domingo, 17 de fevereiro de 2013

Alguém pode saber o que é bom para o povo?


Todo partido político sabe, ou acha que sabe,  o que é bom para o povo. Mas o que é verdadeiramente bom não criará antagonismo, seja neste país ou fora dele; trará unidade entre homem e homem;  o que é verdadeiramente bom se concentrará na totalidade do homem, e não em algum beneficio superficial que só pode levar a maiores calamidades e infelicidades; colocará um fim na divisão e na inimizade gerados pelo nacionalismo e pelas religiões organizadas. E o que é bom pode ser encontrado com tanta facilidade?

“Se tivermos de levar em consideração todas as implicações do que é bom, não chegaremos a lugar algum; não poderemos agir. Necessidades imediatas exigem ações imediatas, embora tais ações possam trazer confusão marginal”, replicou o político. “Simplesmente não temos tempo de ponderar, filosofar. Alguns de nós estão ocupados do começo da manhã até a tarde da noite, e não podemos sentar para considerar o total significado de toda e qualquer ação que precisamos tomar. Literalmente, não  podemos arcar com o prazer da ponderação profunda e, portanto, deixaremos este prazer a outros.”

"Senhor parece que o senhor sugere", disse um dos homens que até agora estava em silêncio, "que, antes que executemos o que presumimos ser uma boa ação, deveríamos examinar completamente o significado de tal ato, já que, mesmo aparentemente benéfico, pode produzir maior infelicidade no futuro. Mas é possível ter tamanha perspicácia sobre nossas próprias ações? No momento da ação, talvez pensemos que temos essa perspicácia, porém, talvez mais tarde, venhamos a descobrir nossa falta de visão."

No momento da ação, mostramo-nos entusiasmados, impetuosos, somos arrebatados por uma idéia ou pela personalidade e a chama de um líder. Todos os lideres, desde o tirano mais brutal ao mais religioso dos políticos, afirmam que estão agindo pelo bem da humanidade, mas todos conduzem à sepultura; ainda assim, sucumbimos à sua influência e os seguimos. Senhor, nunca foi influenciado por um líder assim? Talvez ele já não esteja vivo, mas o senhor ainda pensa e age de acordo com as sanções, fórmulas e o padrão de vida dele; ou talvez influenciado por um líder mas recente. Assim, passamos de um líder a outro, abandonando-os sempre que nos convém  ou quando surge um melhor, com mais promessas de fazer o “bem”. Em nosso entusiasmo, arrebanhamos outras pessoas para a teia de nossas convicções, e muitas vezes elas permanecem nessa teia de nossas convicções, e muitas vezes elas permanecem nessa teia até mesmo quando já passamos a outros líderes  e outras convicções. Contudo, o que é bom é livre de influência, coerção e conveniência, e qualquer ação que não seja boa nesse sentido, inevitavelmente, gerará confusão e infelicidade.

“Acho que todos podemos admitir culpa de sucumbir à influência de um líder, direta ou indiretamente”, aquiesceu aquele que falara por último, “mas nosso problema é este: percebemos que recebemos muitos benefícios da sociedade e damos pouquíssimo em troca, e ao vermos tanta infelicidade, por todo lado, sentimos que temos uma responsabilidade para com a sociedade e que temos de fazer algo para aliviar esse sofrimento interminável. Contudo, a maioria de nós se sente bastante perdida, e por isso segue alguém de personalidade forte. Sua vida dedicada, a evidente sinceridade, os pensamentos e as ações vitais nos influenciam fortemente, e nos tornamos seus seguidores de várias maneiras; sob sua influência, logo estamos envolvidos na ação, seja pela libertação do país ou pela melhoria das condições sociais. A aceitação da autoridade está enraizada em nós e dessa aceitação da autoridade flui a ação. O que você diz é tão contrário a tudo a que estamos acostumados que não deixa qualquer parâmetro a partir do qual ponderar e agir. Espero que você perceba nossa dificuldade.

Certamente, senhor, que qualquer ação baseada na autoridade de um livro, independentemente do quão sagrado, ou na autoridade de uma pessoa, independentemente do quão nobre e santa, é uma ação irrefletida que, de qualquer forma, trará confusão e dor. Neste  país e em outros, o líder extrai sua autoridade da interpretação dos chamados livros sagrados, que cita exaustivamente, das próprias experiências, que são condicionados pelo passado, ou de sua vida austera, também baseada no padrão da tradição dos santos. Portanto, a vida do líder é determinada pela autoridade, assim como a vida do seguidor; ambos são escravos do livro e da experiência ou conhecimento de outro. Com essa bagagem, vocês desejam refazer o mundo. Isso é possível? Ou o senhor dever descartar toda essa perspectiva autoritária e hierárquica da vida e abordar os muitos problemas com uma mente nova e curiosa? Viver e agir não são coisas separadas, mas um processo interligado, unitário. Entretanto, agora, vocês os separaram, não foi? Vocês consideram a vida cotidiana, com seus pensamentos e ações, diferente da ação que mudará o mundo.

"Novamente, é verdade", continuou o último interlocutor. "Mas como nos livraremos desse jugo de autoridade e tradição, que aceitamos voluntária e alegremente desde a infância? Ele é parte de nossa tradição imemorial, e  agora vem você dizer que deixemos tudo de lado e que só podemos contar conosco. Pelo que ouvi e li, você diz que o próprio Atman  não tem permanência. Você pode ver, portanto, por que estamos confusos".

Será que vocês jamais questionaram o modo autoritário de existência? O próprio questionamento da autoridade é seu fim. Não há qualquer método ou sistema por meio do qual a mente possa libertar-se da autoridade e da tradição; se houvesse, então o sistema se tornaria o elemento dominante.

Por que aceitam a autoridade, no sentido mais profundo da palavra? Assim como o guru, vocês aceitam a autoridade para ter segurança, certeza, para serem confortados, para vencerem, para alcançarem a outra margem. Vocês e o gurus são devotos do sucesso; ambos são movidos por ambição. Onde há ambição, não amor; e ação sem amor não tem significado algum.

"Intelectualmente, compreendo que o que você diz é verdade, mas internamente, emocionalmente, não sinto autenticidade nessas palavras."

Não existe compreensão intelectual; ou compreendemos, ou não. Dividirmo-nos em compartimentos herméticos é outro de nossos absurdos. Melhor é admitir para nós mesmos que não compreendemos, afirmar que existe uma compreensão intelectual só gera arrogância e conflito autoimposto.


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