sexta-feira, 5 de julho de 2013

Nem só de bolsa família vive o homem

Pergunta: Há fome neste país; se morre de inanição e enquanto isso você fala aqui a respeito de coisas que não enchem estômagos vazios. Você não está contribuindo para que percamos todo o senso de responsabilidade perante nossos irmãos que têm fome?

Krishnamurti: Se eu oferecesse a vocês uma possibilidade de fuga por um meio qualquer, dialético ou religioso, ou por meio de sofismas, tal seria uma ação irresponsável da minha parte, não seria? Mas, se juntos, pudermos descobrir a maneira de resolver este problema, não só neste país, mas no mundo inteiro, então talvez não fiquemos sentados, falando em vão. Agora mesmo, pode-se encher esses estômagos vazios, com um sistema econômico, com uma revolução operada no nível econômico ou político? Se tivéssemos uma revolução de nova espécie — não importa com que nome — capaz de alterar toda a camada burocrática superior, ela resolveria o nosso problema? Pensamos que sim. Pensamos que se houver uma revolução de valores, de sistemas econômicos, será possível alimentar todo o mundo. Será? A verdadeira revolução é de ordem econômica, ou ela é um processo total, e não um simples processo parcial? Afinal, já tivemos revoluções baseadas em sistemas econômicos e elas não deram o que comer a ninguém. Sempre nos prometeram; mas suas promessas sugerem sempre campos de concentração, tirania, totalitarismo, guerras, devastações, e desgraças maiores; estamos bem familiarizados com essa coisa; todas as manhãs os jornais nos contam tudo isso.

Nosso problema é o problema da parte — que significa “revolução econômica” — ou é o problema do todo, que significa “revolução no nosso pensar”? Quando falamos a respeito da fome, o que nos interessa é a questão de fornecer alimentos aos que padecem com a fome —questão essa que representa apenas uma parte, embora essencial, que representa apenas um segmento de nossa existência. Quanto mais nos concentrarmos numa parte, num ângulo da vida, tanto menos possibilidades teremos de resolver o problema. Só o resolveremos, quando compreendermos o quadro na sua totalidade; teremos então plena compreensão do problema; e podemos então aplicar a nossa compreensão à parte. Mas, da parte, não é possível se passar para o todo. Todas as nossas revoluções se baseiam na modificação da parte, e não do todo.

Eu falo do processo total do nosso ser, e não da parte. A verdadeira revolução está e deve sempre estar no ser total, no pensar total e não no pensar parcial. Não só de pão vive o homem. Nos é necessário o pão, o vestuário, o teto; entretanto, se só encarecemos essas coisas, se tão-somente nos interessam alterações ou revoluções no terreno econômico, então acabaremos inevitavelmente em maior confusão e miséria. Mas se pudermos compreender o processo total do nosso ser e promover uma revolução na psique — na natureza íntima do nosso ser — poderemos, então, aplicar essa revolução, essa compreensão à parte. Sem dúvida, este é o nosso problema. Por favor, não me interprete erradamente. Não devemos nos descuidar da questão da alimentação, da roupa e da moradia; pelo contrário, nos cumpre providenciar a respeito dessas coisas. Porém, precisa-se, da solução correta, e esta não pode ser encontrada no nível superficial, mas só quando há uma revolução fundamental no nosso ser, no nosso pensar, no estado psicológico de nossa existência. Temos experimentado revoluções econômicas; elas, porém, jamais deram sustento ao homem; pelo contrário, o que se vê é mais miséria, mais destruição, e mais guerras. Só será possível acabar com a miséria, com a fome, quando compreendermos o todo e com essa compreensão promoveremos uma revolução fundamental, profunda.

Krishnamurti — 8 de fevereiro de 1953

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