sábado, 13 de novembro de 2010

É natural o amor pelos Mestres?

Interrogante: Não é natural amar os Mestres, sabendo instintivamente, sem analisar, que sua resposta vivifica nosso amor, por que somos um? Isto não é um esforço para expandir, pois o amor é a própria vida?

Krishnamurti: Há dois tipos de gurus, mestres ou instrutores: aqueles com quem o aluno está diretamente em contato neste plano da existência e aqueles com quem o aluno supõe estar em contato indiretamente. O instrutor com o qual o aluno está em contato diretamente, fisicamente, observa o aluno enquanto o ajuda e guia. Isto é bastante exaustivo e difícil para o aluno. Ora, os “Mestres” não estão em contato direto, físico, com o aluno, exceto, aparentemente, com aqueles que proclamam ser seus intermediários. Nestas relações mutuas, que tem suas próprias recompensas e ansiedades, a mente pode enganar-se ilimitadamente.

Ora, o interrogante quer saber se o nosso amor por um Mestre não vivifica o nosso amor? Por que você procura um Mestre para amar, quando você não sabe como amar seres humanos? Por que você reclama unidade com os Mestres, e não com os seres humanos? Amar um ideal, um Mestre, um Deus, um Estado, é mais fácil, não é verdade? Pois eles podem ser criados como nós imaginamos, de acordo com as nossas esperanças, temores e ilusões. É mais conveniente, se bem que talvez exigente, de outro modo, ter um ideal, uma longínqua imagem para amar, pois entre ela e nós não pode haver nenhuma reação pessoal desagradável, que causa tanto sofrimento nas relações mutuas humanas. Tal amor não é amor, mas uma criação intelectual chamada amor. Não estando diretamente em contato com um Mestre precisamos depender de um intermediário, ou de nossa chamada intuição. A dependência de um intermediário destrói a compreensão e o amor e, além disso, condiciona a mente; e a chamada intuição tem seus graves perigos, pois ela pode ser somente um desejo auto-enganador.

Mas, por que desejais depender de um mediador ou de uma intuição? Para aprender a não ser ganancioso, para não ter má vontade, para ser compassivo? Por que precisamos olhar para um ideal distante quando a compreensão e o amor podem ser despertados somente através das relações humanas? Quando amamos a outrem, nossa paixão, nosso amor possessivo e os ciúmes despertados; encontramos tristeza e conflito nestas relações mutuas, e porque não podemos resolver este mal aqui, tentamos fugir dele.

Porque não sabemos como amar seres humanos, amamos Mestres, ideais, Deuses. Todavia, vocês poderiam dizer que amar um Mestre é também amar a humanidade, amar o mais alto é também amar o inferior. Mas isto em geral também não acontece. Isto não é esquisito, complicado e artificial? Se não podemos amar outrem sem possessividade, sem constante conflito e dor, com o que estamos familiarizados, se não compreendemos isto, como podemos esperar compreender e amar alguma coisa mais, especialmente quando nesse algo há uma grande possibilidade de auto-decepção? Onde deve começar o amor, com Deuses, Mestres e ideais, ou com seres humanos? Como pode haver amor quando nos orgulhamos dos nossos preconceitos individuais, antagonismos raciais, ódios nacionais, e conflitos econômicos? Como podemos amar outrem quando estamos interessados principalmente na nossa própria segurança, no nosso próprio crescimento, com o nosso próprio bem-estar? Este chamado amor a ideais, Mestres, Deuses, é romântico e falso; penso que vocês não vêem a brutalidade disso. A adoração de Mestres, ideais, é idolatria e destrói a compreensão e o amor.

Amar e compreender não são produtos do intelecto. O amor não é para ser dividido artificialmente em amor a Deus e amor ao homem. O amor assim dividido, não é mais amor. Ame completamente, inteiramente, sem pensar no eu, e, por esse meio, liberte-se verdadeiramente do temor que necessita de várias formas de fuga e de esquecimento.

Krishnamurti - Do livro: Palestras por Krishnamurti em Ojai e Saróbia - 1940 - ICK

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