segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A chama da atenção

A CHAMA DA ATENÇÃO
Nova Deli (1985)

Gostaria de assinalar que aqui não fazemos nenhuma classe de propaganda a favor de tal ou qual crença, ideal ou organização. Juntos estamos considerando o que ocorre no mundo que está fora de nós, e o fazemos não do ponto de vista europeu ou americano, ou de algum determinado interesse nacional. Vamos observar juntos, o que realmente está acontecendo no mundo. Estamos pensando juntos, porém, não como se pensássemos igual. Existe uma diferença entre pensar igual e pensar juntos. Pensar igual implica que temos chegado a alguma conclusão, a certa crença, a certos conceitos. Porém, pensar juntos é algo completamente diferente. Significa que vocês e quem lhes fala tem uma responsabilidade: considerar objetivamente, de maneira pessoal, o que está ocorrendo. Deste modo, estamos pensando juntos. O que lhe fala, ainda que esteja sentado sobre um palanque por razões de conveniência, não possui autoridade alguma. Por favor, devemos ser muito claros sobre este ponto. Ele não está tratando de convencê-los a respeito de nada. Não lhes pede que o sigam. Não é o guru de vocês. Não está defendendo nenhum sistema particular, ou uma determinada filosofia.

E, se temos de observar juntos, temos que estar livres de nosso nacionalismo. Nós, seres humanos, estamos relacionados uns com os outros, seja lá onde vivamos. Por favor, compreendam-no, vejam a seriedade, a urgência de tudo isto. Porque neste país as pessoas estão se tornando apáticas, completamente indiferentes ao que ocorre, absolutamente descuidadas, preocupadas somente com sua pequena salvação, sua pequena felicidade.

Portanto, em primeiro lugar, consideremos no que tem se transformado a consciência humana, porque nossa consciência é o que somos. O que vocês pensam, o que sentem, seus temores, seus prazeres, suas ansiedades, a insegurança que experimentam, a infelicidade, o abatimento, o amor, o pensar, o sofrimento e o medo final da morte, são o conteúdo da própria consciência; esse conteúdo é o que somos, é o que faz de cada um de nós o ser humano que é. A menos que compreendamos o seu conteúdo e passemos mais além – se é isso possível – não seremos capazes de atuar seria, básica e fundamentalmente a fim de produzir uma transformação, uma mutação nesta consciência.

Nós não temos criado a natureza, os pássaros, os mares, os rios, os formosos céus e as rápidas chuvas, não temos criado o tigre, o maravilho arvoredo. Não os temos criado – não é o momento de examinar como isso tem acontecido. E estamos destruindo os bosques, destruímos aos animais selvagens, cada ano estamos matando a milhões e milhões deles – certas espécies estão desaparecendo. Não temos criado a natureza – o cervo, o lobo – porém, o pensamento tem criado tudo o demais. O pensamento tem criado maravilhosas catedrais, os antigos templos e mesquitas e as imagens que neles se encontram. É o pensamento que tem criado estas imagens nos templos, nas catedrais, nas igrejas e também as inscrições que existem nas mesquitas; depois, esse mesmo pensamento rende culto àquilo que criou.

O pensar é um processo que nasce da experiência e do conhecimento. Escutem isto tranqüilamente, vejam se isso não é verdadeiro, real; então, o descubram por si mesmos, como se quem está falando atuasse com o um espelho no qual vem exatamente o que é sem distorção alguma; depois podem tirar o espelho e quebrá-lo. O pensar parte da experiência que se converte em conhecimento, o qual se acumula como memória nas células do cérebro; depois, da memória surgem os pensamentos e a ação. Tenham a bondade de ver isto por vocês mesmos, não repitam o que eu digo. Esta seqüência é um fato real: experiência, conhecimento, memória, pensamento, ação. Então, dessa ação aprendemos mais; existe, pois, um ciclo, e essa é a nossa prisão.

Como vocês observam? Tem observado livremente, abertamente a alguém, sem nenhuma palavra, sem nenhuma imagem? Tem observado dessa forma para a beleza de um arvoredo e o esvoaçar de suas folhas? Podemos então, aprender juntos como observar? Um não pode observar visualmente, oticamente, se sua mente se encontra ocupada – tal como a maioria de nossas mentes o está – com o artigo que tem que escrever no dia seguinte, ou com o que tem que cozinhar, ou com o emprego, ou com o sexo; ou se está ocupada com o modo de meditar, ou com o que as pessoas podem dizer. Como pode uma mente semelhante, estando ocupada desde manhã até a noite, observar alguma coisa?

Nossos cérebros estão sempre ocupados, jamais estão quietos. Para aprender como observar a nossa esposa, ao nosso próximo, ao nosso governo, como observar a brutalidade, a pobreza, os horrores das guerras, tem que haver liberdade para observar. Sem dúvida, nos opomos a ser livres porque isso nos atemoriza, temos medo de ficarmos sós.

Vocês está ouvindo a quem fala; que estão escutando, que estão reconhecendo – palavras, idéias que finalmente não tem significado algum? Tem visto por si mesmos a importância de não ser lastimados jamais? Isso implica não ter jamais, imagem alguma de si mesmo. Tem visto a importância, a urgência de compreender a relação e de ter uma mente que não esteja ocupada? Quando não se encontra ocupada, a mente é extraordinariamente livre, percebe uma grande beleza. Porém, a mente vulgar e mesquinha, a insignificante mente de segunda mão, está sempre ocupada com o conhecimento, ocupada em chegar a ser alguma coisa, em formular perguntas, em discutir, argumentar, jamais está quieta, jamais é livre uma mente ocupada. Quando existe uma mente assim, desocupada, dessa liberdade surge a suprema inteligência – jamais conseguida através do pensamento. 
Krishnamurti - Extraído do livro: LA LLAMA DE LA ATENCION

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