segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sobre o despertar da inteligência criadora

Certamente, para se criar uma criança sadia, torná-la inteligente, ajudá-la a compreender, de modo que possa discernir todas essas tolices, vocês tem que compreender e expor-lhe  todos os males do tradicionalismo e da aceitação da autoridade. Isso significa que vocês precisam incentivar o descontentamento; enquanto, em geral, o que nos interessa é diminuir, é banir o descontentamento. É só no descontentamento que podemos ver a falsidade de todas essas coisas; mas, envelhecendo, começamos a cristalizar. 

A maioria dos jovens é descontente, mas por desgraça o seu descontentamento é canalizado, padronizado: tornam-se mentores de classes, clérigos, bancários, gerentes de fábricas, e aí param. Obtêm um emprego e em pouco tempo seu descontentamento definha e morre. É muito difícil manter esse descontentamento desperto, vigilante; mas é o descontentamento, essa constante indagação, essa insatisfação com as coisas como estão — com o governo, com a influência dos pais, da esposa ou do marido, com tudo o que nos rodeia — que faz vir a inteligência criadora.

Mas não desejamos que nosso filho seja assim, porque é muito incômodo viver com alguém que está sempre duvidando dos valores tradicionais, sempre examinando-os. Achamos melhor cercar-nos de pessoas obesas, satisfeitas, preguiçosas.

São vocês, os adultos, os responsáveis pelo futuro... Mas o futuro não lhes interessa. Só Deus sabe o que lhes interessa, ou porque geram tantos filhos — pois não sabem educá-los. Se vocês os amassem de verdade, em vez de apenas destiná-los, a conservar a sua propriedade e o seu nome, haveriam, sem dúvida, de tratar esse problema de maneira nova. Vocês provavelmente teriam de fundar novas escolas; provavelmente teriam de ser vocês mesmos o instrutor.  

Mas, infelizmente, vocês não sentem muito interesse por qualquer coisa nova na vida, a não ser ganhar dinheiro, comer e satisfazer o sexo. Nessas coisas vocês são muito "integrados", mas não desejam fazer frente ou se aplicar às restantes complexidades e dificuldades da vida; e por isso, quando geram filhos e eles crescem, são tão imaturos, tão "desintegrados", tão pouco inteligentes como vocês mesmos, que vivem em constante batalha consigo mesmo e com o mundo.

Assim, são os mais velhos os responsáveis por esse espírito comunalista. Afinal, por que deve haver divisões entre um homem e outro? Vocês são muito semelhantes a qualquer outro. Podem ter um corpo diferente, o semblante de vocês pode ser diferente do meu, mas, interiormente, somos muito parecidos: orgulhosos, ambiciosos, coléricos, violentos, lascivos, ávidos de poder, de posição, de autoridade, etc. Se nos tirarem os rótulos, ficamos nus. 

Mas, não queremos olhar de frente a nossa nudez ou nos transformar, e é por isso que adoramos os rótulos — o que indica extrema falta de maturidade, extrema infantilidade. 

Com o mundo desabando estrondosamente bem perto de nossos ouvidos, estamos discutindo sobre se um indivíduo deve pertencer a esta ou àquela camada social hereditária, ou se pode colocar as vestes sagradas, ou que espécie de cerimônia deve executar — denotando tudo isso uma absoluta falta de pensamento, vocês não acham?

A vida exige ação extraordinária, criadora, revolucionária. Só no despertar dessa inteligência criadora há possibilidade de se viver num mundo pacífico e feliz.

Krishnamurti - Paz no Coração  

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