sábado, 2 de fevereiro de 2013

Sobre a realidade do estado de total tranquilidade

Se nenhum conflito tenho, terei a meu dispor uma extraordinária carga de energia. Isto é um fato, não? A maior parte de nossa energia se dissipa no conflito, na incessante batalha que travamos dentro de nós e com os nossos semelhantes. Se esse conflito termina, que acontece com essa energia enormemente acreescentada? Obviamente, isso a pessoa descobrirá por si própria, quando o conflito terminar — se isso alguma vez acontecer.

Ora, que se entende por energia? Conhecemos a energia gerada pelo conflito. Um homem ambicioso impele a si próprio, luta tenazmente para atingir o seu alvo, e isso gera uma certa qualidade de energia, dureza; todos sabeis o que a ambição implica. Mas, quando a ambição cessa totalmente — o que não representa um estado de apatia ou indiferença — existe uma energia que nada tem em comum com a energia própria do conflito. A energia do conflito, da competição, do ódio, não pode evidentemente comparar-se à energia da afeição; porque a afeição ou o amor não é o oposto do ódio. Quando existe a abundante energia oriunda da libertação de todo o conflito, a pessoa poderá continuar a exercer o seu emprego ou a atender a seus negócios; ou poderá despender essa energia de maneira totalmente diferente.

Deixe-me dizer-vos uma coisa. Em geral, somos insensíveis; ou somos sensíveis à beleza e lutamos para repelir a fealdade. Mas, se não há conflito entre o belo e o feio, se há simplesmente o estado de sensibilidade — e issso é também uma expressão de energia — então, tudo se torna vivo. Cada côr é uma cor ardente, intensa, e não simplesmente vermelho, azul ou branco. Cada pensamento, cada sentimento se consome inteiramente nessa chama. E se essa energia não for emparelhada a uma dada exigência — minha mulher, minha casa, meus filhos, meu emprego, minha pátria, minha crença — ela é então, tranquilidade total. Nessa tranquilidade há um movimento tremendo, mas não de um ponto para outro. É um movimento não realcionado com o tempo; e isso, no meu sentir, é criação, é Deus, ou o nome que preferirdes. Mas, para que se torne existente a tranquilidade completa, toda espécie de luta, de conflito, de desejo de “vir-a-ser algo”, toda exigência de mais experiência — tudo deve cessar.

Mas, que bem faço ao falar a esse respeito? Vejam, para mim, o que estou dizendo não é especulativo; mas se vos falo de uma coisa que não conheceis, ela naturalmente se torna para vós especulativa e, portanto, irreal.

Krishnamurti — 10 de junho de 1962

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