sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Sobre tédio, descontentamento e insatisfação

Por que nunca estão satisfeitos os entes humanos? Não é porque estão em busca da felicidade e porque pensam que, pela constante variação, serão felizes? Passam de um emprego para outro, de um estado de relação para outro, de uma religião ou ideologia para outra, pensando que, com esse constante movimento de mudança, encontrarão a felicidade; ou ainda, procuram um canto isolado da vida, e aí se deixam estagnar. Ora, por certo, o contentamento é coisa muito diferente. Só se torna existente quando vêdes a vós mesmo, tal como sois, sem nenhum desejo de mudança, nenhuma condenação ou comparação - que não significa aceitar simplesmente o que se vê e deitar-se a dormir. Mas, quando a mente já não está comparando, julgando, avaliando e é, portanto, capaz de ver o que é, de instante em instante, sem desejar alterá-lo - nesse próprio percebimento se encontra o Eterno.
Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano
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A coisa real é o descontentamento do homem, o descontentamento inevitável. Ele é algo precioso, uma jóia de grande valor. Mas o homem tem medo do descontentamento, ele o dissipa, o usa ou o deixa ser usado para produzir certos resultados. O homem está amedrontado com seu descontentamento, mas este é uma jóia preciosa, de valor inestimável. Viva com ele, observe-o dia após dia, sem interferir com os seus movimentos, então é como uma chama consumindo toda a impureza, deixando o que não tem morada nem medida. Leia tudo isso com sabedoria.
Krishnamurti – Cartas a uma jovem amiga – Editora Terra Sem Caminho
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A mente individual é uma mente revoltada e, por conseguinte, não busca segurança. Mente revolucionária não é o mesmo que mente revoltada. A mente revolucionária visa alterar as coisas de acordo com um certo padrão, e essa mente não é uma mente revoltada, não é uma mente que esteja insatisfeita consigo mesma.

Não sei se vocês já observaram que coisa extraordinária é a insatisfação. Vocês conhecem muitos jovens insatisfeitos. Eles não sabem o que fazer; sentem-se miseráveis, infelizes, revoltados, buscando isto, tentando aquilo, fazendo perguntas intermináveis. Mas quando crescem, arrumam um emprego, casam e esse é o fim de tudo. Sua insatisfação fundamental é canalizada e, depois, a infelicidade assume o comando. Quando jovens, seus pais, seus mestres, a sociedade, todos lhe dizem que não se sintam insatisfeitos, que descubram o que querem fazer e o façam — tudo, porém, dentro dos padrões. Esse tipo de mente não é revoltada e você precisa de uma mente realmente revoltada para encontrar a verdade — não de uma mente conformada. Revolta significa paixão.
Krishnamurti - Sobre Deus - Cultrix
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O descontentamento é a chama que consome a escória da satisfação, mas a maioria de nós procura dissipá-la de vários modos... Quando entendemos a natureza do verdadeiro descontentamento, vemos que a atenção faz parte dessa chama ardente que consome a mesquinhez e deixa a mente livre das limitações das buscas e satisfações egoístas.
Krishnamurti - O Verdadeiro Objetivo da Vida - Cultrix
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Por que nunca estão satisfeitos os entes humanos? Não é porque estão em busca da felicidade e porque pensam que, pela constante variação, serão felizes? Passam de um emprego para outro, de um estado de relação para outro, de uma religião ou ideologia para outra, pensando que, com esse constante movimento de mudança, encontrarão a felicidade; ou ainda, procuram um canto isolado da vida, e aí se deixam estagnar. Ora, por certo, o contentamento é coisa muito diferente. Só se torna existente quando vêdes a vós mesmo, tal como sois, sem nenhum desejo de mudança, nenhuma condenação ou comparação - que não significa aceitar simplesmente o que se vê e deitar-se a dormir. Mas, quando a mente já não está comparando, julgando, avaliando e é, portanto, capaz de ver o que é, de instante em instante, sem desejar alterá-lo - nesse próprio percebimento se encontra o Eterno.
Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano
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Ficaremos satisfeitos com as coisas necessárias, no seu sentido exato - que é estar livre do desejo de poder - quando tivermos encontrado o imperecível tesouro interior a que chamamos Deus, a verdade, ou como quiserdes. Se puderdes encontrar essas riquezas imperecíveis dentro de vós, vos sentireis satisfeitos com poucas coisas, e essas poucas coisas podem ser fornecidas.
Krishnamurti - Novo acesso à Vida
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É a indagação constante, a autêntica insatisfação que faz nascer a inteligência criadora; mas é extremamente difícil manter acesos a investigação e o descontentamento; a maioria dos pais não quer que os filhos tenham essa espécie de inteligência, porque é muito desagradável morar com alguém que está sempre pondo em dúvida os valores convencionais.
Krishnamurti - A Educação e o Significado da Vida
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Em primeiro lugar, para descobrir qualquer coisa, tem que haver um grande descontentamento, um grande questionamento, infelicidade; e muito poucas pessoas no mundo, quando estão descontentes, desejam acentuar esse descontentamento, desejam passar por ele para descobrir. Geralmente as pessoas querem o oposto. Se estão descontentes, querem felicidade, ao passo que, por mim – se me permitem ser pessoal – eu não queria o oposto, eu queria descobrir; e assim gradualmente através de vários questionamentos e através de um atrito contínuo, cheguei a compreender isso a que se chama a verdade ou Deus. Espero ter respondido à pergunta.
Krishnamurti - Auckland, Nova Zelândia 6 de abril, 1934
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Quando se sentem incompletos, sentem-se vazios, e desse sentimento de vazio surge o sofrimento; devido a essa incompletude vocês criam padrões, ideias, para sustentá-los no vosso vazio, e estabelecem esses padrões e ideais como sendo a vossa autoridade externa. Qual é a causa interior da autoridade externa que criam para si mesmos? Primeiro, sentem-se incompletos e sofrem por causa dessa incompletude. Enquanto não compreenderem a causa da autoridade, não passarão de uma máquina imitativa, e onde existe imitação não pode existir a preciosa realização da vida. Para compreender a causa da autoridade deverão acompanhar o processo mental e emocional que a cria. Em primeiro lugar sentem-se vazios e para se livrarem desse sentimento fazem um esforço; ao fazer esse esforço estão somente a criar opostos; criam uma dualidade que apenas aumenta a incompletude e o vazio. Vocês são responsáveis por autoridades externas tais como religião, política, moralidade, por autoridades tais como padrões económicos e sociais. Devido ao vosso vazio, à vossa incompletude, criaram estes padrões externos dos quais tentam agora libertar-se. Evolucionando, desenvolvendo, crescendo longe deles, querem criar uma lei interna para vocês próprios. À medida que vão compreendendo os padrões externos, querem libertar-se deles e desenvolver o vosso próprio padrão interno. Este padrão interno, a que vocês chamam de “realidade espiritual”, vocês identificam-no como uma lei cósmica, o que significa que não criaram senão outra divisão, outra dualidade.
Krishnamurti -Alpino, Itália - 1ª palestra 1 de julho, 1933
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Acho que é importante compreender-se o problema do descontentamento. Talvez encontremos a solução correta de nossos enormes problemas se pudermos investigar o significado profundo do descontentamento. Quase todos nós estamos insatisfeitos com nós mesmos, nosso ambiente, nossas idéias, nossas relações. Desejamos efetuar uma modificação. Há descontentamento geral, do simples aldeão ao homem mais letrado — se não está subordinado ao seu poder, se não é escravo da sua ciência. Alastra-se por toda a parte uma insatisfação que nos leva a executar toda sorte de ações, e queremos encontrar um caminho que nos conduza à satisfação. Se estais insatisfeito, desejais encontrar um caminho para a felicidade. Se estais batalhando dentro em vós mesmo, aspirais a encontrar o caminho da paz. Estando insatisfeito, descontente, desejais uma solução que seja satisfatória. Por conseguinte, a mente está sempre a tatear, sempre a sondar, em busca da Verdade — em busca da solução verdadeira para o seu descontentamento. Uns encontram a solução na satisfação própria, num alvo, num objetivo na vida, por eles estabelecido; e tendo descoberto um meio por onde encaminhar o seu desejo, pensam ter encontrado o contentamento." Krishnamurti - 25 de fevereiro de 1953
Krishnamurti -Autoconhecimento - Base da Sabedoria
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Procuramos felicidade através das coisas, pelas relações, por meio de pensamentos e idéias. Assim as coisas, as relações e idéias tornam-se todas importantes, e não a Felicidade. Quando se procura felicidade através de alguma coisa, então, a coisa torna-se de valor superior a própria felicidade. Quando apresentado desta forma o problema parece simples e é simples. Procuramos felicidade na propriedade, na família, no nome e então, a propriedade, a família, a idéia torna-se todas importantíssimas, mas sendo a felicidade procurada por um algum meio, o meio destrói o fim. A felicidade pode ser achada por algum meio qualquer, através de qualquer coisa feita pela mão ou pela mente? As coisas, as relações e idéias são claramente não-permanentes, estamos sempre insatisfeitos com elas. As coisas são impermanentes, se acabam e são perdidas; o relacionamento é um constante atrito e a morte é o fim; idéias e convicções não têm nenhuma estabilidade, não são permanentes. Procuramos felicidade nisso e ainda não percebemos sua impermanencia. Portanto, o sofrimento se torna nossa constante companheira superando nosso problema. Para descobrir o verdadeiro sentido da felicidade, temos de explorar o rioa do autoconhecimento. Autoconhecimento não é um fim em si mesmo. Existe a fonte deste rio? Cada gota de água do seu início até o fim é que faz o rio. Imaginar que acharemos felicidade na fonte é um equivoco. Ela se encontra onde você está no rio do autoconhecimento.
Krishnamurti - O Livro da Vida
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Viver é amar e morrer

Morrer faz parte do viver. Não se pode amar sem morrer; morrer para tudo o que não é amor, para todos os ideais, que são projeções de nossos próprios desejos; morrer para todo o passado, para a experiência - afim de podermos saber o que significa o amor e, por conseguinte, o que significa o viver.
Assim, viver, amar e morrer são a mesma coisa, a qual consiste em viver integralmente, completamente, agora. Há então ação que não é contraditória, produtiva de dor e sofrimento; há viver, amar e morrer - ação. Essa ação é ordem. E se vivermos dessa maneira - como devemos, não em ocasiões fortuitas, mas todos os dias, todos os minutos, teremos a ordem social, haverá a unidade humana, e os governos serão exercidos na base dos computadores e não pelos críticos, com suas ambições e condicionamentos pessoais. Assim, viver é amar e morrer.

Krishnamurti - O vôo da águia

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Conhecimento e Conflito nas Relações Humanas


Q: Que lugar tem o conhecimento no relacionamento?

Deve-se estar livre do conhecido caso contrário o conhecido é meramente a repetição do passado, a tradição, a imagem. O observador é tradição, o passado, a mente condicionada que olha as coisas em si mesma, no mundo. Quando o observador observa ele o faz, portanto, com memórias, experiência, mágoas, desesperos, esperanças com todo o fundo do conhecimento. Sempre que ele opera com esse conhecimento nas relações humanas há divisão e, portanto, conflito.

É possível libertar-se do eu?

A medida que se vive, observa-se que esse centro, esse "EU" , é a essência de todos os problemas. Observa-se, também, que ele é a essência de todo prazer, medo, e tristeza.

"Como escapar desse centro para ser realmente livre - de forma absoluta e não relativa?"

"É possível livrar-se totalmente desse centro?"

Tentando impor algo a si mesmo, o "EU" , que se identifica com esse esforço, é capturado por ele e diz: "Eu consegui" , mas esse "EU" ainda é o centro.

"Se você não deve se esforçar porque acredita que, quanto maior o esforço feito, maior será a resistência do centro, então, o que fazer?"

"Há um verdadeiro "EU" , separado do "EU" criado pelo pensamento através de suas imagens?"

"É possível libertar-se do "EU" ?"

"Sem tornar-se distraído, de certo modo louco?"

Em outras palavras: é possível ser totalmente livre de apegos?, o que é um dos atributos, uma das qualidades do "EU". As pessoas são apegadas à própria reputação, ao próprio nome, às próprias experiências. São apegadas ao que dizem. Se você quer realmente libertar-se do "EU", isso significa ausência de laços; o que não que dizer que você se torne desinteressado, indiferente, insensível, que se feche em si próprio, pois tudo isso é uma outra atividade do eu. Antes, ele estava apegado; agora, ele diz: "Eu não me apegarei". Esse é ainda um movimento do "EU". Quando você está realmente desapegado, mas sem esforço, de uma forma profunda, básica, então, desse profundo senso de desapego nasce a responsabilidade, o profundo senso de responsabilidade.

Você está disposto a isso? Esta é a questão. Podemos discutir eternamente, usar palavras diferentes, mas quando chega a hora de pôr isso em prática, de agir, parece que não queremos fazê-lo; preferimos continuar como somos, com o status quo ligeiramente modificado, mas levando adiante nossos conflitos.

Libertar-se da própria experiência, do próprio conhecimento, da própria percepção acumulada - isso é possível se você se empenhar energicamente. E não toma tempo. Essa é uma de nossas desculpas: precisamos ter tempo para sermos livres. Quando você percebe que um dos maiores fatores do "EU" é o apego, e observa o que ele faz ao mundo e ao seu relacionamento com os outros - desavenças, separação, toda a fealdade de um relacionamento - se você percebe a verdade sobre o apego, então você estará livre dele. Sua própria percepção o libertará. Você está disposto a isso?

Krishnamurti - Perguntas e respostas - Ed. Cultrix
Autor - Jiddu Krishnamurti

O amor não é prazer

Sem a compreensão do prazer você nunca poderá compreender o amor. O amor não é prazer. Amor é algo completamente diferente. E, como disse, para compreender o prazer, você tem que aprender sobre ele. Para a maioria de nós, para cada ser humano, o sexo é um problema. Por que? Ouça isto com muito cuidadosamente. Porque não podendo resolvê-lo, você foge disso. O sannyasi foge disto fazendo voto de celibato, via negação. Por favor veja o que acontece com uma mente assim. Ao negar algo que é uma parte de seu todo - as glândulas e tudo o mais - suprimindo isto, você se torna ácido, e existe uma batalha constante em andamento dentro de você. Como já falamos, até parece que só há dois modos de abordar qualquer questão: suprimindo isto ou fugindo disto. Suprimir isto realmente é a mesma coisa que fugir para longe disto. E nós temos nas atividades do dia-a-dia toda uma rede de fugas - muito complexa, intelectual, emocional. Há várias maneiras de fugir, nas quais nós não entraremos agora. Mas nós temos este problema. O sannyasi escapa disto de uma forma, mas ele não resolve nada, ele suprime fazendo um voto, e o problema inteiro fica efervescendo dentro dele. Ele pode vestir a túnica da simplicidade, mas isso também se tornou um assunto importantíssimo para ele, tal como o é para o homem que vive uma vida comum. Como você resolve este problema?

Autor: Krishnamurti - O Livro da Vida

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Estabelecer primeiro um relacionamento correto com o homem

Você nunca o encontrará se você procurá-lo. Você nunca o encontrará se você o perseguir. Você nunca o encontrará se a sua intenção ao ver a beleza da terra, ao ver a luz refletida na água, ao ver a linha perfeita de uma montanha, se você espera, vendo essas coisas, encontrá-lo. Você nunca encontrará porque não se pode encontrá-lo através de qualquer coisa, através do seu sacrifício, através da sua devoção, através da sua meditação, através da sua virtude. Você nunca chegará a ele porque a sua motivação está toda errada, porque você quer encontrá-lo, não no viver, mas algum outro lugar.

Você precisa estabelecer primeiro um relacionamento correto com o homem, o que significa que precisa saber o que significa o amor, o que significa ser compassivo, o que significa ser generoso quando se tem bastante, o que significa compartilhar com outro o pouco que você tem, estabelecer essa maravilhosa ordem na vida, na vida cotidiana.

Krishnamurti in India 1970-71, p157

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Observação

Podemos nos libertar de sermos programados e olhar? Se você olha como cristão, democrata, comunista, socialista, católico ou protestante, que são todos vários preconceitos, então você não será capaz de entender a enormidade do perigo, a crise que estamos enfrentando. Se vocês pertencem a um determinado grupo, seguem um determinado guru ou estão entregues a uma determinada forma de ação, então,porque foram programados, serão incapazes de olhar para as coisas como elas são na realidade. Somente se vocês não pertencerem a nenhuma organização, a nenhum grupo, a nenhuma religião ou nacionalidade em particular é que poderão realmente observar. Se vocês acumularam um grande conhecimento, dos livros e da experiência, as suas mentes já foram preenchidas, os seus cérebros estão repletos de experiência, das suas tendências particulares, e assim por diante, tudo o que vai lhes impedir de olhar. Podemos nos libertar de tudo isso para olhar o que na realidade está acontecendo no mundo? Olhar para o terror e as terríveis divisões religiosas sectárias, um guru se opondo a outro guru estúpido, a vaidade que há por trás de tudo isso, é estarrecedor. Você pode olhar para si mesmo não como um ser humano separado, mas como um ser humano que é, na realidade, toda a humanidade restante?

Ter esse sentimento significa que você tem um grande amor pelos seres humanos.


J. Krishnamurti - Livro: A Rede do Pensamento

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sobre o Amor e a Morte

O amor não está em nenhuma relação com o tempo. Não se pode cultivar o amor. O prazer pode ser cultivado, e é isso o que estais fazendo; e o que temeis é o findar do prazer. Por conseguinte, o mais alto grau de prazer que conheceis, afora o prazer sexual, é o imaginar uma certa coisa, um Deus, para lhe renderdes devoção. Entendeis? Assim, para descobrirdes a beleza do amor e da morte, deveis morrer todos os dias para todas as lembranças que tendes. Experimentai isso, experimentai morrer para a lembrança de vosso prazer. Tomai um dos vossos prazeres e o abandonai instantaneamente. É isso que a morte fará. Não se discute com a morte, não se pode dizer-lhe: "Deixai-me umas poucas lembranças". Deveis morrer todos os dias, para conhecerdes a beleza desse findar. Surge, então, uma coisas totalmente nova e diferente. Mas, não descobrireis essa coisa se não souberdes o que significa viver sem esforço.

Autor: Krishnamurti - O Novo Ente Humano - ICK

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Como K chegou ao seu grau de compreensão?

Pergunta: Pode dizer-nos como chegou a este grau de compreensão?

Krishnamurti: Receio que fosse demorar muito tempo, e pode ser muito pessoal. Em primeiro lugar, Senhores, eu não sou um filósofo, não sou um estudante de filosofia. Penso que aquele que seja apenas estudante de filosofia está já morto. Mas vivi com toda o gênero de pessoas, e fui criado, como talvez saibam, para levar a cabo uma certa função, um certo cargo. Mais uma vez, isso significa “explorador”. E era também o dirigente de uma enorme organização em todo o mundo, para fins espirituais; e vi a falácia disso, porque não se pode conduzir os homens à verdade. Só se pode torná-los inteligentes através da educação, o que nada tem a ver com sacerdotes e os seus meios de exploração – as cerimônias. Portanto dissolvi essa organização; e, vivendo com as pessoas, e não tendo uma idéia fixa sobre a vida, ou uma mente limitada por um determinado contexto tradicional, comecei a descobrir o que, para mim, é a verdade: verdade para toda a gente – uma vida que se pode viver saudavelmente, sensatamente, humanamente, não baseada na exploração, mas nas necessidades. Sei o que preciso, e que não é muito, portanto quer trabalhe para elas escavando um jardim, ou falando, ou escrevendo, isso não é de muita importância.

Em primeiro lugar, para descobrir qualquer coisa, tem que haver um grande descontentamento, um grande questionamento, infelicidade; e muito poucas pessoas no mundo, quando estão descontentes, desejam acentuar esse descontentamento, desejam passar por ele para descobrir. Geralmente as pessoas querem o oposto. Se estão descontentes, querem felicidade, ao passo que, por mim – se me permitem ser pessoal – eu não queria o oposto, eu queria descobrir; e assim gradualmente através de vários questionamentos e através de um atrito contínuo, cheguei a compreender isso a que se chama a verdade ou Deus. Espero ter respondido à pergunta.

Autor: Krishnamurti - Auckland, Nova Zelândia 6 de abril, 1934

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

No amor não há perda de energia.

Interlocutor: É possível para um homem e uma mulher viver juntos, ter sexo e filhos, sem toda agitação, a amargura e o conflito inerentes a essa relação? É possível que haja liberdade de ambas as partes? Por liberdade não quero dizer que o marido ou a esposa devam ter constantemente aventuras amorosas com alguma outra pessoa. Em geral, as pessoas se unem e se casam porque se enamoram, e nisso há opção, prazer, afã possessivo e um instinto tremendo. A natureza mesma desse namoro está cheia, desde o início, com as sementes do conflito.

Krishnamurti: É assim? Necessita ser desse modo? Coloco muita dúvida nisso. Você não pode se enamorar sem ter uma relação possessiva? Amo a uma mulher, ela me ama e nos casamos; tudo isso é perfeitamente claro e sensato, não contém conflito algum. (Quando digo que nos casamos poderia dizer igualmente que decidimos viver juntos; não fiquemos presos nas palavras). Por acaso não é possível ter o um sem o outro, sem necessariamente ficar colado, por assim dizer? Não podem duas pessoas estar enamoradas e ser ambas tão inteligentes e sensíveis como para que haja liberdade e ausência de um centro gerador de conflito? No sentimento de estar enamorado não há conflito. Esse sentimento carece por completo de conflito. E no amor não há perda de energia. A perda de energia está em tudo que segue: ciúmes, afã possessivo, suspeitas, dúvidas, medo de perder esse amor, a constante exigência de garantia e segurança. Por certo, deve ser possível funcionar numa relação sexual com alguém a quem você ama, sem o peso que acompanha geralmente essas relações. Desde já digo que é possível. 

Krishnamurti - Encontro com a vida

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Krishnamurti fala sobre seu sentimento de amor por todos

P: "Você não ama algumas pessoas mais que outras?, perguntei-lhe. Afinal, mesmo uma pessoa como você tem de ter suas preferências sentimentais.

Krishnamurti tinha a voz tranqüila quando recomeçou a falar. “Para responder satisfatoriamente à sua pergunta, tenho antes de aludir a um ponto. Do contrário, você não poderá aceitar o que lhe vou dizer no espírito em que lhe é apresentado. Quero que saiba que estas palestras são tão importantes para mim quanto talvez o sejam para você. Não lhe falo simplesmente para satisfazer à curiosidade de um autor que está escrevendo sobre mim ou para auxiliá-lo pessoalmente. Falo principalmente para esclarecer muitas dúvidas para mim mesmo. Considero esta uma das grandes vantagens da conversação. Não pense, pois, que eu jamais diga alguma coisa na qual não creia de todo o coração. Não estou tentando impressioná-lo, convencê-lo, ou ensinar-lhe algo. Ainda que você fosse meu mais antigo amigo ou meu irmão, falaria de igual maneira. Digo tudo isto por desejar que você aceite minhas palavras como simples exposição de minhas opiniões e não como tentativas de convertê-lo ou persuadi-lo. Você acaba de interrogar-me sobe meu amor pessoal, e minha resposta é que já não conheço isto. Para mim, o amor pessoal não existe. Considero o amor um constante estado interior. Não me importa que esteja agora com você, com meu irmão ou com alguém inteiramente estranho – tenho o mesmo sentimento de afeição para com todos. Há quem pense, às vezes, seja eu superficial e frio, ser meu amor negativo e não bastante forte para concentrar-se numa só pessoa. Não é indiferença, mas simplesmente um estado de amor constante dentro de mim e que não posso impedir-me de dar a todos com quem entro em contato”. Parou durante um segundo, sem saber se eu acreditava nele, e depois disse: “Várias pessoas ficaram escandalizadas com minha maneira recente de agir depois da morte da Sra. Besant. Não chorei, não me mostrei triste, porém sereno; continuei a minha vida habitual e disseram que eu era despido de todo sentimento humano. Como poderia fazê-las compreender que, dedicando meu amor a todos, nunca me sentiria afetado pelo desaparecimento de um indivíduo, mesmo que se tratasse da Sra. Besant? O sofrimento já não atinge aquele para quem o amor se tornou a base de todo o ser”.

P: Mas deve haver pessoas na sua vida que nada signifiquem para você ou de quem até desgoste?

Krishnamurti sorriu: “Não há ninguém de quem eu desgoste. Não percebe que não sou eu que dirijo meu amor para uma pessoa, fortalecendo-o aqui, enfraquecendo-o ali? O amor está simplesmente aí como a cor de minha pele, o som de minha voz, faça eu o que fizer... Tem, portanto, de achar-se aí mesmo quando estou rodeado de indivíduos que não conheço ou de pessoas que nada “deveriam” significar para mim. Às vezes sou forçado a estar no meio de gente barulhenta, que não conheço; num comício, numa conferência, ou talvez numa sala de espera de alguma estação, onde a atmosfera está cheia de barulho, de fumo, de cheiro de tabaco e de várias outras coisas que me afetam fisicamente. Mesmo nessas ocasiões meu sentimento de amor a todos é tão forte quanto o é sob este céu, neste lindo local. Pensam muitos que sou presunçoso quando lhes digo que a dor e a tristeza e até a morte não me atingem. Não é presunção. O amor que me torna assim é tão natural que fico sempre surpreendido quando me interrogam sobre ele. E não sinto esta unidade apenas com os seres humanos. Sinto-a com as árvores, com o mar, com o mundo todo ao redor de mim. As diferenciações físicas já não existem para mim. Não falo de imagens poéticas, falo da realidade.”

Do livro de Rom Landau - God is my Adventure
Testo postado no Facebook por:
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