quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Meditação: o fim do conflito.


Eu penso, que um dos nossos maiores problemas na vida, deve ser certamente, saber que nossas mentes deterioram, declinam, assim que envelhecemos ou, deterioram mesmo quando somos bem jovens, sendo especialista em determinado campo, não estando totalmente conscientes de toda a nossa complexa área da vida. Deve ser um grande problema descobrir se é realmente possível parar com essa deterioração para que a mente seja sempre fresca, jovem,  clara, decidida. E, é realmente possível terminar com este declínio? Esta noite, se me permitem, eu gostaria de entrar nisso, porque para mim, meditação é libertar a mente do conhecido.

E a questão aqui surge: é realmente possível acabar com esse processo, dessa mente, desse cérebro, assim como da mente, a entidade total, completa? E também: é possível manter a psique, o corpo, extraordinariamente vivos, alertas, com energia, etc.? Assim, isso me parece ser uma grande questão e, portanto, um grande desafio para descobrir. Agora, a investigação disto, não apenas verbalmente, mas não verbalmente, a investigação, o exame disto, é meditação. Esta palavra, a própria palavra é tão mal empregada. Existem tantos métodos de meditação, se entendemos um, entenderemos todos os sistemas e formas de meditação. Mas, a questão central, que iremos conversar juntos nesta noite é essa: se a mente pode reaver, rejuvenescer a si própria, se ele apode se tornar fresca, jovem e sem medo. O fato é que existe deterioração e se a pessoa olha para ela, e traduz essa deterioração, ou tenta transcendê-la, ou ir além dela, em termos de inclinação pessoal, temporal, etc., isso se torna um negócio muito ordinário. Mas, se você observa, como você observaria uma árvore, um por do sol, a luz na água, os contornos de uma colina azul, apenas observar isso, apenas observar o processo do que realmente está acontecendo em cada um de nós, então, nós iremos juntos. E, se você não pode fazer isso, haverá acúmulo e não seremos capazes de andar pela estrada juntos, porque estamos interessados na totalidade do processo do viver e esse processo total do viver, como se observa, está sempre criando uma imagem sobre nós mesmos e sobre os outros, imagem através da experiência, através do conflito e, estamos conscientes que existe uma imagem em cada um de nós, sobre nós mesmos? E essa imagem começa a se formar, mais e mais forte, mais e mais cristalizada então, é o fim de tudo. Assim, a pessoa está consciente disso? E se a pessoa está consciente disso, quem é a entidade que está consciente da imagem? Você entende a questão? A imagem é diferente do criador da imagem? Ou, o criar a imagem e a imagem são a mesma coisa? Porque, a menos que se entenda esse fator muito claramente, o que iremos investigar não estará claro. Eu percebo que eu tenho uma imagem sobre mim mesmo, que eu sou isso ou aquilo, que eu sou um grande homem ou um homem insignificante. Meu nome é conhecido, desconhecido, você sabe, toda a estrutura verbal e não verbal sobre si mesmo, consciente ou escondida. E, eu percebo que a imagem existe. Se realmente eu fico atento, vigilante, sei que existe essa imagem se formando o tempo todo, e o observador que está atento a essa imagem sente-se diferente da imagem, isso é o que está acontecendo. Espero que estejamos esclarecendo tudo isso! E, o observador então começa a dizer para si mesmo que esta imagem é o fator que produz deterioração, portanto, preciso destruir esta imagem afim de atingir o resultado maior, tornar a mente jovem e fresca e tudo mais. E ele luta, explica, justifica, ou acrescenta, esforça-se para mudá-la para uma imagem melhor. É muito importante entender que o esforço, a luta, em diferentes formas, tanto fisicamente, como psicologicamente, como competição, como lição, agressão, violência, ou um dos sentimentos acumulados, etc., é um dos fatores da deterioração. Assim, quando a pessoa percebe que o observador é o criador da imagementão todo o nosso processo de pensar passa por uma tremenda mudança. E essa imagem é o conhecido. Assim, enquanto o cérebro, enquanto a mente toda, na qual estão reunidos os cérebro e o corpo, a mente toda, funciona dentro do campo da imagem, que é o conhecido, no qual a pessoa pode estar consciente ou não, neste campo se encontra o fator de deterioração. Certo? Por favor, não aceite isso como uma idéia que você vai refletir quando você for para casa — você não irá refletir de qualquer jeito — mas aqui estamos fazendo isso, considerando a coisa juntos, portanto, você deve fazê-lo agora, não quando você vai para casa e diz: "Bem, eu tomei nota e entendi isso, eu refletirei sobre isso". Não tome nota porque isso não ajuda de forma alguma.

Assim, surge a questão: é possível esvaziar a mente do conhecido?  Você entende? Estou sendo claro? A pessoa deve ter perguntado esta questão vagamente ou com um propósito, o que ela sofre, tem ansiedades, se é possível ir além; ou a pessoa tem várias indicação sobre isso, agora estamos perguntando isso, estamos perguntado isso como uma questão que precisa ser respondida, como um desafio que precisa ser respondido. E este desafio não é um desafio externo, mas um desafio interno, psicologicamente. E vamos descobrir se é possível esvaziar a mente do conhecido; este esvaziar da mente é meditação. E devemos entrar nesta questão da meditação, quero dizer, explicar isso um pouco. Todo povo asiático, está condicionado por esta palavra. As ditas pessoas religiosas sérias estão  condicionadas por esta palavra, porque através da meditação elas esperam encontrar algo além da mera existência diária. E, para encontra isso, eles tem vários sistemas, muito, muito sutis ou muito grosseiros como o "Zen" e também este chamado sistema meditativo, existe concentração, fixar a mente numa idéia, em um pensamento em si, etc., e também a várias formas de estimulação, forçar a si mesmo estimular o seu ego e isso é para expandir a consciência, mais e mais, através da vontade, do esforço, da concentração, através da determinação de forçar, forçar, forçar, e, ao estender dessa consciência espera-se chegar num estado diferente, ou a uma diluição diferente, ou atingir aquele ponto que a mente consciente não pode atingir. Ou a pessoa toma muitas, muitas drogas, incluindo a última, o LSD, etc., que dá — por um momento — uma tremenda estimulação a todo sistema e, neste estado, experimenta-se coisas extraordinárias, coisas extraordinárias através de estimulação, através de concentração, através de disciplina, através de passar fome, jejuar. Se a pessoa jejua por alguns dias ela tem obviamente coisas peculiares que lhe acontecem e a pessoa toma drogas e isso lhe dá num momento, torna o corpo extraordinariamente sensível, e você vê cores das mais extraordinárias que você nunca tinha visto antes. Você vê tudo tão claramente que não existe espaço entre você e essa coisa que você vê. Isso acontece em várias formas por todo o mundo. A repetição das palavras, como fazem os católicos, essas orações tolas que tornam a mente um pouco calma, quieta, obviamente é um truque. Se você fica repetindo, repetindo, repetindo, você se torna tão embotado que obviamente você vai dormir e você pensa que isso é uma mente muito quieta. Mas, isso não é meditação. Assim, a pessoa põe de lado tudo isso, — mesmo que estejamos comprometidos com isso —, podemos jogar pela janela tudo isso. E, enquanto você está escutando, espero que você vá jogar isso fora, porque vamos entrar em algo bem mais profundo que essa invenções. Podemos colocar isso tudo de lado, porque, quanto mais se pratica uma disciplina mais a mente se torna embotada, mecânica, e esse processo mecanizante, rotineiro, torna a mente de alguma forma quieta, mas não é a quietude de uma tremenda energia, entendimento. Então, podemos continuar a investigar se é realmente possível libertar a mente do conhecido, não apenas o conhecido de mil anos, mas também o de ontem, que é a memória, o que não significa que eu esqueço o caminho para casa onde moro, ou a tecnologia. Isso obviamente a pessoa de ter, isso é essencial, se não nós não podemos viver. Estamos falando de coisas a um nível mais profundo, o nível profundo onde a imagem está sempre ativa. A imagem, que é o conhecido está funcionando o tempo todo e se essa imagem e o criador da imagem — que é o observador — se é possível esvaziar a mente disso e, o esvaziar do conhecido é meditação. Eu só posso entender você quando eu não tenho nenhuma imagem sobre você. Mas, se a nossa é uma relação amigável, ou marido e mulher, e tudo mais, tem uma imagem, e a imagem que eu tenho e que você tem sobre mim, estas imagens tem relacionamento e todo nosso relacionamento é baseado nisso. A pessoa vê muito claramente que somente quando a imagem não interfere, — imagem como conhecimento, pensamento, emoção, etc. — não interfere, é que eu posso olhar, ouvir, entender. Isso aconteceu com todos nós, quando de repente, você discute, argumenta, mostra, etc., de repente, sua mente se torna quieta e você vê, você diz: "Por Deus! Eu entendi!" Este entendimento é uma ação, não é uma idéia, certo?

Assim, existe entendimento, ação, só que ação num sentido diferente da ação que nós conhecemos, que é a ação da imagem, do conhecido. Estamos falando de um entendimento que é uma ação quando a mente está quieta completamente. Nela, o entendimento, como ação, acontece. Assim, existe entendimento e ação, apenas quando a mente está completamente quieta — e essa mente nova, quieta não é induzida por qualquer disciplina, por qualquer esforço — e a meditação então é, a que a pessoa pode fazer quando está sentada num ônibus ou andando pela rua, lavando louça, ou sabe Deus o que mais. E meditação não tem nada a ver com respiração e tudo isso. Não há nada misterioso sobre isso; o mistério da Vida está além de tudo isso, além da imagem, além do esforço, além da atividade centralizada, egocêntrica, subjetiva, auto-centrada. Existe um vasto campo de algo que nunca pode ser encontrado através do conhecido. E o esvaziar da mente só pode acontecer, não verbalmente, só quando não existe observador como o observado. Tudo isso exige uma tremenda atenção, percepção, uma percepção que não é concentração, apenas observar sem escolher, quero dizer, escolha acontece apenas quando existe confusão, não quando existe claridade. Assim, a percepção acontece apenas quando não existe escolha ou quando você está consciente de todas as escolhas conflitantes, desejos conflitantes, as tensões, apenas observar todo esse movimento de contradições e sabendo que o observador é o observado e, portanto, nesse processo, não existe escolha nenhuma, mas apenas observar o que é. E isso é inteiramente diferente de concentração. E essa observação traz uma qualidade de atenção na qual não existe nem o observador e nem o observado e este esvaziar da mente, com todas as experiências, que ela teve, é meditação. E só pode ser esvaziado todas as experiências quando cada experiência, a pessoa se torna consciente dela, vê todo conteúdo dela, sem escolha e, portanto, ela passa, portanto não existe marca dessa experiência, como uma ferida, como algo a recordar, para reconhecer e guardar. Assim, a meditação é um processo muito árduo, não é apenas, uma coisa a ser feita por velhas senhoras ou homens que não tem nada para fazer. Isso exige uma tremenda atenção o tempo todo. Então, você descobrirá, por você mesmo, — não, não é uma questão de experiência, não existe o contar — então, quando a mente está completamente quieta, sem qualquer forma de sugestão, como o hipnotismo, ou seguir um método, quando a mente está completamente quieta, então existe uma qualidadeuma dimensão diferente, que o pensamento não tem possibilidade de imaginar ou experimentar. Então a pessoa está além de toda busca, porque não existe procura — uma mente mente que está cheia de luz não procura — é só a mente, a mente embotada, confusa, que está sempre procurando, esperando encontrar. O que ela encontra é o resultado de sua própria confusão.

Veja por favor, se você entende uma questão, você entendeu todas as questões. E assim, o que é importante nisso tudo, não perguntar questões, ou respostas, ou as explicações, é que as explicações não tem valor algum. O que tem valor é como você pergunta a questão e o que você está esperando desta questão. Se você está atento ao que você está perguntando, você verá está questão sem nenhuma dificuldade, portanto, não existe professor algum. Você mesmo é tudo — tanto o professor, o aluno — você sabe, tudo. Isso lhe dá uma liberdade tremenda para investigar.

Krishnamurti - Palestra nº 4 - da primeira série intitulada "Revolução Real", realizada em 1966,  palestras em que, pela primeira vez, Krishnamurti permitiu ser filmado.

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