sexta-feira, 19 de julho de 2013

Estamos morrendo, não estamos vivendo

Pergunta: O que é que nos faz temer a morte?

Krishnamurti: Você pensa que uma folha que cai ao chão tem medo da morte? Pensa que um pássaro vive com medo de morrer? Ele se encontra com a morte, quando ela vem; mas a morte não lhe dá cuidados, pois está todo ocupado com o viver, com apanhar insetos, construir seu ninho, cantar seus cantos, voar pela simples alegria de voar. Você já observou os pássaros a voar muito alto, sem um bater de asas, deixando-se levar pelo vento? Como parecem se deliciar! Não têm preocupações sobre a morte. Quando a morte chegar, muito bem, acabou-se tudo. Mas, não lhe dá cuidados o que irá acontecer; eles vivem momento por momento, não é verdade? Só nós, entes humanos, estamos sempre preocupados com a morte — porque não estamos vivendo. Esta é que é a desgraça: estamos morrendo, não estamos vivendo. Os velhos estão se aproximando da sepultura, e os mais novos não lhe ficam muito atrás.

Veja, existe esta preocupação com a morte, porque tememos perder o “conhecido”, as coisas que temos acumulado. Temos medo de perder a mulher ou o marido, um filho ou um amigo; temos medo de perder o que aprendemos, acumulamos. Se pudéssemos levar conosco tudo o que acumulamos — nossos amigos, nossos bens, nossas virtudes, nosso caráter — não temeríamos a morte, não é verdade? É por isso que inventamos teorias a respeito da morte e da vida futura. Mas o fato é que a morte é um findar, e a maioria de nós não tem vontade de enfrentar este fato. Não queremos nos separar do conhecido; portanto, é nosso apego ao conhecido que cria em nós o medo, e não o desconhecido. O desconhecido não pode ser percebido pelo conhecido. Mas a mente, constituída que é do conhecido, diz: “Eu acabarei” — e, por conseguinte, tem medo.

Ora, se você puder viver a cada momento sem preocupações sobre o futuro; se puder viver sem a ideia de “amanhã” (o que, entretanto, não implica a superficialidade de ocupar-se meramente com o dia de hoje); se, cônscio do inteiro “processo” do conhecido, você puder abandonar o conhecido, soltá-lo completamente, verá então ocorrer uma coisa estupenda. Experimentará isso um dia; coloque para o lado tudo o que você conhece, esqueça-o, para ver o que acontece. Não transporte suas tribulações de dia para dia, de hora para hora, de momento para momento; “solte-as” todas, e você verá como, dessa liberdade, surge uma vida maravilhosa, que incluirá tanto o viver como o morrer. A morte significa apenas o fim de uma coisa — e nesse próprio findar há renovação.  

Krishnamurti — A cultura e o problema humano

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