quinta-feira, 18 de julho de 2013

A falsa ideia do devido respeito à posição

A chuva que cai em solo ressecado é uma coisa maravilhosa. Lava as folhas, refresca e renova a terra. E eu acho que todos deveríamos “lavar”, purificar nossa mente, da mesma maneira como as árvores são lavadas pela chuva, tão pesada que está da poeira de muitos séculos, dessa poeira que chamamos “conhecimento”, “experiência”. Se você e eu fizéssemos todos os dias uma “limpeza” em nossa mente, livrando-a das reminiscências de ontem, cada um de nós possuiria uma mente nova, uma mente capaz de enfrentar os numerosos problemas da existência.

Ora, um dos grandes problemas que estão perturbando o mundo é o da chamada “igualdade”. Mas, em certo sentido, essa coisa chamada “igualdade” é inexistente, porque todos temos diferentes capacidades; mas estamos tratando aqui da igualdade no sentido de que todos deveriam ser tratados de igual maneira. Numa escola, por exemplo, os cargos de diretor, professor, monitor, são apenas empregos, funções; mas, como você sabe, a certos cargos ou funções está associada a ideia de posição, e  posição é uma coisa respeitada, porque supõe autoridade, prestígio, confere a um homem o poder de dar ordens a outros, de distribuir empregos entre os amigos e membros da própria família. Vemos, pois, que à função está associada a posição. Mas, se pudéssemos eliminar totalmente essa ideia de categoria, influência, posição, prestígio, poder de conferir favores a outros, a função teria então um significado muito diferente e muito simples, não acha? Então, quer se tratasse de governadores, primeiro-ministros, quer de simples cozinheiros ou pobres professores, todos seriam tratados com igual respeito, porquanto cada um está desempenhando uma diferente porém necessária função na sociedade.

Sabe o que aconteceria, principalmente numa escola, se fosse possível afastar definitivamente da função toda noção de poder, de posição, de prestígio, eliminar o sentimento de se ser “O Chefe”, o “homem importante”? Estaríamos todos vivendo numa atmosfera completamente diferente, não? Nenhuma autoridade haveria — “autoridade”, no sentido de “superior e inferior”, o homem importante e o homem sem importância — e, por conseguinte, haveria liberdade. E muito importa criar-se numa escola uma atmosfera assim, uma atmosfera de liberdade, de amor, onde cada um tenha um forte sentimento de confiança; porque, como sabe, a confiança nasce quando uma criança se sente como “em casa”, em segurança. Mas — você se sente à vontade em sua própria casa, quando seu pai, sua mãe, sua avó, está constantemente lhe dizendo o que você deve fazer, tirando-lhe gradualmente a confiança em sua própria capacidade de fazer qualquer coisa por iniciativa própria? Quando você crescer, deve ser capaz de investigar, de descobrir o que considera verdadeiro, e de se ater com firmeza ao que descobre. Deve ser capaz de sustentar o que considera justo, ainda que daí lhe advenha penas, sofrimentos, prejuízos de dinheiro, etc., e para ser assim você deve se sentir, enquanto é jovem, em perfeita segurança e livre de constrangimento.

A maioria dos jovens não se sentem em segurança, porque vivem amedrontados. Têm medo dos mais velhos, dos educadores, da mãe, do pai, e, por conseguinte, nunca se sentem perfeitamente tranquilos. Mas, quando você se sente verdadeiramente tranquilo, à vontade, acontece uma coisa extraordinária. Quando você pode se retirar para seu quarto, fechar a porta e ficar , sem ninguém a lhe observar, sem ninguém a lhe dizer o que você deve fazer, então você se sente em perfeita segurança; começa, assim, a desabrochar, a compreender, a se abrir. É função da escola ajudar-lhe a se abrir; se ela não o faz, não é digna desse nome.

Quando você se sente à vontade num lugar, isto é, quando se sente em segurança, não intimidado, não compelido a fazer isto ou aquilo; quando se sente muito feliz, perfeitamente tranquilo, não é então mau, é? Quando é verdadeiramente feliz, não tem vontade de magoar ninguém, de destruir coisa alguma. Mas é dificílimo fazer o estudante sentir-se perfeitamente feliz, porque ele já vai para a escola com a ideia de que o diretor, os educadores, os monitores vão-lhe dizer o que deve fazer, “empurrá-lo” para um lado e para o outro. Por isso há medo.

Quase todos vocês procedem de famílias ou de escolas onde foram educados para respeitar a posição. Seu pai e sua mãe têm posição, o diretor te posição, e, por conseguinte, vocês já chegam aqui com medo, com esse respeito à posição. Mas, temos de criar na escola uma atmosfera de liberdade, e isso só pode acontecer quando há função sem posição e, por conseguinte, um sentimento de igualdade. O verdadeiro encargo da educação correta é encaminhar-lhes para serem um ente humano valoroso e sensível, um ente humano sem medo e sem a falsa ideia do devido respeito à posição.  

Krishnamurti — A cultura e o problema humano

Participe do nosso grupo no Facebook

Participe do nosso grupo no Facebook
Grupo Jiddu Krishnamurti
Related Posts with Thumbnails

Vídeos para nossa luz interior

This div will be replaced