terça-feira, 23 de outubro de 2012

O conhecido e o desconhecido


Pode aquilo que é incomensurável ser encontrado por mim e você? Pode aquilo que não é temporal ser buscado por aquilo que é formado pelo tempo? Pode uma disciplina diligentemente praticada nos levar até o desconhecido? Pode essa realidade ser captada pela rede de nossos desejos? O que podemos captar é a projeção do conhecido; mas o desconhecido não pode ser captado pelo conhecido. Aquilo que é nomeado não é o inominável, e ao nomear nós apenas despertamos as reações condicionadas. Essas reações, por mais nobres e agradáveis, não pertencem ao real. Nós reagimos a estímulos, mas a realidade não oferece estímulos: ela é.

A mente se move do conhecido para o desconhecido, e ela não pode alcançar o desconhecido. Nós não podemos pensar em algo que não conhecemos; é impossível. Aquilo sobre o que você pensa resulta do conhecido, do passado, quer seja esse passado remoto ou o segundo que acabou de passar. Esse passado é pensamento, moldado e condicionado por muitas influências, modificando-se segundo as circunstâncias e pressões, mas sempre permanecendo como um processo do tempo. O pensamento só consegue negar ou afirmar, ele não pode descobrir ou pesquisar o novo. O pensamento não pode chegar ao novo; mas quando do pensamento está silencioso, aí pode haver o novo — que é imediatamente transformado no velho, no experienciado, pelo pensamento. O pensamento está sempre moldando, modificando e colorindo segundo um padrão de experiência. A função do pensamento é se comunicar, mas não estar no estado de experienciar. Quando a experiência cessa, o pensamento assume o controle e a denomina dentro da categoria do conhecido. O pensamento não pode penetrar no desconhecido e, assim, nunca pode descobrir ou experienciar a realidade.

Disciplina, renúncia, desapego, rituais, a prática da virtude — tudo isso, independentemente do quão nobre seja, é um processo do pensamento; e o pensamento só pode trabalhar em direção a um fim, em direção a uma realização, que é sempre o conhecido a realização é segurança, a certeza auto-protetora do conhecido. Buscar segurança naquilo que é sem nome é negá-lo. A segurança que pode ser encontrada está somente na projeção do passado, do conhecido.  Por esse motivo, a mente deve estar profunda e inteiramente silenciosa; mas esse silêncio não pode ser conseguido por meio do sacrifício, sublimação ou repressão. Esse silêncio vem quando a mente deixou de buscar, quando não está mais presa ao processo de se tornar. Esse silêncio não é cumulativo, não pode ser construído pela prática. Ele deve ser tão desconhecido para a mente quanto o eterno; pois se a mente experiência o silêncio, então existe o experienciador, que é o resultado de experiências passadas, que é conhecedor de um silêncio passado; e o que é experienciado pelo experienciador é simplesmente uma repetição projetada. A mente jamais pode experienciar o novo e, portanto, deve estar inteiramente silenciosa.

A mente só pode estar silenciosa quando não está experienciando, isto é, quando não está nomeando ou denominando, registrando ou armazenando na memória. Essa nomeação e esse registro são um processo constante dos diferentes níveis da consciência, não simplesmente da camada mais superficial da mente. Mas quando a mente superficial está silenciosa, a mente mais profunda pode oferecer suas sugestões. Só quando toda a consciência está silenciosa e tranqüila, livre de todo o anseio de tornar-se, o que é espontaneidade, o incomensurável toma forma. O desejo de manter essa liberdade dá continuidade à memória daquele que quer se tornar, o que é um obstáculo à realidade. A realidade não tem continuidade; é de momento a momento, sempre nova, sempre original. O que tem continuidade jamais pode ser criativo.

A camada mais superficial da mente é somente um instrumento de comunicação, não podendo medir aquilo que é incomensurável. A realidade não é para ser comentada; e quando o é, não é mais realidade.

Isso é meditação.

Krishnamurti 

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