segunda-feira, 16 de maio de 2011

Uma Nova Maneira de Viver

Uma Nova Maneira de Viver

PARIS —1

Embora devamos desconfiar das semelhanças, não há muita diferença entre o Oriente e o Ocidente, os que vivem na Ásia e os ocidentais. Embora aqueles tenham filosofias e credos diferentes, diferentes costumes, hábitos e maneiras, são entes humanos como os do resto do mundo com seus sofrimentos, seus inumeráveis problemas, ansiedades, temores, entregues muita vez ao extremo desespero, em face da doença, da velhice e da morte. Estes problemas existem no mundo inteiro. Suas crenças e seus deuses não são diferentes dos deuses e crenças deste país ou de outros países ocidentais. Essas crenças não resolveram, fundamental, profunda e radicalmente, nenhum dos problemas humanos. Produziram uma certa cultura, boas maneiras, uma superficial aceitação de certas relações, porém, no fundo, na raiz, o homem não mudou muito nos últimos dois milhões de anos. O homem veio lutando através de todas estas idades, nadando contra a corrente da vida, sempre empenhado em batalha, conflito, luta, sempre a tatear, a buscar, a pedir, a exigir, a rogar, a procurar quem resolva para ele os seus problemas.
Vem isso ocorrendo há séculos e séculos e, como é bem evidente, não resolvemos os nossos problemas. Continuamos a sofrer; continuamos a tatear no escuro, a buscar, a pedir, a exigir que alguém nos venha mostrar o que devemos fazer, o que não devemos fazer, o que devemos pensar e o que não devemos pensar; a passar de uma crença para outra, de uma opinião ou extravagante ideologia para outra. Conhecemos bem isso, todos estes grupos e diferentes convicções, mas, interiormente, é a mesma e tremenda luta e ansiedade e desespero.
Talvez possamos abeirar-nos desses problemas de maneira diferente. Deve haver — e penso que há — um diferente acesso à existência, uma diferente maneira de viver, sem esta batalha, sem este medo, sem estes deuses já de todo insignificantes, sem estas ideologias — comunistas ou religiosas — que já quase nada significam. Provavelmente, elas nunca tiveram muita significação. Ajudaram o homem a civilizar-se, a tornar-se mais afável, mais amigável, porém, basicamente, o homem não foi domado, nem mudou fundamentalmente. Continuamos a ser brutais, a guerrear-nos, tanto exterior como interiormente. Houve quinze mil guerras nos últimos cinco mil anos — quase três guerras por ano! A humanidade foi sempre truculenta, odienta, sempre viveu a competir, a lutar por posição, prestígio, poder, domínio. Isso todos nós conhecemos e aceitamos como a norma de nossa vida — guerra, medo, conflito, uma existência superficial.
Parece-me que deve haver uma diferente maneira de viver, e é disto que vamos tratar nestas cinco reuniões: como promover uma revolução, não exterior, porém interior, já que a crise se verifica na consciência; não é econômica ou social. Estamos sempre a reagir superficialmente ao desafio exterior. Devemos, isso sim, reagir adequadamente à crise interior, que se veio avolumando através das idades. As filosofias e teologias — intelectuais, engenhosas e sutis, como são — e as diferentes fugas que oferecem as religiões por meio dos dogmas, não podem de modo nenhum resolver estes problemas. Quanto mais sério o indivíduo, tanto mais se lhe tornam patentes estes problemas. Entendo por “sérios” aqueles que são capazes de enfrentar e de fato estão enfrentado e resolvendo os problemas, sem adiá-los, sem fugi-los, sem tentar resolvê-los intelectual, verbal ou emocionalmente. A vida é só para os homens sérios, e não para os que tratam meramente de folgar, de reagir superficialmente, de fugir à profunda crise interior.
Agora que o problema está mais ou menos formulado, embora possamos examiná-lo mais profundamente — como talvez o façamos — qual a solução? Quanto mais claro se formula o problema, tanto mais clara se torna a solução. Não estou nada certo se estamos percebendo o problema muito claramente. Procuramos resolvê-lo de acordo com nosso temperamento, nossa educação, o condicionamento próprio da sociedade em que fomos criados. Procuramos solucionar a questão fracionariamente. Se somos muito intelectuais, procuramos resolvê-la intelectualmente, viver pelo intelecto. Se somos emotivos, sentimentais, piegas, ou se somos artistas, procuramos resolvê-lo à nossa maneira, considerando as coisas pelo ângulo emocional, sentimental. Estamos olhando o problema da existência fragmentáriamente, em seções, divisões. Não parecemos capazes de olhá-lo em sua totalidade, de olhar a vida como um todo; e uma solução fragmentária nunca é uma solução. Não podemos resolver todos estes problemas segundo nossos temperamentos, nossos conceitos e ideologias. O problema excede em muito a reação individual.
O indivíduo é a “entidade local”; é o francês, o inglês, o indiano, etc. — uma entidade “localizada”. Mas o ente humano, conquanto “localizado” num dado país, faz parte do mundo. Precisamos também de clareza a este respeito, isto é, sobre a diferença entre “indivíduo” e “ente humano”. Se se compreende o ente humano, o indivíduo tem então seu lugar próprio, ou nenhum lugar. Mas, se meramente cuidamos de cultivar o “quintal” de nossa própria individualidade, conservando-o em boa ordem e limpo — isso é de muito pouca significação, em relação à existência humana total. Talvez, se se compreender o ente humano, seja possível compreender o lugar que cabe ao indivíduo, mas a compreensão individual não tem possibilidade de compreender o ente humano total. O problema se torna muito mais claro, se posso olhá-lo não fragmentáriamente — se não o olho como cientista, artista, filósofo, teólogo, etc., porém como um ente humano que tem de viver neste mundo e dele não deve fugir; se tenho a possibilidade de olhá-lo como um todo.
Como antes disse, vivemos uma vida de conflito, sempre a indagar e a buscar, sempre a pedir, a esperar; sem jamais por fim ao nosso sofrimento, sem jamais acabar com a violência, tanto no interior como no exterior. Há séculos e séculos que fazemos esse jogo. As religiões ensinaram ao homem que ele deve lutar, fazer tremendos esforços, lidar, batalhar entre o bem e o mal, seguir o que é nobre e evitar o que é ignóbil. Nossa vida, como a conhecemos — real, e não teóricamente — é uma série de conflitos, contradições, tensões, desejos opostos, e não parecemos capazes de escapulir desta rede. Existe alguma maneira completamente diferente de atender a este problema?
Penso que existe. Não sei de que maneira estais escutando o que se está dizendo. Estais meramente a ouvir uma série de palavras, idéias, conceitos, e a concordar ou discordar, a discutir mentalmente com o orador; ou estais, mediante o ato de escutar, tomando conhecimento do verdadeiro estado de vossa vida, como ente humano? Se estais reagindo apenas intelectualmente ao que se está dizendo, nesse caso só tentais indentificar-vos com o problema; por conseguinte, sois diferente do problema. Acho bom examinarmos isso um pouco.
Existe a questão da ansiedade. Examinemo-la, agora. Há em nossa vida um sentimento de desespero ante a futilidade, a monotonia da vida, de nossa existência rotineira, mecânica — e, em conseqüência, ansiedade. Intelectualmente, podemos perceber que estamos ansiosos e nos separamos dessa ansiedade. O observador é então diferente da coisa observada. Dizemos “Eu estou ansioso”, sendo “eu” diferente da ansiedade. O pensador, o observador é diferente daquilo a que observa ou a cujo respeito reflete. Há uma divisão entre o observador, o pensador, e o pensamento, a coisa observada. Temos de averiguar de que maneira escutamos. Se escutamos como observadores, como pensadores, existe então uma coisa sobre a qual estamos pensando, ou que estamos observando. Coisa diferente é escutar com atenção. A atenção não é intelectual ou emocional; a atenção não se deixa dirigir. Se dizemos “Ficarei atento”, trata-se então de um mero ato de vontade, que, por sua vez, separa. Mas, se escutamos com atenção, não há nem a atividade fragmentária do intelecto nem atividade sentimental; há atenção completa, que não é puramente intelectual, emocional ou física. A atenção é física, intelectual e emocional: uma atividade total. Nela, estão os nervos e as supersensíveis células cerebrais extraordinariamente despertos, atentos. Nesse estado de atenção, pode-se escutar. Tudo o que é falso é posto de lado, por ser completa mente sem valor. O que é verdadeiro fica e floresce, naquela atenção.
Espero estejais experimentando, ao mesmo tempo que esta mos falando. Foi por isso que eu disse que não deveis, meramente, concordar nem discordar do orador ou tentar interpretar o que está dizendo. Vereis, enquanto fordes ouvindo estas cinco palestras, que ele não vos estará oferecendo idéias, nem fórmulas, nem conceitos. E, se permanecerdes atentos, totalmente atentos, estabelecer-se-á a desejada relação entre o orador e vós; já não sereis meros ouvintes, pois estaremos viajando juntos. Isto é muito diferente de estar concentrado; a concentração é egocêntrica — a atenção não é.
A questão que estamos considerando alude à terminação deste nosso perene conflito. Estamos averiguando se alguma possibilidade existe de vivermos, neste mundo, inteiramente livres de conflito. Para descobrir se isso é possível, temos de prestar atenção. Não há atenção, se dizeis: “Estou de acordo”, ou “Até aqui, de acordo, mas não irei mais longe”, “Isto me agrada; isto não me agrada”, “Sou escritor e preciso interpretar tudo isso de uma certa maneira”. Se pudermos prestar atenção, será ótimo, pois estabeleceremos entre nós um estado de comunhão. Nessa comunhão, não há instrutor nem discípulo — pois isso também é infantil. Não há seguidor, nem ninguém que diz: “Fazei isto, fazei aquilo!”. Como entes humanos, já passamos por tudo isso através de séculos e mais séculos. Tivemos salvadores, Mestres, deuses, crenças, religiões, às dúzias, e eles não resolveram os nossos problemas. Continuamos desditosos como sempre fomos, seres atribulados, confusos, sofredores, e nossa vida se tornou muito insignificante. Podemos ser altamente engenhosos, capazes de falar proficientemente sobre qualquer coisa, mas, interiormente, é só agitação, interminável solidão, confusão que se aprofunda e expande cada vez mais e sofrimento que parece nunca terá fim.
Formulado o problema — que nos é bastante familiar — existe uma maneira diferente de considerá-lo? A velha maneira não nos oferece, evidentemente, nenhuma solução. Isso temos de perceber com absoluta clareza, a fim de abandonar mos definitivamente a velha maneira, o velho caminho que nos oferecem as religiões, com suas crenças, dogmas, salvadores, Mestres, vigários, arcebispos, etc, etc. Quer se trate de religião católica, quer da protestante, hinduísta, budista, esse caminho tem de ser abandonado inteiramente, uma vez que não leva o homem à libertação. A libertação é coisa muito diferente da revolta. Na hora atual, o mundo inteiro se acha em revolta, principalmente a juventude, mas essa revolta não é libertação. Libertação é muito diferente disso; não é libertação de alguma coisa. Se é de alguma coisa, é revolta. Se me revolto contra a religião a que pertenço, essa reação me leva a abraçar outra religião que penso oferecer-me mais liberdade, mais inspiração, novas séries de palavras, de dogmas e ideologias; contudo, tal reação é incapaz de exame. Só a mente que está libertada, mas não em reação a alguma coisa, é capaz de examinar, não só o espírito humano tal qual é, mas também toda a estrutura psicológica da ordem social de que faz parte um dado indivíduo — capaz de questionar, de duvidar, de ser cética. Questionar, indagar, averiguar — tudo isso exige uma grande abundância de liberdade, e não uma grande abundância de reação. Onde há liberdade, há uma paixão, uma intensidade totalmente diversas da intensidade e da paixão da reação. A paixão, a intensidade, a vitalidade, o vigor que a liberdade proporciona não pode ter fim, ao passo que o entusiasmo, o interesse, a vitalidade da reação está sujeita a mudanças e variações.
Para descobrirmos se existe outro caminho, uma diferente maneira de viver — não uma diferente maneira de agir e proceder, porém de viver, que é agir — temos naturalmente de voltar as costas às coisas a que estamos escravizados. Penso ser esta a primeira coisa a fazer, porque, de outro modo, não há possibilidade de exame, observação. Como pode a mente a que se impôs tamanha carga de condicionamento, em dois milênios de propaganda, ou dez milênios de tradição, como pode essa mente observar? Só é capaz de observar através de seu condicionamento, de suas ambições, de suas ânsias de preenchimento. Tal exame é inteiramente sem vitalidade, sem nada; jamais descobrirá coisa nova. Mesmo no campo científico, ainda que se possuam prodigiosos conhecimentos, é necessário, para se poder descobrir coisa nova, pôr de parte, temporariamente, o “conhecido”; de contrário, nada de novo será descoberto. É perfeitamente óbvio que, para se poder ver o novo claramente, o passado, o conhecido, o sabido, tem de desaparecer.
Estamo-nos perguntando — vós e eu — se existe alguma maneira inteiramente nova de proceder, sem conflito, nem contradição. Onde há contradição, há esforço, e onde há esforço há conflito — que é resistência ou aceitação. Resistência é abrigar-nos atrás de idéias; aceitação é imitação. Estamos sempre a nadar contra a corrente; assim é nossa vida. Podemos mover-nos, viver, ser, funcionar de maneira tal, que não tenhamos de lutar contra nenhuma corrente? Quanto mais conflito existe, tanto mais tensão. Da tensão resultam neuroses e psicoses de toda espécie. Um ente humano em estado de tensão poderá ter uma certa capacidade, e essa capacidade criada pela tensão poderá expressar-se em literatura, música, de uma dúzia de maneiras diferentes. Estou procurando transmitir-vos ou, melhor, comunicar-vos(1) alguma coisa, não verbalmente; ainda que seja necessário o emprego de palavras, estas, como sabemos, não são fatos, coisas. Em vez de tentarmos sempre o acesso à realidade por meio de disciplinas,conflito, aceitação, rejeição, de todas as coisas que o homem tem praticado através dos séculos, a fim de descobrir uma “certa coisa”, há possibilidade de “explodirmos” e dessa explosão, nascer uma mentalidade inteiramente nova? Pode nossa velha mente, que ainda conserva o “animal”, essa velha mente que está sempre a buscar conforto e segurança, sempre medrosa, ansiosa, insulada, dolorosamente cônscia de suas limitações, pode essa mente acabar imediata mente e uma nova mente começar a operar? Está claramente enunciado o problema?
Em outras palavras: O pensamento criou estes problemas. O pensamento “pensou”: “Tenho de achar Deus”; “Tenho necessidade de segurança”; “Esta é minha pátria, não é vossa pátria”; “Vós sois alemão”; “Eu sou francês”; “Sois russo; sois comunista; sois isto, aquilo”; “Meu Deus, vosso Deus”; “Eu sou escritor; vós não sois escritor”; “Sois inferior, e eu sou superior”, “Sois espiritual e eu não sou espiritual”. O pensamento construiu a estrutura social em que estamos encerrados, da qual fazemos parte. O pensamento é o responsável por toda esta confusão. O pensamento a criou, e se o pensamento “diz”: “Tenho de modificar tudo isso, para ser diferente”, criará ele uma estrutura talvez diferente a alguns respeitos, porém semelhante, porque se trata ainda de ação do pensamento. O pensamento dividiu o mundo em nacionalidades e grupos religiosos; o pensamento gerou o medo. O pensamento “diz”: “Sou muito mais importante do que vós”; “diz” também: “Devo amar o meu próximo”. O pensamento criou esta hierarquia de sacerdotes, salvadores, deuses, conceitos, fórmulas; e se o pensamento            ‘diz”: “Isto está errado”; “Criarei uma nova ordem de atividades, uma nova ordem de crenças, uma nova ordem de estruturas” — elas serão semelhantes às velhas, embora um pouco diferentes. Pois são ainda resultado do pensamento.
O pensamento criou um mundo comunista e agora o está tornando diferente, está promovendo uma diferença no comunismo, que está virando burguês, menos revolucionário. O pensamento está tornando o comunismo mais brando, mais “gentil”. Sempre o pensamento — a criar e a destruir.
Para se descobrir alguma coisa totalmente diferente, não só é necessário compreender a origem do pensamento, o começo do pensamento, mas também descobrir se é possível o pensamento cessar, a fim de que se ponha em movimento um novo processo. Esta é uma questão importantíssima. Não há concordar nem discordar, a respeito dela; nada se sabe; talvez, mesmo, nunca tenhais pensado nela e, portanto, ninguém pode dizer que compreende ou que não compreende. Pode-se dizer: “Sim, compreendo; quer dizer, verbalmente, intelectualmente, estou-vos compreendendo” — mas isso é coisa totalmente diferente da real compreensão do fato. O pensamento criou guerras, com dividir os homens em franceses, alemães, italianos, indianos, russos. Dividiu o mundo em campos antagônicos, áreas de crença, com seus salvadores e deuses — cada uma com seu Deus próprio! Os homens têm lutado uns contra os outros. Tudo isso foi o pensamento que criou; e “diz”, então: “Estou vendo isto; é um fato; agora criarei um mundo diferente”. Foi o que se tentou fazer, no mundo comunista. Toda revolução fez igual tentativa, para acabar no mesmo círculo de antes.
O pensamento criou filosofias e fórmulas, em conformidade com as quais procuramos viver. Criou uma estrutura psicológica de prazer, estabeleceu certos valores baseados no prazer. Isso não significa que sou contra o prazer, porém, sim, que de vemos investigar, em seu todo, a estrutura do prazer. O pensamento não pode criar um mundo novo. Mas isso não significa que o sentimento o criará; pelo contrário, não pode criá-lo. Temos de encontrar uma energia nova, energia não criada pelo pensamento, uma energia diferente, que funcione numa nova dimensão. As próprias atividades dessa energia deverão desenvolver-se naquele mundo diferente, não num mundo-refúgio, nos mosteiros, nos píncaros do Himalaia, numa caverna, em alguma atividade absurda. Vamos averiguar isso. Estou bem certo de que há uma diferente maneira de viver, porém não num mundo em que o pensamento funciona. Temos de remontar às origens do pensamento, aos começos do pensamento, descobrir o que significa pensar, qual a sua origem, o seu mecanismo. Quando a mente, a entidade total, aplica toda a sua atenção a compreender a estrutura do pensamento, começamos então a adquirir uma energia de espécie diferente. Isso nada tem que ver com autopreenchimento, com buscar, desejar; tudo isso desaparece. Nosso principal interesse, aqui, é compreendermos juntos. Não ficareis apenas a ouvir, e o orador a proferir certas palavras. Vamos investigar juntos a origem do pensar.
Não sei se já notastes como o pensamento fortalece o prazer. Quanto mais pensamos numa coisa que consideramos aprazível, tanto mais lhe damos vitalidade, energia, força variável. Quando o pensamento luta contra um hábito — não importa, se bom, se mau — a energia criada por esse pensar é inteiramente diversa daquela energia que compreende a inteira estrutura do pensamento.
Vamos descobrir juntos, por nós mesmos. Não precisamos de ser ensinados por alguém, o que seria absoluta falta de madureza. Vamos, juntos, descobrir a origem do pensamento e averiguar se é possível o pensamento cessar quando necessário, e funcionar com precisão, racional e claramente, quando também necessário. Transbordamos agora do conhecido para o desconhecido, e nos vemos confusos. Onde o pensamento tem de funcionar vigorosa e não emocionalmente, como quem executa um trabalho técnico, não há reações emocionais. Ensina-se-vos uma técnica, e nela funcionais com precisão. Essa precisão não tem entrada na esfera em que se compreende a origem do pensar. Lá, ela introduz a confusão. O pensamento pode funcionar plena e completamente, racional e sãmente, livre de estados neuróticos, onde isso é necessário; mas, há uma esfera na qual o pensamento não funciona, em absoluto; nessa esfera pode realizar-se uma revolução, surgir o novo. É o que iremos descobrir, por nós mesmos, no correr destas palestras.

(1)   Comunicate: comunicar, e comungar. (N. do T.)

Krishnamurti – O Encontro com o Eterno – ICK – Páginas 68 a 77

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