Eis por que tanto importa, enquanto estais jovens, que não vos deixeis condicionar. (…) Os homens que investigam o que é a Verdade, o que é Deus - só esses homens podem criar uma nova civilização, uma nova cultura, e não aqueles que se submetem ou se revoltam apenas dentro da prisão do velho condicionamento.
Podeis pôr as vestes de um asceta (…); mas, se não houver dentro de vós aquele movimento para descobrir o que é real, (…) a Verdade, vossos esforços serão sem significação. Podeis ser muito ilustrados (…), mas tudo isso está dentro da prisão da tradição (…), não tem nenhum valor revolucionário. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 89)
Por homem civilizado não entendo aquele que conseguiu dominar o mecanismo da vida moderna. Civilização é o resultado de uma cultura (…), distinta da percepção individual da Verdade. (A Finalidade da Vida, pág. 20)
Um homem civilizado, antes de tudo, não deve pedir a outros coisa alguma para si mesmo, e não deve necessitar de nada para si próprio. É esse o principal requisito, do meu ponto de vista. (…) (Idem, pág. 20)
Pois bem: se esse homem não precisa pedir coisa alguma a outrem, significa isso que ele é um modelo para si mesmo, que é a sua própria luz - e, assim, não projetará sombras no caminho de outrem. (…) (Idem, pág. 20)
Não o limita o temor da autoridade externa, o temor de um deus desconhecido, não o limitam as superstições e tradições, porque, no instante em que ele depender de alguém ou de algo, a sua percepção da Verdade se atenuará. (Idem, pág. 20-21)
Também é necessário que ele seja dominado pela intuição, que é o ponto culminante da inteligência. (…) E se desejais despertar essa intuição (…) deveis manter a vossa inteligência entusiasticamente desperta. (A Finalidade da Vida, pág. 21)
E deve, ainda, o homem civilizado, (…) culto, ser tolerante, capaz de examinar qualquer assunto imparcialmente, livre de preconceitos e influências, (…) capaz de um exame crítico de toda coisa nova, antes de a rejeitar ou aceitar. (…) (Idem, pág. 21)
Esse homem chegou realmente ao alvo (…) embebeu realmente o seu coração nas águas da vida. (…) E esse estado só pode alcançar-se quando o alvo é o árbitro definitivo, a autoridade decisiva. (…) (Idem, pág. 21-22)
Esse homem é simples, (…) é puro. Ele é lúcido e calmo (…) esse homem preencheu a vida, porque deixou a vida pintar o quadro que desejava e não foi ele quem, com sua estreiteza, (…) suas limitações, deturpou e corrompeu a vida. (A Finalidade da Vida, pág. 22)
(…) E quando houverdes compreendido esse caminho, (…) realizado essa união, o tempo e todas as suas complicações deixarão de existir. (…) (Idem, pág. 22)
Sereis então vosso próprio Senhor, vosso próprio Deus, vossa própria Luz. E, uma vez realizado isso, todas as outras coisas serão secundárias, (…) desnecessárias. (Idem, pág. 22)
(…) São precisos novos arquitetos, novos construtores, para criar uma sociedade nova. A estrutura tem de ser edificada sobre alicerces novos, sobre fatos e valores novos, que cumpre descobrir. Esses arquitetos não existem ainda. (…) Tal é o nosso problema. Vemos que a sociedade está ruindo e se desintegrando, e somos nós - vós e eu - que temos de ser os arquitetos. (…) (A Primeira e Última Liberdade, 3ª ed., pág. 36) (1ª ed., pág. 37)
Se o reformador (…) Quem quer reformar o mundo, deve primeiramente compreender-se a si mesmo, porquanto o mundo é ele. As atuais tribulações e degradações do homem são acarretadas pelo próprio homem; e, se ele pretender reformar apenas o padrão do conflito, sem compreender-se fundamentalmente a si próprio, concorrerá somente para aumentar a ignorância e o sofrimento. Se cada indivíduo procurar o valor eterno, chegará então o fim do conflito interior e descerá a paz sobre a terra. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 114-115)
Se desejais pôr termo ao conflito, à confusão e às tribulações que se vos deparam (…), de onde deveis partir? Do mundo, do exterior (…)? Ou deveis partir de vós mesmos, a fim de eliminardes radicalmente as causas responsáveis por todos os conflitos e sofrimentos? Se fordes capazes de desvencilhar-vos da paixão e da mundanidade, em que se baseia a atual civilização, descobrireis e compreendereis o valor eterno, esse valor que não se ajusta a molde algum. Sereis, então, quiçá, capazes de ajudar a outros. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 114-115)
Nosso primeiro dever, por conseqüência, é descobrirmos o Real, porque somente ele nos dará paz e felicidade. Só nele pode cessar o conflito e a aflição; só nele se encontra a potência criadora. Sem esse tesouro interior, pouca importância tem a organização das condições externas, por meio de legislação e (…) planos econômicos. Com a percepção do Real, deixam de estar separados o “exterior” e o “interior”. (Idem, pág. 116)
(…) Conhecemos a fuga intelectual: racionalização, mais e mais planos engenhosos, técnica e mais técnica, mais e mais reações econômicas à vida, todas muito sutis e intelectuais. E há a fuga pela via do misticismo, dos livros sagrados, da adoração de uma idéia estabelecida. Ora, tanto o intelectual como o místico são produtos da mente. O intelectual pode ter a capacidade de falar, de expressar-se com mais clareza, mas também ele se recolhe nas suas idéias e ali vive muito tranqüilo, indiferente à sociedade, acalentando suas ilusões, nascidas da mente. (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 193-194)
(…) Somos nós, vós e eu, a gente comum, que temos de resolver este problema, sem sermos intelectuais nem místicos, sem escaparmos pela racionalização nem por meio de termos vagos e de hipnose por palavras e métodos que são autoprojeções nossas. O que sois, o mundo é, e se não compreendeis a vós mesmos, o que criardes aumentará sempre a confusão e o sofrimento; (…) (Idem, pág. 194)
(…) Ao falarmos em revolução, temos em vista a estrutura psicológica da sociedade em que nos vemos aprisionados (…) Há necessidade de pelo menos uns poucos indivíduos, não um grupo organizado em torno de um dogma, uma crença ou um líder - indivíduos firmemente cônscios da própria psique e da sociedade, e cônscios, também, da necessidade de uma revolução total, interior, para que não continuemos a viver neste estado de violência, de ódio, de antagonismo, de mera busca de prazeres e entretenimentos. (…) (Como Viver neste Mundo, pág. 46-47)
Ora, (…) As revoluções fundamentais são produzidas pela massa, ou são elas iniciadas por uns poucos indivíduos de visão que, por seu verbo e sua energia, influenciam grande número de pessoas? É assim que nascem as revoluções. (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 89)
Afinal, a massa é uma entidade constituída de pessoas que estão enredadas, hipnotizadas por palavras, por certas idéias. (…) Não deveríamos manter-nos à margem da corrente e tirar dela outros indivíduos, em número crescente, para, dessa maneira, influir na corrente? (…) (Idem, pág. 90)
Não é muito importante que se realize uma transformação fundamental no indivíduo, em primeiro lugar, (…) em vez de esperar que todo o mundo se transforme? Não é um ponto de vista “escapista” (…) pensar que vós e eu não sejamos capazes de influir, por pouco que seja, na sociedade como um todo? (Idem, pág. 90)
Antes de agir, precisamos saber pensar. (…) Só quando vós e eu descobrirmos a maneira de pensar corretamente, estaremos aptos a resolver os formidáveis problemas que nos desafiam. (Idem, pág. 13)
Ora, como começar a pensar corretamente? Precisais conhecer-vos a vós mesmos, não achais? (…) Vós que sois diferente do mundo; o problema do mundo é vosso problema, e o vosso “processo” individual é o “processo” total do mundo. (…) (Idem, pág. 13)
O que tem importância (…) Vemos o que está acontecendo no mundo - o crescente conflito da destruição, da miséria. Esse conflito vós não podeis sustar; o que podeis fazer é alterar a vossa relação com o mundo (…) o mundo de vossa esposa, vosso marido, vosso emprego, vosso lar. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 52)
Nesse mundo podeis operar uma transformação, e essa transformação se espalhará em círculos cada vez mais amplos; (…) Mas, se compreendemos o conflito da existência de cada dia, podemos passar além, porque nisso se encerra todo o significado da vida. A mente em conflito é destrutiva, desperdiçada. (…) (Idem, pág. 52)
(…) Todos os intelectuais que se têm ocupado com esses problemas e tentado mostrar-nos o caminho, têm falhado. Os intelectuais falharam, suas fórmulas são impraticáveis. (…) O que nos interessa, pois, é a ação, (…) o descobrimento de uma nova maneira de encarar esses problemas. Já vimos que, se os encararmos de acordo com as velhas e habituais diretrizes, não conseguimos nenhuma modificação fundamental. (…) (A Arte da Libertação, pág. 12)
(…) É bem óbvio que não podemos ficar à espera de alguém, guru ou guia, que venha resolver nossas dificuldades. Isso é infantil, é um modo imaturo de pensar. A responsabilidade é vossa e minha; e, uma vez que falharam os chefes e os guias (…) que nenhuma significação têm as fórmulas e os sistemas, não podemos ficar sentados como expectadores, à espera de que nos digam o que fazer. (…) (Idem, pág. 12-13)
Antes de agir, precisamos saber pensar. Não há ação sem pensamento. A maioria de nós, porém, age sem pensar, e o agir sem pensar nos trouxe a esta confusão. Por conseguinte, precisamos descobrir como pensar, antes de saber como agir. (…) Só quando vós e eu descobrirmos a maneira de pensar corretamente, estaremos aptos a resolver os formidáveis problemas que nos desafiam. (…) (Idem, pág. 12)
Os problemas que se apresentam a cada um de nós e, portanto, ao mundo, não podem ser resolvidos pelos políticos ou pelos especialistas. Esses problemas não são resultado de causas superficiais. (…) Nossos problemas são complexos; só podem ser resolvidos como um processo total das reações humanas ante a vida. Podem os especialistas oferecer-nos planos de ação cuidadosamente elaborados, mas não são as ações planejadas que irão trazer-nos a salvação, mas tão somente a compreensão do processo total do homem, isto é, de vós mesmos. Os especialistas só têm capacidade para tratar de problemas num nível exclusivo, com o que aumentam os nossos conflitos e a nossa confusão. (O Caminho da Vida, pág. 25)
(…) Julgamos que muito pouco podemos fazer neste mundo, que os grandes políticos, os escritores famosos, os grandes guias religiosos são homens capazes de ação fora do comum. Na verdade, entretanto, vós e eu somos infinitamente mais capazes de produzir uma transformação fundamental do que os políticos profissionais e os economistas. Se dermos atenção às nossas próprias vidas, se compreendermos as nossas relações com os outros, teremos criado uma nova sociedade; do contrário, não faremos mais do que perpetuar a atual desordem e confusão. (Nosso Único Problema, pág. 30)
A esperança de um novo mundo está naqueles de vós que começarem a ver o que é falso e a revoltar-se contra o falso, não apenas verbalmente, porém realmente. E esta é a razão por que deveis buscar a educação correta; pois, só crescendo em liberdade, podereis criar um novo mundo não baseado na tradição ou moldado de acordo com a idiossincrasia de certo filósofo ou idealista. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 18)
(…) Para sermos livres, devemos pôr em dúvida a reação social, pois só então poderemos descobrir se o indivíduo é apenas o resultado da sociedade, ou algo mais. (…) Só os que põem em dúvida são capazes de promover a revolução social. Tais indivíduos, uma vez livres de padrões, de crenças, de ideologias, estão aptos para ajudar a criar uma nova sociedade, não baseada em condicionamento algum. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 8)
(…) Senhor, uma nova sociedade, uma nova ordem, não pode ser estabelecida por outras pessoas; ela tem de ser estabelecida por vós mesmo. Uma revolução baseada numa idéia não é revolução, absolutamente. A verdadeira revolução vem de dentro, (…) só vem quando compreendeis as vossas relações, (…) atividades diárias, vossa maneira de proceder, de pensar, de falar, vossa atitude para com o próximo, para com vossa esposa, vosso marido, vossos filhos. (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 196-197)
Se, como indivíduos, não produzirmos essa transformação, de que outra maneira se produzirá ela? (…) Os poderosos, os milionários, os homens de muitas posses, não o farão. Isso tem de ser feito por gente comum, por vós e por mim. (…) Um homem pode ter coragem para opor-se aos ditames da sociedade; mas só o homem que compreende o complexo problema da transformação (…) a estrutura da sociedade, que é ele próprio, torna-se um verdadeiro indivíduo, e não um simples representante do todo coletivo. Só o indivíduo que não está preso à sociedade, pode influenciá-la. (…) (Verdade Libertadora, pág. 36)
Senhores, toda sociedade nova, toda civilização nova, deve ser começada por vós. Como foi que começou o cristianismo, o budismo, e todo movimento significativo? Pela iniciativa de uns poucos inflamados pela idéia e pelo sentimento. Tinham eles os corações abertos a uma vida nova. Constituíam um núcleo, não tinham crença em determinada coisa, mas tinham em si próprios a experiência da realidade - a realidade daquilo que viam. (…) (O que te fará Feliz, pág. 18)
Senhores, deveria existir uma classe de pessoas independentes do governo, não pertencentes à sociedade, à margem da sociedade - a atuarem como guias. Essas pessoas são os “açoitadores”, os profetas, que vos apontam os vossos grandes erros. (A Arte da Libertação, pág. 95)
Mas não existe nenhum grupo desses, porque o governo, no mundo moderno, não pode apoiar tal grupo, um grupo sem autoridade, que não pertence ao governo, a nenhuma religião, casta ou nação. É só um grupo desses que pode atuar como freio aos governos. (…) (Idem, pág. 95)
Em razão de os governos se estarem tornando cada vez mais prepotentes, pondo a seu serviço uma maioria de seres humanos, os cidadãos, em números cada vez maiores, se vão tornando incapazes de pensar por si mesmos.(…) Assim, só quando existe um grupo desses, um grupo enérgico, inteligente, ativo, só então há esperança de salvação. (…) (A Arte da Libertação, pág. 95)
Se não é, cumpre então que vos liberteis inteligentemente, despejando-vos do nacionalismo, da ganância, da inveja, do poder que a autoridade confere; e então, sendo um ser inteligente, estareis habilitado para observar a situação mundial e contribuir para o estabelecimento de uma nova educação e uma nova sociedade. (Idem, pág. 95-96)
(…) Agora, aqueles que têm lazeres, como as pessoas mais idosas, aposentadas, poderiam agir como intermediários, como instrumentos para a realização da revolução mundial. Dispõem de tempo, mas são indiferentes. E os que vivem empenhados em incessantes atividades, esses estão no meio da torrente e não dispõem de tempo para procurar as soluções dos vários problemas da vida. (Novo Acesso à Vida, pág. 151)
Assim, aqueles que se interessam por essas coisas, pela realização de uma transformação radical no mundo, resultante da compreensão de si próprios - só deles se pode esperar algo. (Idem, pág. 151)
Senhores, não vos parece ser esta uma pergunta importante que devemos fazer a nós mesmos? Pois estamos sempre satisfeitos com o conhecido; mas se arranhamos a crosta do conhecido, não encontramos nada, depara-se-nos o vazio, o vácuo. E, por certo, é muito importante saiba a mente viver de modo integral dentro desse vazio, desse silêncio e, lá, pensar e expressar-se, fomentar o pensamento e, conseqüentemente, a ação. (Visão da Realidade, pág. 204)
Eis por que devemos compreender o que significa “aprender”. Além de certo limite, nada mais podemos aprender, pois nada há que aprender, não há instrutor que possa ensinar-nos. E a esse ponto temos de chegar - o que significa, realmente, ser completamente livre de todo desejo de nos tornarmos alguma coisa, todo desejo de mais. (Idem, pág. 204)
Só quando a mente se acha nesse estado de vazio, em que não há conhecimento, em que não há mais o experimentador, aprendendo, acumulando - só então existe aquele esforço criador, podendo expressar-se através de vários talentos e artes, sem causar mais sofrimentos. (Visão da Realidade, pág. 204)
Está visto, pois, que devemos chegar àquele ponto em que nada há para aprender, porque lá a mente está livre da sociedade, livre de todas as mistificações, livre da luta pelo reconhecimento de nossa posição social, etc.; e só nesse estado de liberdade, fora do alcance da sociedade, se pode criar uma nova cultura, inaugurar uma nova civilização. (…) (Idem, pág. 204-205)
(…) Só existe a autoridade quando existe o medo. Com a compreensão do medo, da autoridade e da rejeição de todos os desejos de experiência - e essa é realmente a plenitude da madureza - torna-se a mente completamente silenciosa. Só nesse silêncio que é sumamente ativo - pode verificar-se uma revolução total na psique. Só então está a mente apta a criar uma nova sociedade, (…) comunidade, constituída de pessoas que, embora vivendo no mundo, a ele não pertençam. A vós cabe o dever de criar essa comunidade. (A Importância da Transformação, pág. 69)