quarta-feira, 10 de julho de 2013

Qual a origem do desejo?

Pergunta: Qual a origem do desejo e como posso me livrar dele?

Krishnamurti: Um jovem está fazendo esta pergunta. Por que ele deveria libertar-se do desejo? Compreende? Disseram a ele que ser livre de desejos é uma das maiores virtudes e que, livre do desejo, ele poderá "realizar" Deus — ou como quer que se chame essa realidade fundamental; por isso, pergunta: "Qual a origem do desejo e como posso livrar-me dele?" Mas, a própria ânsia de ficar livre do desejo ainda faz parte do desejo, não é verdade? É, com efeito, inspirada pelo medo.

Qual a origem, a fonte, o começo do desejo? Você vê uma coisa atraente e a deseja. Você vê um carro ou um barco, e desejam possuí-lo; ou desejam alcançar a posição de homem rico ou tornarem sanyasi. É esta a origem do desejo: ver, tocar, do que provém uma sensação, e dessa sensação o desejo. Ora, reconhecendo que o desejo causa conflito, pergunta: "Como posso livrar-me do desejo?" Assim, que deseja verdadeiramente não é estar livre do desejo, porém estar livre da inquietação, da ansiedade, do sofrimento causado pelo desejo. Deseja estar livre dos amargos frutos do desejo e não do próprio desejo. É muito importante compreender isto. Se pudesse despojar o desejo do penar, do sofrer, do lutar, de todas as ânsias e temores que o acompanha, de modo que só restasse o prazer, queria então ficar longe do desejo?

Enquanto houver desejo de ganho, de realização, de "vir a ser", em qualquer nível que seja, tem de haver, inevitavelmente, ansiedade, sofrimento, medo. A ambição de ser rico, de ser isto ou aquilo, só desaparecerá quando perceber o caráter doentio, a natureza corruptora da própria ambição. No momento em que percebemos que o desejo de poder, em qualquer forma — o poder de um ministro, de um juiz, de um sacerdote, de um guru — é essencialmente mau, já não temos o desejo de ser poderosos. Mas nós não vemos que a ambição corrompe, que o desejo de poder é mau; pelo contrário, dizemos que serviremos do poder "para fazer o bem" — o que é puro contrassenso. Um meio errado não pode ser usado par um fim correto. Se o meio é mau, o fim será mau. O bem não é oposto do mal; só pode tornar-se existente quando o mal deixou completamente de existir.

Assim, se não compreender o pleno significado do desejo, seus resultados e consequências indiretas, nenhuma significação tem o simples tentar livrar-se do desejo.


Krishnamurti – A Cultura e o Problema Humano

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