[...] QUE É INTELIGÊNCIA? A maioria das pessoas se satisfaz com uma definição do que é a inteligência. Ou dizem: "Esta é uma boa explicação”, ou preferem sua explicação própria, pessoal. Mas a mente que se satisfaz com explicações é muito superficial e, por conseguinte, ininteligente. Começastes a ver que a mente inteligente não é aquela que se satisfaz com explicações, com conclusões; não é, tampouco, a que crê, porque crença é, também, outra forma de conclusão. A mente inteligente é aquela que investiga, que observa, aprende, estuda. E isso significa o quê? Que só há inteligência quando não há medo, quando estais disposto a rebelar-vos contra toda a estrutura social, a fim de descobrir o que é Deus, descobrir a verdade relativa a qualquer coisa.
Inteligência não é sapiência. Se pudésseis ler todos os livros do mundo, isso não vos daria inteligência. A inteligência é coisa muito sutil; ela não tem ancoradouro. Surge quando compreendeis o processo total da mente — não a mente segundo certo filósofo ou professor, mas vossa própria mente. Vossa mente é o resultado da comunidade inteira e, quando a compreendeis, não necessitais de estudar um só livro, porque ela contém todo o conhecimento do passado. A inteligência, pois, surge com a compreensão de vós mesmo; e só podeis compreender-vos em relação com o mundo das pessoas, das coisas, e das idéias, inteligência não é coisa adquirível, como a sapiência; ela surge quando há uma grande revolta, isto é, quando não há medo; e isso significa: quando há sentimento de amor, pois, quando não há medo, há amor.
Se só estais interessado em explicações, receio que ireis achar que não respondi à vossa pergunta. Perguntar o que é inteligência é coisa semelhante a perguntar o que é a vida. A vida é estudo e recreação, sexo, trabalho, disputa, inveja, ambição, amor, beleza, verdade; a vida é tudo, não é? Mas, vede, os mais de nós não temos paciência para prosseguir, séria e constante-mente, nesta investigação.
Krishnamurti em, A cultura e o problema humano