Ajustamento implica que me comparo com outrem, medindo o que sou ou penso que deveria ser, em comparação com o herói, o santo, etc. Onde há ajustamento, há necessariamente comparação. Descubra se você é capaz de viver sem comparação, que dizer, sem ajustamento. Desde a infância, somos condicionados para comparar – “Seja como seu irmão, como sua tia-avó”, “Seja igual ao santo”, “Siga Mao”. Na educação, comparamos: nas escolas damos notas ao alunos e os submetemos a exames. Não sabemos o que significa viver sem comparar e sem competir e, portanto, não agressivamente, não violentamente. Comparar-se com outro é uma forma de agressão e uma forma de violência. Violência não é só matar ou espancar alguém; é também espírito comparativo: “Preciso ser igual a fulano”, ou “Preciso aperfeiçoar-me”. O aperfeiçoamento próprio é a verdadeira antítese da liberdade e do aprender. Descubra por si mesmo um maneira de viver sem comparação, e verá acontecer uma coisa maravilhosa. Se realmente se tornar vigilante, sem nenhuma escolha, verá o que significa viver sem comparação, e nunca mais pronunciará as palavras “Eu serei”.
Somos escravos do verbo “ser”, que implica: “Serei no futuro uma pessoa importante.” A comparação e o ajustamento andam sempre juntos; nada criam senão repressão, conflito, interminável sofrer. Importa, pois, descobrir uma maneira de viver em cada dia, sem nenhuma comparação. Faça-o e verá como isso é maravilhoso, como lhe liberta de tantas das suas cargas. Desse percebimento nasce uma mente sobremodo sensível e, portanto, disciplinada – que está constantemente aprendendo, não o que deseja aprender ou o que lhe dá gosto e satisfação aprender: aprendendo. Tornar-se consciente do condicionamento interior causado pela autoridade, pelo ajustamento a um padrão, pela tradição e a propaganda, pelos ditos de outras pessoas, e pela experiência acumulada, sua própria e da raça e da família. Tudo isso se tornou autoridade. Onde há autoridade, a mente não será jamais livre para descobrir o que cumpre descobrir: uma realidade eterna, inteiramente nova.
Krishnamurti