quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Meditação

Desejo falar a respeito de um assunto que se me afigura de suma importância; compreendendo-o, ficaremos, talvez, habilitados a alcançar, por nós mesmos, um percebimento total da vida e, portanto, a agir de maneira completa, livres e felizes. Andamos sempre a buscar uma certa coisa misteriosa, porque nos vemos insatisfeitos com a vida que estamos levando, com a superficialidade de nossas atividades, tão pouco expressivas, às quais, entretanto, queremos dar significação e sentido; mas esta é uma atividade do intelecto e, por conseguinte, será sempre superficial, ilusória, e, por fim, sem nenhum significado. Todavia, sabendo de tudo isso - sabendo que nossos prazeres são efêmeros e nossas atividades diárias mera rotina; sabendo também que nossos problemas - tantos deles - talvez nunca possam ser resolvidos; e já descrentes de tudo, sem fé nos valores tradicionais, nos instrutores, nos gurus, nas sanções da Igreja e da sociedade - continuamos, a maioria de nós, a tatear, a buscar alguma coisa de real valia, incontaminada pelo pensamento, um certo estado extraordinário, de real beleza e êxtase. A maioria de nós, parece-me, deseja descobrir algo que seja duradouro, que não possa corromper-se facilmente. Esquecendo a realidade objetiva, entregamo-nos - sem emoção ou sentimentalismo - a esse profundo ansiar, essa profunda inquirição, que porventura nos dará acesso a uma realidade não mensurável pelo pensamento e que não cabe em nenhuma categoria de fé ou de crença. Mas, tem o buscar alguma significação?

Vamos examinar a questão da meditação. Sendo um assunto bastante complexo, antes de começarmos a examiná-lo temos de compreender claramente esta nossa busca, este desejo de experiência, de descobrir uma realidade. Devemos compreender a significação do buscar, esse desejo de verdade, esse tatear intelectual por uma coisa nova, independente do tempo, não criada por nossas exigências e necessidades, nossas compulsões e desespero. Pode achar-se a verdade mediante busca? Ela é reconhecível quando a achamos? Se a achamos, podemos dizer: "Eis a verdade","Eis o real"? Tem a busca algum significado? A maioria dos indivíduos religiosos fala sem cessar sobre a busca da Verdade; e nós perguntamos se se pode buscar a Verdade. Na idéia de buscar, de achar, não está também contida a idéia de reconhecimento, a idéia de que, achando uma coisa, devo ser capaz de reconhecê-la? E o reconhecimento não supõe conhecimento prévio? A Verdade é reconhecível - no sentido de ter sido antes experimentada, de modo que possamos dizer: "Ei-la"? Assim, que valor tem o buscar? Ou, se o buscar não tem valor algum, o que vale é apenas a observação constante, o constante escutar?. Na observação constante não há movimento do passado. "Observar" significa "ver claramente". Para vermos com clareza, necessitamos de liberdade - precisamos estar livres do ressentimento, da inimizade, do preconceito, da animosidade, livres de todas as memórias que armazenamos como saber e que impedem o ver. Quando existe essa capacidade, essa liberdade com observação constante, não só das coisas exteriores, mas também das coisas interiores, de tudo o que se está passando, que necessidade há, então, de buscar - se o fato - o que é - está à vossa frente para ser observado? Mas, no mesmo instante em que queremos alterar "o que é", começa a deformação. No observar livremente, sem deformação, sem avaliação, sem nenhum desejo de prazer, no simples observar, verifica-se uma extraordinária transformação do que é.

Em geral, queremos preencher nossa vida com conhecimentos, entretenimentos, com crenças e aspirações espirituais, coisas que, quando as observamos, têm muito pouco valor; desejamos ter uma experiência transcendental, acima de todas as coisas mundanas; desejamos experimentar algo imenso, sem limites, atemporal. Para "experimentarmos" o imensurável, temos de compreender o significado da experiência. Porque desejamos "experiência"?

Por favor, não aceiteis nem rejeiteis o que o orador está dizendo; examinai-o! O orador - mais uma vez, sejamos precisos a este respeito - o orador não tem nenhum valor (ao vos servirdes de um telefone, não obedeceis ao que ele diz, O telefone não é nenhuma autoridade, mas vós o escutais.) Se escutais com atenção, nessa atenção há afeição; não há concordância, nem discordância, porém uma mente disposta a dizer: "Ouçamos o que ele está dizendo, e vejamos se tem algum valor; tratemos de discernir o que é verdadeiro e o que é falso". Não aceiteis nem rejeiteis, mas observai e escutai, não só o que se esta dizendo, mas também vossas próprias reações e as deformações que produzis enquanto estais escutando; vede vossos preconceitos, vossas imagens, vossas experiências, vede a sua função de impedir-vos de escutar.

Perguntamos: Qual o significado da experiência? Tem ela alguma significação? Pode a experiência despertar a mente que está dormindo, a mente que chegou a certas conclusões e se acha dominada e condicionada por crenças? Pode a experiência despertá-la, destruir toda essa estrutura? Essa mente tão condicionada, tão oprimida por problemas sem conta, pelo desespero e a aflição - essa mente é capaz de reagir a algum desafio? É? E, se reage, sua reação não é necessariamente inadequada e, portanto, conducente a mais conflito? Essa perene busca de experiências mais amplas, mais profundas, transcendentais, é apenas uma maneira de fugirmos à realidade, ao que é - que somos nós mesmos e nossa mente condicionada. Que necessidade tem de qualquer experiência a mente verdadeiramente desperta, inteligente e livre? Luz é luz, e não pede mais luz. O desejo de mais experiência e fuga ao fato real, ao que é.

Se estamos livres dessa incessante busca, livres da exigência e do desejo de experimentar coisas extraordinárias, podemos passar a investigar o que é meditação. Esta palavra, tal como as palavras "amor", "morte", "beleza", "felicidade", está sobremaneira "carregada". Há muitas escolas que ensinam a meditar. Mas, para compreendermos o que é meditação, temos de lançar as bases da conduta virtuosa. Sem essa base, a meditação é, em verdade, uma forma de auto-hipnose. Se não estamos livres da cólera, do ciúme, da inveja, da avidez, da ganância, do ódio, da competição, do desejo de sucesso - de todas as formas "morais" e "respeitáveis" disso que se considera "conduta virtuosa" - se não lançamos a base correta, se não vivemos uma vida diária isenta da deformação causada pelo nosso medo, ansiedade, avidez, etc., a meditação pouco importa. O lançamento daquela base é sumamente importante. Assim, perguntamos: Que é virtude? Que é moralidade? Não digais, por favor, que esta e uma pergunta "burguesa", sem significação numa sociedade permissiva. Não nos interessa essa espécie de sociedade; o que nos interessa é uma vida totalmente livre do medo, uma vida capaz de amor profundo e inalterável. Sem ela, a meditação se torna uma digressão, assemelha-se a uma droga que se toma - como tantos o fazem - para ter uma experiência maravilhosa... e continuar a viver uma vida vulgar e insignificante. Os que tomam drogas para terem experiências extraordinárias vêem talvez um pouco mais intensamente as cores, tornam-se talvez um pouco mais sensíveis e, com a sensibilidade adquirida nesse estado quimicamente provocado, talvez possam ver sem nenhum espaço entre o "observador" e a "coisa observada"; mas, passado o efeito químico, ei-los de volta ao mesmo lugar onde estavam, de volta ao seu medo, seu tédio, sua velha rotina - e, portanto, obrigados a tomar de novo a droga.

A menos que se lance a base da virtude, a meditação se torna um artifício para controlar a mente, torná-la quieta, forçá-la a ajustar-se ao padrão de um sistema que diz: "Faze estas coisas, e terás uma valiosa recompensa". Mas, essa mente - não importa o que façamos por meio de todos os métodos e sistemas existentes - permanecerá insignificante, vulgar, condicionada e, por conseguinte, sem valor. Cumpre-nos investigar o que é virtude, o que é conduta. Conduta é resultado do condicionamento ambiente, da sociedade, da cultura em que a pessoa foi criada? Se vos comportais de acordo com esse condicionamento, isso é virtude? Ou consiste a virtude em estar-se livre da moralidade social, de avidez, de inveja, etc. - coisas consideradas altamente respeitáveis? Pode-se cultivar a virtude? E, se ela pode ser cultivada, não se torna uma coisa mecânica e, por conseguinte, sem nenhuma "virtude"? A virtude é uma coisa viva, fluente, que se renova constantemente e de maneira nenhuma pode ser "ajuntada" no tempo. Isso é como dizer que se pode cultivar a humildade. Pode-se cultivar a humildade? Só o homem vaidoso "cultiva" a humildade; mas esse homem, não importa o que cultive, permanecerá vaidoso. Mas, quando se vê claramente a natureza da vaidade e do orgulho, esse próprio ver liberta da vaidade e do orgulho; e, então, existe a humildade. Se está bem claro isto, podemos passar a investigar o que é meditação. Se não sois capaz de meditar verdadeiramente, com profundeza e seriedade - não por um ou dois dias apenas, e depois desistirdes - nesse caso, peço-vos o favor de não falar em meditação. A meditação, quando a compreendemos deveras, é uma das coisas mais maravilhosas deste mundo; mas não tendes possibilidade de compreendê-la se não tiverdes terminado o vosso buscar, tatear, desejar, vossa sofreguidão de agarrar uma certa coisa que pensais ser a Verdade, mas que é apenas vossa própria projeção. Só podeis alcançar o estado de meditação quando já não estais a exigir nenhuma espécie de experiência, quando compreendeis a confusão em que estais vivendo, a desordem existente em vossa vida. Com a observação dessa desordem, vem a ordem - uma ordem não antecipadamente planejada. Se se fez essa observação - a qual, em si, é meditação - pode-se então perguntar, não só o que é meditação, mas também o que não é meditação, porque na negação do que é falso encontra-se a verdade.

Evidentemente, é falso qualquer sistema ou método que ensina a meditar. Isso é fácil de perceber, intelectual e logicamente, porque, quando nos exercitamos de acordo com um método - por mais nobre que este seja, por mais antigo, ou moderno, ou popular - estamo-nos convertendo em máquinas, executando repetidamente o mesmo ato com o fim de alcançar alguma coisa. Na meditação, o fim não difere dos meios. Mas, o método vos promete alguma coisa; é um meio que leva a um fim. Se o meio é mecânico, o fim será um produto da máquina; é a mente mecânica que diz: "Obterei tal coisa". Temos de estar completamente livres de todos os métodos e sistemas; isso já é o começo da meditação; já estamos a negar uma coisa que é totalmente falsa e sem significação. E há, ainda, os que praticam o percebimento. Pode-se "praticar" percebimento? Se o fazeis, então, em todo o tempo que estais "praticando percebimento", vos estais tornando desatento. Portanto, FICAI CÔNSCIO DA DESATENÇÃO; não vos exerciteis para vos tomardes atento; se estais cônscio da desatenção, desse percebimento vem a atenção, e não é necessário "praticá-la". Compreendei isso, que é tão claro e tão simples. Não tendes necessidade de ir a Burma, à China, à Índia - lugares muito românticos, mas onde se vive fora da realidade. Lembro-me de uma ocasião em que eu viajava de automóvel, na Índia, com um grupo de pessoas. Eu ia sentado à frente, ao lado do motorista e, atrás, três pessoas discorriam a respeito do percebimento - pois pretendiam conversar comigo sobre esta matéria. O carro ia a toda velocidade. Na estrada achava-se uma cabra, e o motorista, por inadvertência, esmagou o pobre animal. Os cavalheiros que vinham atrás, falando sobre o percebimento, nada perceberam! Estais rindo; mas é isso mesmo o que todos nós estamos fazendo: muito interessados, intelectualmente, na idéia do percebimento, na investigação verbal, dialética, de opiniões, entretanto cegos ao que se está passando na realidade.

Não há nada para "praticar"; só há a coisa viva. E apresenta-se, aí, a pergunta: Como controlar o pensamento? O pensamento está sempre a divagar; quereis pensar numa coisa, mas ele foge para outra. Mandam-nos "praticar", controlar; pensar numa imagem, numa sentença, em qualquer coisa - concentrar-nos; o pensamento "dispara" noutra direção, fazemo-lo voltar... e essa batalha, esse vaivém, prossegue indefinidamente. Assim, pergunta-se: Que necessidade há de controle do pensamento, e quem é a entidade que irá controlar o pensamento? Segui-me atentamente. A menos que seja compreendida esta pergunta real, não se poderá compreender o significado da meditação. Quando digo: "Tenho de controlar o pensamento", quem é o "controlador", o censor? O censor é diferente da coisa a que deseja controlar, moldar, alterar? Não são ambos (o censor e a coisa) a mesma entidade? Que sucede quando o pensador percebe que ele é o pensamento (ele o é, de fato); que o experimentador é a experiência - que sucede, então? Que cumpre fazer? Entendeis? O pensador é o pensamento, mas o pensamento se põe a divagar; então, o pensador, considerando-se separado, diz: "Tenho de controlá-lo". O pensador é diferente da coisa chamada "pensamento"? Se não há pensamento, há pensador?

Que sucede quando o pensador percebe que ele é o pensamento? Que acontece, realmente, quando o "pensador" é o pensamento, assim como o "observador" é a coisa observada? Que acontece? Não existe mais separação, divisão e, por conseguinte, não há conflito; conseqüentemente, já não há necessidade de controlar ou moldar o pensamento. Que sucede então? Existe divagação do pensamento? Antes, controlava-se o pensamento, concentrava-se o pensamento, e havia conflito entre o "pensador", que queria controlar o pensamento", e o pensamento que queria divagar. Isso é uma coisa que acontece com todos nós, a todas as horas. Depois, repentinamente, percebe-se que o "pensador" é o pensamento - percebimento real, e não uma declaração verbal. E, então, que ocorre? Existe isso que se chama "divagação do pensamento"? Só quando o observador difere do pensamento, só então ele o "censura" - diz: "Este pensamento é correto, este pensamento é incorreto", ou "o pensamento está divagando e tenho de controlá-lo". Mas, quando o pensador percebe que ele é o pensamento, existe alguma divagação? Penetrai nisso, senhor, não aceiteis o que estais ouvindo, mas vede o fato por vós mesmo. Só quando há resistência, há conflito. A resistência é criada pelo pensador, que se considera separado do pensamento; mas, quando o pensador descobre ser ele o próprio pensamento, termina a resistência - o que não significa deixar o pensamento à solta; pelo contrário.

O conceito de controle e de concentração passa por uma total transformação: torna-se atenção - coisa muito diferente. Se compreende a natureza da atenção, se compreende que a atenção pode focalizar-se, percebe-se ser ela inteiramente diferente da concentração, que é exclusão. Perguntareis, então: "Posso fazer alguma coisa sem concentração? Não necessito de concentração para fazer alguma coisa?" Mas, não podeis fazer uma coisa com atenção? - esta não é concentração. "Atenção" significa aplicação total - quer dizer, escutar, ouvir, ver com a totalidade de nosso ser - com nosso corpo, nossos nervos, nossos olhos, nossos ouvidos, nossa mente, nosso coração, tudo. Nessa atenção total - na qual não existe divisão - pode-se fazer qualquer coisa; e nessa atenção não há resistência de espécie alguma. E, agora, cabe-nos considerar se a mente, que inclui o cérebro - este cérebro que anda tão condicionado, que é o resultado de milhares de anos de evolução, que é o depósito da memória - pode tornar-se quieta. Porque só quando a mente total se acha em silêncio, quieta, pode haver percepção, pode-se ver claramente, livre de confusão. Como pode a mente ficar quieta, em silêncio? Não sei se já verificastes por vós mesmo que, para olhardes uma bela árvore, ou uma nuvem cheia de luz e de glória, deveis olhar em completo silêncio, pois, de contrário, não se está olhando a árvore diretamente, porém através de uma certa imagem de prazer ou da lembrança de ontem; não se está olhando realmente a árvore: está-se olhando a imagem, em vez do fato.

Assim, perguntamos: Pode a totalidade da mente - que inclui o cérebro - ficar quieta? Muitas pessoas têm feito essa pergunta - pessoas verdadeiramente sérias - mas não conseguiram achar-lhe a resposta. Recorreram a artifícios, pois lhes disseram que a mente pode quietar-se mediante a repetição de palavras. Já experimentastes isto: recitar "ave-marias' ou aquelas palavras sânscritas que certas pessoas trazem da Índia - mantras; repetir certas palavras para quietar a mente? Não importa qual seja a palavra, mas deve ser recitada com ritmo: coca-cola, qualquer palavra - repeti-a muitas vezes, e vereis como a mente se torna quieta. Mas essa mente aquietada está embotada; não é uma mente sensível, vigilante, ativa, viva, apaixonada, "intensa". A mente embotada, embora diga: "Tive experiências extraordinárias, transcendentais", está enganando a si própria.

A solução, portanto, não se encontra na repetição de palavras, nem no forçar a mente; muitos artifícios já têm sido impostos à mente a fim de aquietá-la. Entretanto, sabemos em nosso íntimo que, se a mente está quieta, não há mais nada que fazer, porque existe então a verdadeira percepção.

Como pode a mente - inclusive o cérebro - ficar completamente quieta? Recomendam alguns respirar adequadamente, tomando profundas inspirações, para oxigenar mais o sangue. A mente vulgar, limitada, pode - à força de respirarmos muito profundamente, dia após dia - tornar-se quieta; mas continua a ser o que é: vulgar e limitada. E, que tal a ioga? Aqui também há muitas coisas que considerar. Ioga significa "destreza na ação", e não meramente a prática de certos exercícios, necessários para manter o corpo saudável, forte, sensível A "destreza na ação" exige grande sensibilidade do corpo, leveza do corpo, alimentação correta e não o que o paladar exige ou o que estais acostumado a comer.

Que cumpre então fazer? Quem faz esta pergunta? Vê-se muito claramente que nossa vida está em desordem, tanto interior como exteriormente; e a ordem, entretanto, é necessária, e deve ser tão perfeita como a ordem matemática; mas a ordem só pode ser estabelecida pela observação da desordem, e não pelo ajustar-nos a um plano de ordem, conforme um outro a concebe ou nós mesmos a concebemos. Do ver, do estar cônscio da desordem, resulta a ordem. Vê-se também que a mente deve tornar-se sobremodo quieta, sensível, vigilante, livre de todo e qualquer hábito, físico ou psicológico. Como conseguir isso? Quem faz esta pergunta? É a mente "tagarela" que a faz, a mente que possui tantos conhecimentos? Aprendeu ela uma coisa nova, ou seja que "só posso ver muito claramente quando estou quieto e, por conseguinte, tenho de ficar quieto"? Digo, então: "Como posso tornar-me quieto?" - Ora, essa pergunta é essencialmente errônea; no momento em que se pergunta "como", está-se em busca de um sistema e, portanto, destruindo a própria coisa que se quer investigar, ou seja: Como pode a mente tornar-se completamente quieta - não mecanicamente, não forçada, obrigada a tornar-se quieta? A mente que está quieta, sem ter sido forçada a quietar-se, é sobremodo ativa, sensível, desperta. Mas, quando se pergunta "como", cria-se a separação entre o observador e a coisa observada.

Ao compreendermos que não há método, nem sistema, nem mantra, nem instrutor, nem nada; neste mundo, que possa ajudar-nos a quietar-nos; quando percebemos a verdade de que só a mente quieta vê - a mente fica tranqüila.

Ora bem, a natureza do silêncio tem grande importância. A mente limitada pode aquietar-se em seu reduzido espaço; esse reduzido espaço, com sua limitada quietação, é a coisa mais morta que pode existir; vós o sabeis. Mas, a mente que tem um espaço sem limites, mais aquela quietude, aquele silêncio, e nenhum centro - como "eu", como "observador" - essa mente é muito diferente. Naquele silêncio não existe nenhum observador. Essa qualidade de silêncio dispõe de um vasto espaço; é um silêncio sem limites e intensamente ativo. A atividade desse silêncio é toda diferente da atividade egocêntrica. Se a mente chegou tão longe, então, talvez, aquilo que o homem vem buscando há tantos séculos - Deus, a Verdade, o Imensurável, "o que não tem nome", o Eterno - se apresentará, sem ter sido chamado. Bem-aventurado esse homem: para ele existe a Verdade e o êxtase.

Krishnamurti - O Vôo da Águia (p. 36-45)

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