Nossas mentes estão recheados com tanto conhecimento que é quase impossível experienciar diretamente. A experiência do prazer e da dor é direta, individual; mas o entendimento da experiência é segundo o padrão de outras pessoas, das autoridades religiosas e sociais. Somos o resultado dos pensamentos e influências de terceiros; somos condicionados pela propaganda tanto religiosa quanto política. O templo, a igreja e a mesquita exercem uma estranha e sombria influência em nossas vidas, e as ideologias políticas dão sustância aparente a nossos pensamentos. Somos formados e destruídos pela propaganda. As religiões organizadas são propagandistas excelentes, usando de todos os meios para persuadir e, depois, controlar.
Somos uma massa de reações confusas e nosso centro é tão incerto quanto o futuro prometido. Simples palavras tem uma importância extraordinária para nós; elas tem um efeito neurológico cujas sensações são mais importantes do que o que está além do símbolo. O símbolo, a imagem, a bandeira e o som são totalmente importantes; substituição, não realidade, é nossa força. Lemos sobre as experiências dos outros, assistimos aos outros jogarem, seguimos o exemplo dos outros, citamos os outros. Estamos vazios em nós mesmos e tentamos preencher esse vazio com palavras, sensações, esperanças e imaginação; mas o vazio continua.
A repetição, com suas sensações, por mais agradáveis e nobres que sejam, não é o estado de experienciar; a constante repetição de um ritual, de uma palavra, de uma oração, é uma sensação gratificante para a qual é dado um termo nobre. Mas experienciar não é a sensação, e a reação sensorial logo cede lugar à realidade. O real, o que é, não pode ser entendido por meio de meras sensações. Os sentidos representam um papel limitado, mas o entendimento ou a experienciação estão além e acima dos sentidos. A sensação se torna importante apenas quando a experienciação cessa; aí as palavras são importantes e os símbolos dominam; depois a reprodução daquilo se torna fascinante. A experienciação não é uma continuação; pois o que tem continuação é sensação, em qualquer que seja o nível. Sua repetição dá a impressão de uma experiência nova, mas as sensações jamais podem ser novas. A busca do novo não se encontra nas sensações repetitivas. Ele toma forma somente quando há experienciação; a experienciação é possível apenas quando a ânsia e a busca por sensações cessam.
O desejo de repetir uma experiência é a qualidade limitadora da sensação, e o enriquecimento da memória é a expansão da sensação. O desejo pela repetição de uma experiência, quer seja própria ou de terceiros, leva à insensibilidade, à morte. A repetição de uma verdade é a mentira. A verdade não pode ser repetida, ela não pode ser propagada ou usada. Aquilo que pode ser usado e repetido não possui vida em si mesmo, é mecânico e estático. Uma coisa morta pode ser usada, mas não a verdade. Você pode matar e rejeitar a verdade primeiro e depois usá-la; mas não será mais a verdade. Os propagandistas não estão interessados em experienciar; eles estão interessados na organização das sensações – religiosas ou políticas, sociais ou privadas. O propagandista, religioso ou laico, não pode ser um orador de verdade.
A experienciação só vem com a ausência do desejo por sensação; a nomeação, a designação, precisa cessar. Não existe um processo de pensamento sem a verbalização; e estar preso na verbalização é ser um prisioneiro das ilusões do desejo.
Krishnamurti