terça-feira, 12 de novembro de 2013

Um olhar sobre nossas relações - I

É possível haver algum relacionamento entre nós quando usamos a nós mesmos para nossa satisfação mútua? Quando você usa outra pessoa para seu conforto, como usa um móvel, você está se relacionando com aquela pessoa? Você está se relacionando com o móvel? Você pode chamá-lo de seu e isso é tudo; mas você não tem um relacionamento com ele. De modo semelhante, quando você usa outra pessoa em seu proveito psicológico ou físico, geralmente chama essa pessoa de sua, você a possui; e a posse é relacionamento? O Estado usa o indivíduo e o chama de seu cidadão; mas ele não tem relacionamento com o indivíduo. Ele simplesmente o usa, como uma ferramenta. Uma ferramente é uma coisa morta, e não pode haver relacionamento com aquilo que está morto. Quando usamos o homem com um propósito, ainda que nobre, nós o queremos com um instrumento, uma coisa morta. Não podemos usar uma coisa viva, então nossa demanda é por coisas mortas. O uso de outro torna aquela pessoa o instrumento morto de nossa satisfação. O relacionamento pode existir apenas entre os vivos, e o uso é um processo de isolamento. É esse processo de isolamento que gera conflito, antagonismo entre o homem e o homem.

(...)
A existência é relacionamento; existir é estar relacionado. Relacionamento é sociedade. A estrutura de nossa sociedade atual, por se basear no uso mútuo, produz violência, destruição e infelicidade; e se o suposto Estado revolucionário não alterar os fundamentos desse uso, só poderá produzir, talvez um nível diferente, ainda mais conflito, confusão e antagonismo. Enquanto precisarmos psicologicamente um dos outros, e nos usarmos não poderá haver relacionamento. Relacionamento é comunhão; e como poderá haver comunhão se houver exploração? Exploração envolve medo — e o medo, inevitavelmente, leva a todo tipo de ilusões e infelicidade. O conflito só existe na exploração, e não no relacionamento. O conflito, a oposição e a inimizade existem entre nós quando há o uso de outro como um meio de prazer, de realização. Esse conflito, obviamente, não pode ser resolvido pelo uso dele mesmo como um meio para uma meta autoprojetada; e todos os ideais, todas as utopias, são autoprojetados. perceber isso é essencial, pois assim conseguiremos experienciar a verdade de que o conflito em qualquer forma destrói o relacionamento, o entendimento. Só há entendimento quando a mente está silenciosa; e a mente não está silenciosa quando está presa a uma ideologia, dogma ou crença ou quando está associada ao padrão da própria experiência, de suas lembranças. A mente não está silenciosa quando ela é disciplinada, controlada e verificada; essa mente é uma mente morta, está se isolando por meio de várias formas de resistência, criando assim, inevitavelmente, infelicidade para si mesma e para os outros.

A mente só está silenciosa quando não está presa em pensamentos, que é a rede da própria atividade. Quando a mente está quieta, não tornada quieta, um fator verdadeiro, o amor, toma forma.

  Jiddu Krishnamurti

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