Achamo-nos numa crise tremenda, quer reconheçamos, quer não. E no meio desta crise, não podemos continuar a seguir um livro antiquado ou um guia qualquer; temos de encontrar a Verdade no nosso próprio coração, e só a encontraremos se a nossa mente estiver “descondicionada”. Enquanto houver o condicionamento que nos faz buscar, seguir, ou criar ideologias e adorar ídolos; enquanto houver condicionamento da nossa mente, fazendo-nos proceder como hinduístas, comunistas, socialistas, capitalistas, ou o que quer que seja, não encontraremos a Verdade contida em problema algum. Só quando você e eu descobrimos a Verdade, que não é pessoal, individual, haverá a possibilidade de promover-se uma revolução que não seja uma revolução de ideias, mas a revolução da Verdade. Dela necessitamos nos tempos atuais.
Igualmente importa descobrir qual é a sua relação para com a Realidade Criadora, ou como você quiser chama-la — pois os nomes não têm importância. Essa Realidade Criadora nunca será encontrada, enquanto a nossa mente estiver cristalizada, atulhada de ideias e palavras sem nenhuma significação. Você não a encontrará, não a descobrirá, se a sua mente não é capaz de se libertar do pensamento tradicional.
A Verdade não é uma estrutura mental. A mente não pode perceber a Verdade. A Verdade não é produto da mente; pelo contrário, enquanto a mente estiver em atividade, tentando imaginá-la, descobri-la, desenterra-la, jamais a encontrará. Apenas a encontrará, quando houver a compreensão que liberta a mente e lhe dá a única possibilidade de profundo silêncio. É necessária uma mente silenciosa, uma mente tranquila, de uma tranquilidade não produzida por disciplina, coerção ou persuasão. Uma mente disciplinada não é uma mente livre; uma mente estreita, condicionada, é incapaz de compreender o que é a Verdade. A mente, porém, que compreende, que penetra, capaz de “experimentar” diretamente, na ação, nas relações, no viver de cada dia — essa mente é também capaz de descobrir a Verdade; e essa Verdade é que nos liberta dos nossos problemas.
Krishnamurti – 24 de janeiro de 1953