O pensamento não irá resolver os nossos problemas, porque eles foram criados pela atividade do pensamento. E o nosso principal problema é produzir uma mudança fundamental, radical, revolucionária, psicológica. (1)
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Todos os chamados livros sagrados são produtos do pensamento. Eles podem ser venerados como uma revelação, mas eles são essencialmente pensamento. (2)
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Qualquer ação nascida do pensamento limitado deve inevitavelmente provocar conflito. (3)* * *
Todos os problemas que a humanidade hoje enfrenta, tanto psicologicamente, como nas outras esferas, são o resultado do pensamento. E nós estamos alimentando o mesmo padrão de pensamento, e o pensamento nunca solucionará nenhum desses problemas. Há contudo um outro tipo de instumento que é a inteligência. (4)* * *
O pensamento, sem dúvida nenhuma, é a reação daquilo que vocês sabem. O conhecimento reage, e damos a isso o nome de pensamento. Se ficarem alertas, conscientes do seu próprio processo de pensamento, vocês vão se dar conta de que o que quer que pensem já moldou a mente; e uma mente moldada pelo pensamento deixou de ser livre, e por isso não é uma mente individual. (5)
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O pensamento é tão astuto, tão esperto, que deturpa tudo para sua própria conveniência. O pensamento em sua exigência de prazer cria seu próprio cativeiro. O pensamento é o criador de dualidade em todas as nossas relações: existe em nós a violência que nos dá prazer, mas há também o desejo de paz, o desejo de ser gentil e pacífico. Isto é o que acontece todo o tempo em todo nosso viver. O pensamento não só cria esta dualidade em nós, esta contradição, mas também acumula nas inumeráveis memórias tudo que nós tivemos de prazer e dor, e destas memórias ele renasce". (6)* * *
Para fazer cessar o pensamento é indispensável entender inicialmente o mecanismo do pensar. Preciso, até o mais profundo do meu ser, compreender o pensamento como um todo. Preciso examinar cada pensamento; eu não posso deixar que algum deles escape sem ser plenamente compreendido; desse modo, o cérebro, a mente, todo o ser ficarão bastante atentos. E quando então eu perseguir todo e qualquer pensamento até o fim, até a extremidade de sua raiz, desse momento em diante, verei que o pensamento cessa por si mesmo. Não preciso fazer nada a respeito porque o pensamento é memória. A memória é a marca deixada pela experiência e, enquanto a memória não for compreendida de forma plena e total, continuará a deixar marcas. A partir do momento em que eu tiver vivenciado completamente a experiência, esta não deixará marcas. Desse modo, se examinarmos cada pensamento e descobrirmos onde se situa a marca, e se permanecermos com essa marca, aceitando-a como um fato, esse fato irá desnudar-se e fará cessar esse processo particular de pensar, de maneira que cada pensamento, cada sentimento será compreendido. Então o cérebro e a mente se libertarão de um acúmulo enorme de recordações. Isso requer tremenda atenção, atenção não apenas para as árvores e os pássaros, mas atenção interior, para cuidar que cada pensamento seja compreendido. (7)
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O pensamento é limitado porque o conhecimento é limitado, e qualquer que seja a atuação do pensamento, o que quer que ele crie, tem de ser limitado. Nossa mente e nosso coração precisam ser claros para saber o que é uma mente religiosa. Para descobrirmos a mente religiosa temos de negar todo e qualquer ritual e símbolos inventados pelo pensamento. Só negando aquilo que é falso encontraremos o que é verdadeiro. Você nega todos os métodos de meditação porque, no íntimo, sabe que eles foram inventados pelo pensamento. Foram apenas reunidos pelo homem. Como nossa vida é frágil e incerta, desejamos alguma satisfação mais profunda, um pouco de amor, algo estável, permanente e duradouro. Desejamos algo mais firme, imutável, e achamos que poderemos obtê-lo se fizermos certas coisas. Essas coisas são inventadas pelo pensamento e, sendo ele por si só contraditório, qualquer tipo de estrutura reunido na meditação não é meditação. Isso significa total negação de tudo o que o homem criou psicologicamente. Não me refiro à tecnologia, que não pode ser negada, mas à rejeição a todas as coisas que o homem inventou ou escreveu sobre a busca da verdade. Para fugirmos do cansaço, da tristeza e dos tormentos caímos nessa armadilha. Portanto, temos de rejeitar completamente todas as nossas atitudes mentais, os exercícios respiratórios, toda a atividade do pensamento. (8)
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Se você achar difícil estar atento, então experimente escrever todo pensamento e sentimento que surge ao longo do dia, anote suas reações de ciúme, inveja, vaidade, sensualidade, as intenções atrás de suas palavras, e assim por diante. Reserve algum tempo antes do café para escrever isto – o que pode exigir sair mais cedo da cama e abandonar alguma atividade social. Se você anota estas coisas sempre que pode, e à noite antes de adormecer olha tudo que escreveu durante o dia, estuda e examina isto sem julgamento, sem condenação, você começará a descobrir as causas ocultas de seus pensamentos e sentimentos, desejos e palavras... Agora, o importante nisto é estudar com a inteligência livre tudo que você escreveu, e estudando isto você se dará conta de seu próprio estado. Na chama da autoconsciência, do autoconhecimento, as causas do conflito são expostas e consumidas. Você deveria continuar a escrever seus pensamentos e percepções, intenções e reações, não uma vez ou outra, mas por um número considerável de dias até que você possa estar imediatamente atento a eles... Meditação não é só autoconsciência constante, mas abandono constante do ego. Além do pensamento de comum conhecido, existe a meditação, da qual provém a tranqüilidade da sabedoria, e na serenidade a algo maior acontece. Ao escrever o que a pessoa pensa e sente, os seus desejos e suas reações, propicia a consciência interior, a cooperação do inconsciente com o consciente, e isto por sua vez conduz em troca à integração e à compreensão. (9)
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Autoconhecimento não significa conhecer-se, mas conhecer a atividade do pensamento. Porque o eu é pensamento, a idéia. Portanto, observe cada movimento do pensamento, não deixando nunca que um pensamento passe sem se certificar do que ele é. Tente. Faça isso e você verá o que acontece. Isso revigora o cérebro. Veja: o pensamento é medo, o pensamento é prazer, o pensamento é tristeza. E o pensamento não é amor. O pensamento não é compaixão. (10)* * *
O autoconhecimento brota quando você observa e compreende todos os seus sentimentos e pensamentos, momento por momento, dia a dia. A totalidade dessa compreensão resolverá os problemas da vida. (11)
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O autoconhecimento não é um processo de continuidade do pensamento, mas de redução, de cessação do pensamento... O pensamento só pode terminar quando você conhecer o conteúdo total da pessoa que pensa; e assim começamos a ver como é importante ter autoconhecimento. A maioria de nós se contenta com o autoconhecimento superficial, com arranhar a superfície, com o bê-a-bá da psicologia. Não adianta ler alguns livros de psicologia, arranhar um pouco a superfície e dizer que sabe. Isso é mera aplicação à mente daquilo que se aprendeu... Uma mente que acumula não pode aprender. (12)
(1) Krishnamurti - Sobre a Mente e o Pensamento
(2) Krishnamurti - A Arte de Aprende
(3) Krishnamurti - O Futuro da Humanidade
(4) Krishnamurti - O Futuro da Humanidade
(5) Krishnamurti - Sobre a aprendizagem e o conhecimento
(6) Krishnamurti
(7) Krishnamurti e a Educação
(8) Krishnamurti - Nossa Luz Interior
(9) Krishnamurti - O Livro da Vida
(10) Krishnamurti - Diálogos sobre a visão intuitiva
(11) Krishnamurti - O Problema da Revolução Total
(12) Krishnamurti - Sobre a aprendizagem e o conhecimento
(13) Krishnamurti - A Arte de Aprender
(14) Krishnamurti - Da Insatisfação à Felicidade
(15) Krishnamurti - A Mutação Interior
(16) Krishnamurti - Encontro com o eterno
(17) Krishnamurti - O Homem Livre
(18) Krishnamurti - A Primeira e a ùltima Liberdade
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Nunca investigamos a profundidade mesma do pensamento: e porque nunca o questionamos, ele assumiu a predominância. Ele é o tirano da nossa vida e os tiranos raramente são desafiados. (13) * * *
Permanecemos presos nas rotinas do embotamento, porque pensar com muita seriedade significa estar descontente, o que é muito doloroso; e a maioria de nós não deseja atrair tristezas. Desejamos fugir da tristeza, e por isso toda a nossa estrutura de pensamento é confusão, distração... Ser sensível significa dor; mas precisamos ser dolorosamente sensíveis, para compreender. Entretanto, procuramos manter-nos do lado de fora da dor, e, evitando-a, reduzimo-nos a simples máquinas de imitação. (14) * * *
Meditação é o perceber total de cada movimento do pensamento, e jamais negação dele; quer dizer, é deixar cada pensamento "florescer" livremente: pois só em liberdade pode o pensamento "florescer" e terminar. Assim, com esse trabalho (se isso se pode chamar "trabalho") ou, melhor, com essa observação, a mente tudo compreende. Está então quieta, sabe o que realmente significa "estar quieta", estar verdadeiramente tranqüila. E, nessa tranqüilidade, existem várias outras formas de movimento que, para quem nunca refletiu a esse respeito, só verbalmente se podem descrever. (15) * * *
A menos que a mente descubra a fonte do pensamento, ver-se-á sempre de novo enredada num sistema de vida que levará finalmente ao conflito, uma maneira de vida que é violência. Aquela fonte precisa ser descoberta. Enquanto existir observador e coisa observada, haverá contradição, distância, intervalo de tempo, separação entre ambos, e o pensamento tem de existir... Enquanto houver observador e coisa observada, e, entre ambos, intervalo de tempo, distância, espaço - essa separação dará origem ao pensamento. Só quando o observador é o objeto observado, e não há observador nenhum, não há pensar. (16)* * *
Se você observar a sua própria mente, verá o quanto é difícil estar livre de conclusões. Afinal, o que você sabe é uma série de conclusões, constituída daquilo que lhe foi ensinado, do que você aprendeu dos livros ou do que achou em suas próprias reações - e sobre tal base começa a pensar, a levantar o edifício do pensamento! Mas, sem dúvida, a mente que deseja descobrir o que é a Verdade ou Deus, deve começar sem nenhum pressuposto, nenhuma conclusão, quer dizer, livre para investigar. E se você observar sua própria mente, verá que não é livre. Está cheia de conclusões, pejada de conhecimentos, provindo de muitos milhares de dias passados; ela pensa segundo o Gita, segundo a Bíblia ou o Alcorão, ou um certo instrutor, e começa com o pressuposto de que o que dizem é a Verdade. Mas, se ela já sabe o que é a Verdade, é claro que não tem necessidade de procurar a Verdade. (17) * * *
Infelizmente, para a maioria de nós, o pensamento se tornou demasiado importante. Dizeis: "Como posso existir, ser, sem pensar?" "Como posso ter a mente vazia?" Para a maioria das pessoas, ter a mente vazia equivale a ficar em estado de estupor, de idiotia, ou coisa parecida, e vossa reação instintiva é de rejeitar tal estado. Mas, sem dúvida, a mente que é muito tranqüila, a mente que não está sendo distraída pelo próprio pensamento, a mente que é aberta, pode encarar o problema de maneira muito direta e muito simples. É essa capacidade de olharmos nossos problemas sem nenhuma distração, que representa a única solução. Para tanto, é preciso que a mente seja muito tranqüila, muito serena. Essa mente não é resultado, não é produto do exercício, de meditação, de controle. Ela não nasce de qualquer espécie de disciplina, constrangimento ou sublimação; nasce sem esforço algum por parte do "eu", do pensamento; nasce quando compreendo o processo total do pensar, quando posso ver um fato sem distração alguma. Nesse estado de tranqüilidade, da mente que se acha verdadeiramente silenciosa, existe o amor. E só o amor pode resolver todos os problemas humanos. (18) * * *
Bibliografia(1) Krishnamurti - Sobre a Mente e o Pensamento
(2) Krishnamurti - A Arte de Aprende
(3) Krishnamurti - O Futuro da Humanidade
(4) Krishnamurti - O Futuro da Humanidade
(5) Krishnamurti - Sobre a aprendizagem e o conhecimento
(6) Krishnamurti
(7) Krishnamurti e a Educação
(8) Krishnamurti - Nossa Luz Interior
(9) Krishnamurti - O Livro da Vida
(10) Krishnamurti - Diálogos sobre a visão intuitiva
(11) Krishnamurti - O Problema da Revolução Total
(12) Krishnamurti - Sobre a aprendizagem e o conhecimento
(13) Krishnamurti - A Arte de Aprender
(14) Krishnamurti - Da Insatisfação à Felicidade
(15) Krishnamurti - A Mutação Interior
(16) Krishnamurti - Encontro com o eterno
(17) Krishnamurti - O Homem Livre
(18) Krishnamurti - A Primeira e a ùltima Liberdade