemos parar isso tudo? Como podemos deixar de ser invejosos?
K: Se você quer ser invejoso, seja invejoso e veja o que acontece. Vocês entendem? Mas, se você não quer ser invejoso, não seja invejoso! Não diga, “como” eu deixo de ser? Se você vê algo perigoso, como uma cobra, ninguém lhe diz, você corre. Certo? Então, a corrupção interior é muito perigosa. Certo? Então, não sejam corruptos. Comecem lá primeiro, não lá fora. Vocês entendem? Vocês fará isso? Não prometam. Não prometam, a menos que estejam absolutamente certos de cumpri-lo. Certo? Mas, se vocês vêem o quão importante isso é na vida porque vocês todos estão crescendo, crescendo neste mundo terrível, esse mundo insano. Vocês entendem? Não há sanidade no mundo político, no mundo religioso. Certo? No mundo econômico, não há sanidade. Então, por favor, Estou só salientando para vocês, estejam vocês crescidos, estema vocês deixando esse vale maravilhoso, ou permanecendo aqui por mais dois ou quatro anos não sejam corruptos, interiormente, não procurem a vaidade, orgulho, não digam, eu sou superior a outra pessoa. Vocês sabem que aprendem bastante quando há humildade. Vocês conhecem a palavra “humildade”? Vocês aprendem bastante se são realmente humildes. Mas se vocês estiverem meramente procurando sucesso, dinheiro, dinheiro, dinheiro, poder, posição, status, vocês entendem, então vocês estão começando com a corrupção. Vocês podem ser pobres, sejam pobres, quem se importa. Eis porque é importante para vocês, para todos vocês, encontrar seu próprio talento e aferrar-se a ele, mesmo que ele não traga sucesso, fama, e tudo isso, o que é um disparate de qualquer maneira porque todo iremos morrer. Você entende, meu amigo? Enquanto viver, viva não com todo esse disparate que acontece por aí.
Menino: Senhor, por que as pessoas não percebem isso?

K: Porque elas não pensam, elas não sentem, elas estão pensando sobre elas mesmas todo o tempo, seus empregos, suas administrações, seus trabalhos. Você entende? Elas não estão interessadas nisso. Mas, se você está...
Menino: Como você deixa de ser egoísta?
K: Como? Como você deixa de ser egoísta? Não seja egoísta... Apenas escute! Nunca pergunte a ninguém “como”. Você entende? Assim, eles lhe dirão como, então, você está perdido. Essa é a maior corrupção.


Menina: Você quer dizer que devemos descobrir por nós mesmos?
K: Descubra, investigue, use seu cérebro, duvide, questione. Não aceite meramente. Eu sou seu professor, suponha que sou seu professor, quero fazer com que você tenha um bom cérebro. Certo? Ter um bom cérebro significa não ter conflito consigo mesmo ou com outra pessoa. Eu acho que tudo isso é demais.
Menino (4): Eu gostaria de perguntar-lhe, senhor: supondo que você não é egoísta e alguém faz algo a você?
K: Se alguém o fere, o que você fará? Acertá-lo de volta?
Menino (4): Depende da gravidade do que ele fez.
K: Sim, você o disse. Puxa, você é bastante... Se ele o ofende profundamente o que você fará? Você já se perguntou o que significa ser ofendido? Vamos, pense comigo.
Menino: Senhor, então ofender-se é corrupção?
K: Apenas ouça. Suponha que eu o ofenda muito profundamente – suponha, não quero ofendê-lo – suponha que quero ofendê-lo muito profundamente. Agora, você diz, estou ofendido. Agora, o que você quer dizer com isso? Use seu cérebro. Não repita.
Menino (4): Fisicamente?
K: Sim, não só fisicamente, mas interiormente, ele o ofende. Ele o chama de bobo.
Menino (4): Senhor, eu penso...
K: Apenas ouça com cuidado. Todos vocês ouçam com cuidado. Ele o chama de bobo, e você fica ofendido. Certo? Você descobriu o que fica ofendido? Cuidado, cuidado!
Menino: Se você pensa que não é um bobo e então alguém aparece...
K: Veja, alguém o chama de bobo e alguém diz que você é uma grande pessoa ambos são iguais, não é? Você entende o que estou dizendo? Alguém me chama de bobo, de idiota, e eu fico ofendido – suponha. O que se ofende?... Cuidado, pense bem, não responda rapidamente, pense bem... Pense bem. Não, eu não ouvirei. Eu disse pense bem, pense bem cuidadosamente. Eu estou lhe perguntando – eu o chamo de idiota – eu não estou dizendo isso – e você fica ofendido. O que você quer dizer com você fica ofendido? O que é você?
Menina: O ego.
K: pense bem, minha menina, pense bem.
Menino (5): Sou eu, meu ego.
K: O que é você?
Menino (5): Eu sou um...
K: Venha aqui, meu menino... Sente-se aqui. Vamos, não perca tempo. Eu o conheço, então prossiga.
Menino (5): Senhor, o que é insultado sou eu, o que construí a meu respeito.
K: O que você construiu de você mesmo, o que significa isso?
Menino (5): Senhor, o que foi realizado, o que eu realizei, o que fiz.
K: O que você fez, o que você realizou. Porque vocês estão todos tão acostumados à realização? Vocês todos falam sobre realizações. Como seus pais, suas mães, seus avós, eles realizaram. Certo? Eles tornaram-se bem-sucedidos, você quer dizer.
Menino (5): Não, senhor, o que eles fizeram a eles mesmos.
K: Sim. Digamos, por exemplo, eu estive em boa parte do mundo. Certo? Conversei com milhares de pessoas diferentes, eu estive nas Nações Unidas, fiz todo tipo de coisa. Certo? O que significa que eu construí uma imagem, um quadro sobre mim mesmo. Certo? Um quadro sobre mim mesmo. Você aparece e diz, você é um idiota – e eu fico ofendido – suponha. O que fica ofendido?
Menino: Seus sentimentos.
K: Meus sentimentos, minha imagem.
Menino: A imagem de você mesmo.
K: Sim, está certo. A imagem de mim mesmo... Porque eu tenho viajado, sou um grande homem, escrevi livros, estive com a Senhora Ghandi. Vocês entendem? Eu construí uma imagem sobre mim mesmo; essa imagem se ofende. Agora, o próximo passo, ouçam com atenção. Posso viver sem imagem, nenhuma imagem?
Menino (5): O Senhor pode?
K: Se posso? Sim. Caso contrário, eu não falaria sobre isso. Isso é desonestidade, falar sobre algo que você mesmo não está vivendo.
Menino (5): Senhor, mas...
K: Espere, espere, ouça o que estou dizendo, meu menino. Então, você tem uma imagem nessa idade? Certamente, todos vocês têm imagens. E essas imagens se ofendem. E durante toda a vida você se ofenderá enquanto tiver essas imagens.
Menino (5): Você deveria esquecê-las, senhor?
K: Deixe-as, não as tenha. Alguém – muitas pessoas me lisonjearam e muitas me insultaram. Eu não tenho imagem, não posso ficar insultado, não importa. Vocês entendem?
Menino (5): Sim, senhor.
K: Seja assim! Aí é onde a corrupção começa.
Menino: Senhor, mas como você se livra de suas imagens?
K: Como você se livra das imagens... Se você vê que elas são perigosas, você se livrará delas imediatamente.
Menino: Senhor, se você se livra das imagens, o que resta de você?
K: Nada!
Menino: Então, o que você é?
K: Nada!
Menino: Mas...
K: Espere. Preste atenção ao que eu disse!... Seja nada e então você vive!... Você entenderá depois!
Menino: Senhor, aqueles deviam ter imagens de você, mas nós não deveríamos ter imagens.
K: Sim! Deixe os outros terem imagens, não as tenha você!
Menino: Senhor, às vezes nós não temos imagens...
K: Não “às vezes”. Você está falando seriamente, ou teoricamente?
Menino: Não, suponha que uma pessoa possa...
K: Por que você supõe?
Menino: Se uma pessoa não tem uma imagem, não é provável que ela se sinta insegura?
K: Seja inseguro! Saiba que você é inseguro! Então, descubra o que é segurança. Mas, se você está sempre procurando segurança, você não sabe se você é inseguro. Mas, primeiro descubra por si mesmo se você é inseguro, o que isso significa fisicamente, interiormente, e assim por diante.
Menino: Tendo uma imagem ou não você é inseguro!
K: Tendo uma imagem ou não você é inseguro... Estou lhe perguntando, você descobriu se você está inseguro, ou você está apenas conversando?
K: Senhor, eu me sinto inseguro sobre algumas coisas.
K: Espere. Descubra o que significa – o que significa estar inseguro. Ou você está inseguro fisicamente – certo – ou economicamente, ou inseguro sobre a opinião pública – ou inseguro em assuntos de dinheiro, ou inseguro em seus relacionamentos. Descubra!
Menino: E daí o que?
K: Quando você aprende onde há insegurança, então você está seguro. Entenda isso, meu menino!
Menino: Senhor, você tem uma imagem?
K: Ouça o que eu disse! Você entende? Quando você descobre por si mesmo o que é insegurança, onde você é inseguro com sua família, com seu pai, com sua mãe, com sua esposa ou marido, com deus? Você entende? Descubra! Aprenda sobre isso! No momento em que você sabe e aprendeu bastante sobre insegurança, então você está fora disso, então você está seguro.
Menino: Senhor, se você aprende bastante sobre insegurança, você não conhece a totalidade da insegurança.
K: Ah sim! Você conhecerá! Senhor, se você começar corretamente – você entende? – então, o que é certo está no começo... Isso é muito difícil!
Menino: Senhor, você está dizendo viva com a insegurança para descobrir o que ela é.
K: Você está inseguro, não viva com a insegurança. Você acabou de dizer, eu estou inseguro. Viva com isso, descubra. Use o seu cérebro para descobrir. Não se torne mecânico.
Menino (2): Senhor, para me livrar da insegurança, nós temos que nos livrar do medo primeiro, não?
K: Medo. Certo? Agora vou lhe mostrar , você tem que aprender, não de mim... O que é medo?
Menino (2): Medo é a coisa que pensamos a respeito.
Menino: Algo que não sabemos a respeito.
K: Espere, senhor. Você não ouve os outros primeiro, você está sempre pronto com suas próprias perguntas... Ele disse – você sabe o que ele disse?... Você não sabe porque você não ouviu, porque sua própria pergunta era mais importante; isso é egoísmo. Certo?... Ele disse, medo, como alguém se livra do medo? Você quis dizer isso, não quis? Certo? Então, primeiro ouça a pergunta. Ele disse , o que é medo, como alguém se livra dele? Agora, você sabe como está com medo?
Menino (2): Sim, senhor.
K: Por que?
Menino (2): Eu acho que é porque eu penso sobre algo que me faz sentir medo.
K: Agora, só um minuto, você disse algo tremendo! Eu não sei se você está ciente disso; você disse algo muito verdadeiro...
Menino (2): Então, se não pensamos em alguma coisa...
K: É isso! Você aprendeu a primeira coisa, que pensar traz medo! Certo?... Certo?
Menino (2): Si, senhor.
K: Então, você tem que descobrir o que é pensar e não como parar o medo. Você entende? Você acabou de dizer muito cuidadosamente que o pensar traz o medo, o que é verdade. Eu poderia morrer amanhã e estou amedrontado. Eu poderias perder o meu emprego, estou amedrontado. Certo? Então, o pensar traz medo. Então, o que é o pensar?... Agora, vá passo a passo para descobrir; o que é o pensar?
Menino: Senhor, é porque para se livrar do medo temos que nos livrar do pensar?
K: Não!... Eu nunca disse para se livrar de nada porque isto voltará!
Menino: Então, você vê que o medo é perigoso...
K: Sim! Não, primeiro ouça com cuidado!... Eu lhe disse, medo, ele disse: o medo existe, vem, quando você pensa sobre algo. Certo? Medo de que possa morrer, medo de que possa perder o meu emprego, medo de meu pai, medo de meus professores. Certo? Assim, enquanto você estiver pensando sobre o futuro – certo – há medo. Certo? Agora você tem que descobrir o que é o pensar.
Menino: Poderia ser egoísmo?
K: Sim, espere, espere... Eu estou lhe perguntando algo, primeiro ouça, meu menino. Eu não estou tentando interrompê-lo. O que é o pensar?... Com cuidado! Use o seu cérebro...
Menino (5): O que o cérebro faz?
K: Não, use o seu cérebro para descobrir o que é o pensar.
Menino (5): Imaginação, senhor.
K: Imaginação, continue...
Menino (5): Senhor, o que você viu, você registra e você pensa.
K: Bom, você está começando. Você está registrando, não está? Isso é... – Oh! Lorde!... Eu lhe mostrarei! Nosso cérebro, o que está dentro do crânio, está registrando. Você está registrando matemática. Você está registrando geografia, história, você está registrando. Uma fita está registrando. Isso é registrar, lá dentro. Você entende? Eu estou dizendo, eletricamente, ela é conectada àquela máquina, e que está registrando ou gravando na fita. Nosso cérebro age exatamente assim. Ele está registrando. Certo? Matemática, história, geografia, seu pai, ele registrou o seu pai. Certo? Agora, espere um minuto. O que você quer dizer com registrar? Pense bem, use o cérebro.
Menino (2): Se você se recorda de algo.
K: O que você quer dizer com registrar?
Menino (5): Absorver.
K: Não é necessário registrar?
Menino (5): Sim.
K: Por que?
Menino: Senhor, para ligar o passado ao futuro.
K: Não, não é necessário registrar? Espero que os meninos mais velhos estejam prestando atenção a isso tudo porque é a vida deles... Então, registrar é necessário quando você escreve uma carta, quando dirige um carro. Certo? Quando você tem que passar num exame – lamentavelmente – quando você registra que tem um pai em algum lugar, e uma mãe. Tudo isso é registrar, que é necessário. Agora, há outro registrar... Eu me ofendo – você entendeu?
Menino (5): Sim, senhor.
K: Há duas espécies de registro: o registro de dirigir um carro, escrever uma carta, tornar-se funcionário público, tornar-se um engenheiro. Ouça com atenção, meu menino, você está entendendo?... E há também um outro registrar, eu primeiro, eu sou egoísta, eu quero isso, eu quero sucesso. Certo? Então, esses dois estão registrando o tempo todo. O que está registrando é a memória, não é? Memória de seu pai, memória de sua matemática. Certo? Então, registrar significa memória, que é repetição. Você vê isso? Quando você aprende matemática você está registrando, você está repetindo, memorizando, como aquela fita. Então, você se torna mecânico. Como aquela fita é mecânica, ela repete, repete, repete – eu sou um Brahmin, eu sou um Brahmin, eu ou um Hindu, eu ou um Hindu, eu sou contra os comunistas, comunistas, comunistas. E assim por diante. Nossos cérebros, então, tornam-se condicionados, limitados, pequenos. Certo? Então, pensar é parte da memória. Você não pode ter memória se não encontrou seu pai, se não viu seu pai, sua mãe. Então, você viu o pai e sua mãe, e isso é armazenado no cérebro, como memória. Isso também é conhecimento, e conhecimento é baseado na experiência – naturalmente.
Menino (5): Eu estou memorizando.
K: Você é memória. Você entende? Você é memória, a totalidade de seu ser é memória; memória de que você é um atman, memória de que você tem uma alma, memória de que há uma luz dentro de você, memória de que existe deus. Isso tudo ainda é memória. Ouça cuidadosamente, descubra se é verdade o que o orador está dizendo, ou se é mentira. Você entende, descubra. Você é memória, sem memória você não é nada. Memória de seu nome, memória de sua família, memória de matemática, memória de subir aquela colina, memória de seu amigo. Certo? Então, você é memória. Memória é algo morto, que se foi.
Menino (5): Então, como estamos vivos?
K: Por causa dos órgãos, você tem alimento, você tem ar, água,
Menino (5): Então, como nós podemos...
K: Descubra, senhor, esse é o grande ponto. Você entende? Descubra o que é verdade. Memória não é verdade.
Menino (5): Senhor, o que você quer dizer com verdade?
K: Você não pode descrevê-la. O que é a flor? O que é essa flor? Olhe-a. Você nunca pergunta quando está olhando aquela flor, o que ela é, como ela veio, a beleza dela. Por favor, aprenda algo. Beleza é verdade. Você entende? Beleza é verdade. A beleza de uma boa vida – boa vida, não vida com sucesso. Agora, senhores, são dez para as onze, vocês podem sentar-se em silêncio por um minuto? Sentem-se em silêncio...
K: Tudo bem, senhores, obrigado.

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