A respeitabilidade é uma maldição; é um “mal” que corrói a mente e o coração. Infiltra-se sorrateiramente na pessoa e destrói o amor. Ser respeitável é se sentir bem-sucedido, criar para si mesmo uma posição no mundo, construir em torno de si um muro de segurança, da autoconfiança que vem junto com o dinheiro, o poder, o sucesso, a capacidade ou a virtude. Esse exclusivismo da autoconfiança resulta em ódio e antagonismo nos relacionamentos humanos, que são a sociedade. Os respeitáveis são sempre a nata da sociedade, e, portanto, eles são sempre a causa de discórdias e miséria. Os respeitáveis, como os desprezados, estão sempre à mercê das circunstâncias; as influências do ambiente e o peso da tradição são extremamente importantes para eles, pois isso esconde sua pobreza interior. Os respeitáveis estão na defensiva, assustados e desconfiados. O medo está em seus corações, portanto a raiva é sua justiça. Suas virtudes e devoções são sua defesa. Eles são como o tambor, vazio por dentro mas barulhento quando golpeado. Os respeitáveis jamais podem estar abertos à realidade, pois, como os desprezados, eles estão presos na preocupação com seu próprio aprimoramento. A felicidade é negada a eles, que evitam a verdade.
Não ser ganancioso e não ser generoso estão intimamente ligados. Ambos são um processo de autolimitação, uma forma negativa de autocentrismo. Para ser ganancioso, você precisa ser ativo, extrovertido; você deve lutar, competir, ser agressivo. Se você não tem essa iniciativa, não está livre da ganância, mas apenas fechado em si mesmo. A extroversão é um transtorno, uma luta dolorosa, portanto o autocentrismo é encoberto pela expressão não-ganancioso. Ser generoso com a mão é uma coisa, mas ser generoso com o coração é outra. A generosidade da mão é uma questão razoavelmente simples, dependendo do padrão cultural e assim por diante; mas a generosidade do coração é de importância muito mais profunda, exigindo percepção e entendimento prolongados.
Não ser generoso é também uma agradável e cega preocupação consigo mesmo, na qual não existe atividade exteriorizada. Esse estado de autopreocupação tem suas próprias atividades, como as de um sonhador, mas elas jamais lhe despertam. O processo de acordar é doloroso, e, portanto, jovem ou velho, você prefere ser deixado em paz para tornar-se respeitável, para morrer.
Assim como a generosidade do coração, a generosidade da mão é um movimento externo - geralmente doloroso, enganador e auto-revelador. A generosidade da mão é fácil de aparecer; mas a generosidade do coração não é uma coisa a ser cultivada, é a libertação de toda a acumulação. Para perdoar, precisa ter havido uma ofensa; e para ser ofendido, precisa ter havido os acúmulos do orgulho. Não existirá generosidade de coração enquanto houver uma memória referencial, do “eu” e o “meu”.
Krishnamurti